Vacina contra doenças pneumocócicas para pessoas com 60 anos
As mortes causadas por doenças pneumocócicas contabilizam 1,6 milhão de óbitos anualmente, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em função da maior fragilidade natural do sistema imunológico, a partir dos 60 anos os indivíduos têm maior predisposição para contrair doenças infecciosas – no Brasil, as infecções do trato respiratório, como a pneumonia pneumocócica, são a quarta causa de internação hospitalar e de morte em adultos dessa faixa etária.
Ao analisar informações sobre óbitos de pessoas entre 60 e 74 anos residentes no estado de São Paulo, observou-se que 62,5% do total foi relacionado a causas de mortes consideradas evitáveis, dentre o qual destacam-se as doenças do aparelho respiratório, especialmente a pneumonia, com um risco aproximadamente duas vezes maior para os homens.
É considerando esse cenário que a Conitec – Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias acaba de abrir uma Consulta Pública para ouvir a sociedade sobre a decisão de expansão ou não da gratuidade da vacina pneumocócica 23-valente para todos os indivíduos a partir dos 60 anos de idade. O parecer inicial da Conitec foi desfavorável à expansão. Atualmente, a vacina está disponível pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) apenas nos cerca de 50 Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs) espalhados pelo país. O público atual contempla apenas pessoas com doenças crônicas (como diabetes, problemas cardíacos e distúrbios renais), imunodeprimidos (como pessoas que vivem com HIV, pacientes com câncer e transplantados) e residentes em instituições de longa permanência para idosos.
“A imunização é fundamental para a redução de hospitalizações e óbitos em todos os grupos e faixas etárias, mas principalmente entre os idosos, já que o avanço da idade também está associado ao desenvolvimento de outras doenças. A recuperação de uma pneumonia já pode ser difícil; se o indivíduo apresentar doenças crônicas, a situação pode se agravar ainda mais”, comenta o infectologista e pediatra, Renato Kfouri.
Além dos impactos de saúde, as doenças pneumocócicas – como as infecções pulmonares (pneumonia), sanguíneas (bacteremia), do cérebro e da medula espinhal (meningite) – têm impacto humano, social e econômico substanciais. Dados de 2015 mostram que, naquele ano, foram mais de 242 mil internações e cerca de 43 mil óbitos de adultos com idade a partir de 60 anos por pneumonia, representando um custo de R$ 267 milhões em internações hospitalares registradas pelo SUS. Dentre os que se recuperaram, perda de produtividade e custos associados a cuidadores ou tratamento de sequelas tornam a carga da doença ainda mais custosa.
“Com o aumento da expectativa de vida da população, estima-se que, em poucos anos, teremos mais idosos do que crianças no Brasil. Nesse cenário, as políticas de prevenção se tornam ainda mais importantes”, complementa Kfouri.
Segundo a diretora médica regional para América Latina da MSD e autora de estudos sobre o assunto, Thais Moreira, a falta de conhecimento da população e a pouca cultura médica de indicar vacinas aos adultos são fatores que dificultam a adesão à imunização, tornando o controle das doenças pneumocócicas ainda mais difícil. “Promover o acesso gratuito da população idosa à vacina pneumocócica é crucial para reverter esse cenário”, afirma a médica.
A Consulta Pública da Conitec recebe contribuições até dia 25/04. Para participar, é preciso seguir dois passos:
- Entre no site do Governo Federal www.gov.br e faça o seu cadastro ou login;
- Depois de fazer o login, entre neste link para dar a sua opinião. Somente com o login realizado no www.gov.br os campos da consulta pública são abertos para edição.
Após a análise de todas as contribuições, a Conitec emitirá um parecer final, aprovando ou não a ampliação da vacina pneumocócica 23-valente para pessoas a partir dos 60 anos pelo Programa Nacional de Imunizações.