Anfarmag registra expansão do setor de farmácias de manipulação
Em uma edição especial, a Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), entidade responsável pelas farmácias de manipulação do Brasil, divulga o Panorama Setorial 2021, com dados nacionais e regionais do segmento. O documento traz, profundas análises sobre o desempenho dos estabelecimentos e empresas do setor nos últimos cinco anos: de 2016 a 2020. A publicação contempla, portanto, o primeiro ano de uma crise sanitária sem precedentes pela qual o país e o mundo ainda passam.
O balanço foi produzido pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) para a Anfarmag, com dados da Receita Federal e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os números permitem considerações importantes sobre a alta resiliência à crise, manutenção dos empregos e expansão do negócio em um ano crítico, dentro desse contexto de aumento da demanda no país pelos serviços de saúde essenciais, como é o caso das farmácias de manipulação.
O presidente do Conselho de Administração da Anfarmag, Adolfo Moacir Cabral Filho, reforça a importância do Panorama Setorial Anfarmag. “Mais uma vez, a radiografia evidencia a essencialidade do segmento na provisão de serviços de saúde, colocada em destaque diante da crise sanitária mundial. Profissionais de saúde se aprofundam cada vez mais em uma abordagem individualizada para os tratamentos. Pacientes se empoderam com o acesso à tecnologia e informação ágil e todas as projeções sobre o futuro da saúde indicam a intensificação da busca por soluções personalizadas – o que está na essência da farmácia de manipulação”, diz.
Marco Fiaschetti, diretor executivo da Associação, reitera a necessidade de lançar esse relatório especial, divulgado, até então, bianualmente. “A Anfarmag entende que o Panorama Setorial 2021 é valioso para as farmácias de manipulação, já que estas informações auxiliam os empresários a tomarem decisões estratégicas em seus negócios. Comparando os números dos últimos cinco anos, conseguimos entender o passado e projetar o futuro”.
Covid-19
Apesar da edição anterior do Panorama Setorial Anfarmag ter sido publicada em meio ao primeiro ano da pandemia de Covid-19, trazia poucos dados sobre o impacto da pandemia nas farmácias apenas até julho de 2020.quando o Brasil ainda não havia sentido os impactos da primeira crise global do século XXI. Cabral, explica que àquela altura, era possível fazer reflexões e suposições, mas não havia dados oficiais disponíveis para entender como as farmácias de manipulação vinham sendo afetadas. “Os dados do Panorama Setorial 2021 complementam alguns achados da pesquisa ‘Impacto da Pandemia nos Negócios Magistrais’ – composta por uma série de levantamentos realizados pela Anfarmag de março a dezembro de 2020, por meio do questionário online com empresários para medir, mês a mês, a ‘temperatura do setor’”.
Conforme os resultados, o mês mais difícil para o segmento foi abril, quando 63% dos empresários relataram uma redução no volume de fórmulas vendidas. Houve, entretanto, uma rápida reação de maio em diante, quando passaram a relatar a ascensão desse indicador. O melhor mês foi o de julho, quando 75% apontaram aumento no volume de venda, seguido por flutuações em agosto e setembro. A pesquisa também apontou que a maioria dos negócios do setor farmácias de manipulação manteve estável o quadro de funcionários ao longo de todo esse período.
Fiaschetti complementa citando o aumento das atividades das farmácias de manipulação ao longo de todo o período, com picos que acompanharam os momentos de alta da doença. Especialmente, pela busca da população por vitaminas e suplementos.
O executivo completa dizendo que se, nos dois primeiros meses dos levantamentos, a “queda de vendas e do faturamento” dividia espaço com “disponibilidade e preço dos insumos” na disputa pelo posto de principal desafio enfrentado pelo setor, este último fator rapidamente se tornou predominante, batendo o maior índice de queixas, superando a marca de 68% em dezembro.
