Sem rastreabilidade, Estado queima medicamentos e dinheiro

Por Jackson Campos

Os medicamentos de alto custo para tratamento de doenças raras são de extrema importância para a rede pública de saúde. Essas doenças, por serem raras, afetam um número reduzido de pessoas e muitas vezes demandam um tratamento específico e custoso.

Garantir o acesso a estes medicamentos é dever do Estado, e por isso, é fundamental que haja política pública específica destinada a esses medicamentos, com controle e fiscalização adequados para garantir a distribuição correta desses produtos e a promoção da saúde para a população em geral.

Mas o que temos visto nos últimos tempos é a falta de preparo dos gestores para que todo esse ecossistema funcione, que o medicamento chegue para quem precisa, em tempo hábil e da maneira correta. Muitas vezes o erro já começa no armazenamento, seguido por problemas de logística e transporte até que o medicamento tenha sua validade encerrada e precise ser incinerado.

Medicamentos tem uma vida útil mais curta e demandam cuidados específicos e para isso é preciso seguir as boas práticas de armazenamento. O espaço deve ter temperatura e umidade controlada, seguindo à risca, as regras dos órgãos reguladores, como a Anvisa. Precisa ser limpo, organizado e com os medicamentos separados por categoria, com registro de estoque e validade para garantir sua eficácia, além claro, de um sistema de controle de entrada e saída de medicamentos para evitar desvios e garantir que os pacientes recebam os medicamentos necessários.

Caso contrário, pacientes deixarão de ser beneficiados e continuaremos a ver muitos medicamentos serem descartados e incinerados. Outro ponto que destaco para evitar esse gargalo é usar a tecnologia a nosso favor registrando todas as informações importantes sobre o medicamento ao longo de seu trajeto, garantindo a sua segurança e eficácia, além da validade e último local de passagem.

Esse processo se tornou uma exigência legal no Brasil com a publicação da Lei nº 11.903, em 2009, que determinou a criação do Sistema Nacional de Controle de Medicamentos (SNCM), que é um sistema integrado que permite a rastreabilidade de medicamentos em todo o país e tem como objetivo prevenir a falsificação, o desvio e o contrabando de medicamentos e que trará benefícios significativos para a saúde pública e para os pacientes.

Porém, a implantação do SNCM no Brasil já deveria ter sido concluída, contudo, o Senado aprovou a sua prorrogação até 2025 e até o momento estão sendo incluídos nesse sistema os medicamentos de uso humano que contêm substâncias sujeitas a controle especial, como os medicamentos controlados, os anabolizantes e os psicotrópicos. Mas, quando implementada de maneira integral, será um passo importante para o segmento.

Destaco também que a rastreabilidade é capaz de identificar quais os medicamentos mais utilizados e os que apresentam maiores índices de desperdício ou desvios. Isso permitirá que os gestores e as autoridades possam tomar medidas para reduzir o desperdício e direcionar os recursos de forma mais eficiente. Unindo a rastreabilidade com sistemas estatísticos e de inteligência será um passo importante para evitar a compra de produtos sem que haja demanda e com isso, o descarte de medicamentos será cada vez menos comum.

Mas, enquanto isso não acontece e os medicamentos vão se aproximando da validade, uma das formas de evitar que grandes quantidades de remédios sejam incineradas é por meio da doação desses remédios. Existem instituições e programas que recebem doações de medicamentos não utilizados e ainda dentro do prazo de validade, para distribuí-los à população carente. Para isso, também é preciso que haja controle e no mínimo, esforço humano para acompanhar, catalogar e distribuir esses insumos.

Mas, se chegarmos ao ponto de deixar os medicamentos vencerem, é preciso realizar o descarte correto desses medicamentos, seguindo as orientações dos órgãos de saúde, para que sejam eliminados de forma segura e controlada, sem prejudicar o meio ambiente.

Por fim, só podemos torcer para que o Estado invista em tecnologia e possa se contar com os benefícios da rastreabilidade, sistemas estatísticos e de inteligência para contribuir não apenas para o desenvolvimento de novas terapias e tratamentos, mas também para evitar desperdício de saúde e de dinheiro.


*Jackson Campos é Diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo, autor do livro Venda por telefone sem precisar visitar: Um guia para serviços de comércio exterior.

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.

Importante: A Medicina S/A usa cookies para personalizar conteúdo e anúncios, para melhorar sua experiência em nosso site. Ao continuar, você aceitará o uso. Veja nossa Política de Privacidade.