Faturamento
Outra boa notícia para o setor de farmácias de manipulação diz respeito ao faturamento estimado, que em 2020 atingiu R$ 8,3 bilhões. Com isso, esses empreendimentos levaram a um valor adicionado à economia do Brasil (PIB) de R$ 4,37 bilhões e contribuíram com R$ 591 milhões em tributos para o país.
Marco Fiaschetti explica que isso significa que o segmento teve um acréscimo de mais de R$ 1 bilhão em sua receita em comparação com o ano anterior em valores corrigidos pela inflação, o que representa uma margem de crescimento relativo de 14,1%. “Esse dado é extremamente relevante quando comparado ao desempenho da economia nacional: segundo o IBGE, a evolução do PIB Brasil no mesmo período foi de apenas 0,55%”, ressalta.
O balanço também é positivo quando se verifica o histórico de cinco anos. A receita do setor evoluiu 22,9% entre 2016 e 2020, enquanto o PIB brasileiro cresceu apenas 1,5% no mesmo período. “De forma geral, em valores corrigidos pelo IPCA, todas as regiões apresentaram um progresso positivo acima da inflação em relação ao rendimento. A maior contribuição para o faturamento do setor é dada pelas empresas do Sudeste (60,8%), onde também se concentra a maior parte dos estabelecimentos. Ao longo dos últimos anos, o dividendo da região avançou 21,1% acima da inflação”, destaca o executivo.
Tributação das farmácias de manipulação
Em 2020, a arrecadação tributária do setor de farmácias de manipulação ficou em R$ 591,0 milhões. Desse total, o INSS (Previdência Social) respondeu por 37,3% do total de tributos recolhidos neste grupo de consumo. Esse dado reforça o peso e a importância do fator humano dentro das farmácias, que são estabelecimentos fortemente dependentes da atuação de mão de obra qualificada. “Essa evidência se traduz em um ponto de atenção para o segmento, pois um fator crítico para o equilíbrio financeiro das farmácias de manipulação é, sem qualquer dúvida, o gasto com folha salarial”, avalia Adolfo Cabral Filho.
Essa é uma característica própria de um setor prestador de serviços, o que se reflete também nos demais impostos recolhidos. As farmácias de manipulação pagaram aos cofres públicos R$ 149,1 milhões em ISSQN (imposto sobre serviços) e R$ 90,8 milhões vieram de ICMS (imposto sobre a comercialização de mercadorias). “Em relação ao regime tributário, o Simples Nacional lidera a opção das empresas que atuam no segmento, sendo que esses negócios somam 46,7% do total de impostos arrecadados, enquanto o restante da arrecadação está distribuído entre optantes pelo Lucro Real ou Lucro Presumido”, completa o presidente.
Novos negócios
No decorrer de 2020, quando o país foi bastante afetado pela pandemia da Covid-19 em todas as áreas e segmentos, o setor das farmácias de manipulação se destacou com a abertura de novos estabelecimentos. A quantidade de unidades com CNAE primário do comércio varejista de produtos farmacêuticos com manipulação de fórmulas totalizou 8.159 estabelecimentos em dezembro de 2020, com evolução desde 2016 de 11,8% no saldo de lojas. A ampliação no número de farmácias ficou positivo em 2,8% na comparação entre 2020 e 2019. O índice é inferior à variação de 2018 para 2019, quando houve aumento de 5,2%, mas merece destaque diante do momento excepcional e desafiador vivido em todo o mundo.
Fiaschetti explica que a região sudeste teve avanço relativo em 2020 de 2,0%, após 3,8% em 2019. “A variação do número de estabelecimentos entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2020 mostra que São Paulo finalizou o período com 34 novas farmácias, o que corresponde ao maior saldo de novos negócios por estado brasileiro.”.
O saldo de novas farmácias do país foi de 220 negócios, com 286 aberturas e 66 baixas. Por isso, o índice representa 2,8%, o que se torna um valor ainda mais representativo, diante da grave crise provocada pela pandemia. Em 2019, o crescimento líquido havia sido de 394, enquanto 2018 apresentou um saldo de 53 novos negócios, contra 196 de 2017. “É importante ressaltar que a variação apresentada se refere apenas ao saldo remanescente entre a abertura de novos estabelecimentos e CNPJ no mesmo ano. Assim, não contempla negócios abertos e encerrados no mesmo ano.” esclarece o executivo.
Nesse contexto, apesar de ter apresentado o menor número de novos CNPJ da série histórica, em 2020 também se observou o índice mais baixo de encerramento de CNPJ do setor. Assim, mesmo com um número inferior de novas empresas, quando comparado aos anos anteriores, 2020 também teve um baixo índice de fechamento de CNPJ. Concluiu-se, enfim, que, nesses últimos doze meses estudados, o segmento de farmácias de manipulação teve o segundo maior crescimento anual da série analisada (desde 2016).
Aumento de emprego
A área de farmácias de manipulação se diferenciou das demais categorias com reforço expressivo no mercado de trabalho. Ao longo do ano de 2020, o setor de contribuiu com a geração de 1.508 empregos novos com carteira assinada. Para se ter uma ideia do que isso representa, no mesmo período, foram perdidos um total de 558,6 mil empregos formais no Brasil, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. Assim, enquanto o Brasil perdia vagas, o segmento absorvia novos profissionais. Ao todo, esta divisão emprega em regime de CLT mais de 59 mil profissionais.
Marco Fiaschetti ressalta que as cinco regiões brasileiras apresentaram saldo positivo da variação da empregabilidade em 2020 quando comparadas a 2019. “O Sudeste gerou 30,2% do total de novas vagas celetistas em 2020, enquanto o Sul criou 32,3% e o Nordeste, 11,1%. As regiões Norte e Centro-oeste criaram juntas 397 empregos celetistas.” Nos últimos cinco anos, foram criados 6.687 postos de trabalho pelas farmácias de manipulação do país. Quando se olha para o crescimento relativo por região a empregabilidade do segmento na região Sudeste registrou aumento de 11,8%.
Um dado que chama a atenção nesta edição especial do Panorama Setorial Anfarmag, é a qualificação dos colaboradores das farmácias, que está claramente em ascensão. Enquanto houve redução de grupos com menor escolaridade, pode-se observar o crescimento da participação dos profissionais com nível superior, mestrado e doutorado. Marco Fiaschetti complementa que a crescente qualificação está relacionada ao nível de especialização requerida pelo setor. “Além de especialistas com formação específica para trabalhar nos laboratórios das farmácias, bem como no acolhimento, atendimento e orientação de pacientes, essas empresas contam com a presença obrigatória de farmacêuticos, que estão à frente da gestão de todos os processos relacionados à obtenção do medicamento e do produto manipulado.”
A massa salarial do segmento de farmácias de manipulação em 2020 ficou em R$ 1,74 bilhão, tendo crescido 28% acima da inflação nos últimos cinco anos. O valor se refere aos gastos com salários (folha mensal e 13º salário). Desse montante, 61,3% (R$ 1,06 bilhão) estão concentrados na região Sudeste. Analisando-se ano a ano a variação na massa salarial, nota-se o crescimento contínuo nacional, sendo que, no período mais recentemente apurado (2020), o crescimento na folha de pagamento do setor se destacou, com índice de 14,3%. Essa adição é extremamente relevante, mesmo quando comparado à evolução apurada nos anteriores, com índices de 2,9% (2017); 3,9% (2018); e 4,6% (2019).
Outro dado que chama a atenção neste panorama é a evolução do salário médio. O setor vem incrementando anualmente a remuneração oferecida. Mesmo em 2020, quando havia alto grau de incerteza em toda a economia quanto à manutenção de empregos, o segmento conseguiu de manter bons resultados. O colaborador da farmácia de manipulação brasileira obteve ganho real de 11,1% entre 2016 e 2020. “Entre as regiões, a que teve maior crescimento relativo salarial foi o Centro-oeste, com 12,6% de incremento. Em relação ao valor nominal da remuneração, o Sul é a região que oferece os salários mais elevados”, elucida Marco Fiaschetti.