O futuro da telemedicina pós-Covid-19

Por Gustavo Marui

Atualmente, tem se falado muito sobre telemedicina em decorrência da pandemia de Covid-19. A maioria das pessoas acredita que se trata de uma tecnologia ou nova modalidade da medicina, mas devemos esclarecer que se trata de um método no qual o profissional do setor continua seguindo com sua responsabilidade, cuidado e ética no atendimento.

Seu surgimento se deu oficialmente no fim dos anos 1960, nos Estados Unidos, quando o Hospital Geral de Massachusetts foi conectado ao aeroporto da cidade de Boston, com o objetivo de atender a qualquer emergência que ocorresse por lá. O hospital, assim, receberia informações básicas de um indivíduo que tivesse com um problema grave no aeroporto e precisasse ser levado de ambulância. Esse foi um marco importante na história da telemedicina, tendo desencadeado tantos outros no futuro.

Mesmo antes desse período, durante a Segunda Guerra Mundial, o rádio foi utilizado para conectar médicos que se localizavam nas estações costeiras aos que estavam nos hospitais de retaguarda para buscar apoio. Via-se, então, as primeiras manifestações desse tipo de serviço. Com o passar dos anos, a assistência aos astronautas que estavam em órbita também foi feita pela telemedicina, com base em informações como sinais e ritmo respiratórios, pressão arterial, eletrocardiogramas e temperatura.

No Brasil, a novidade desembarcou em 1985, como uma disciplina do curso de informática médica, da Faculdade de Medicina da USP. Entretanto, foi só em 1990 que uma empresa privada passou a fazer diagnósticos de eletrocardiograma por fax. Esse se tornou o marco da telemedicina no País, que mostrou ser viável a realização de laudos a distância. Em 2002, foi criado o Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde, trazendo ainda mais força e credibilidade ao setor.

Mas mesmo com a regulamentação do Conselho Federal de Medicina (CFM) o cenário era incerto. A situação passou a mudar a partir da resolução 1.643 de 2002, que definiu as boas práticas da telemedicina, como deveria ser a conduta do profissional e quais recursos poderiam ser usados. Ao longo dos anos, o texto sofreu diversas alterações, como a inclusão de consultas à distância. Em fevereiro de 2019, a medida foi revogada por conta da pressão de conselhos de médicos.

Com o avanço da pandemia, entretanto, o cenário mudou. Em 19 de março deste ano, o CFM liberou, a partir da Portaria nº 467 do Ministério da Saúde, o uso de tecnologia para realização de teleconsulta, telemonitoramento e teleorientação, já que a necessidade era a de distanciamento social. Foi então que a telemedicina teve um crescimento exponencial.

Ter a possibilidade de atender aos pacientes de forma remota, sem o perigo de expô-los à contaminação em uma sala de espera de consultório ou hospital, ou prestar serviço aos moradores de locais distantes e sem acesso aos melhores recursos da medicina, ajudou a popularizar a prática entre os médicos. Isso permitiu que os atendimentos de casos de suspeita mais graves de Covid-19 fossem priorizados no presencial, e os atendimentos por outras causas e de menor complexidade e emergência fossem realizados e solucionados de forma remota, efetiva e mais rápida.

Uma das principais vantagens da telemedicina é a ampliação da área de atendimento, permitindo que pacientes de regiões onde a disponibilidade de especialistas é limitada sejam beneficiados com o atendimento remoto.

Outra mudança está no relacionamento entre médico e paciente. Com o uso da tecnologia o contato passou a ser facilitado, e é esperado um aumento na adesão do paciente ao tratamento prescrito, já que ele se sente mais seguro e acompanhado.

Além disso, a telemedicina tem ajudado na triagem inicial dos sintomas, o que afeta diretamente o número de visitas a clínicas e hospitais, que acabam diminuindo. Se o caso não for grave e não exigir a ida do paciente ao hospital, o médico poderá fazer a indicação do tratamento e a prescrição da medicação necessária de forma remota e segura.

A troca de experiências entre os profissionais médicos, chamada 2ª opinião, também tem sido facilitada com o auxílio da telemedicina. Ao dividir experiências, os médicos melhoram o prognóstico, aumentando o grau de recuperação de seus pacientes.

Mas nem tudo são flores. Um dos pontos críticos para a democratização da telemedicina está nas restrições tecnológicas. Para que seu uso seja bem-sucedido é necessário um dispositivo móvel, ou celular, com requisitos mínimos e uma boa conexão com a internet. No entanto, nem todo mundo tem à disposição uma conexão de banda larga de qualidade. Ainda, digitalizar um consultório é tarefa que demanda certo empenho, pois além de adotar tecnologia, é preciso treinar a equipe e estruturar novos processos. Esse passo tem sido um pouco mais desafiador, mas temos que acreditar na evolução e que a tecnologia, desde que de fácil uso, tanto para os profissionais de saúde quanto pacientes, permita um atendimento de conduta segura e responsável.

Com os avanços da tecnologia e a necessidade de se ter um melhor atendimento, principalmente em regiões menos favorecidas, acredito que a telemedicina veio para ficar. Ela será responsável por uma revolução silenciosa na área da saúde, levando um serviço de qualidade a quem realmente precisa. Em especial no pós-pandemia, a expectativa é que esse formato apresente aos pacientes outras ferramentas para modernizar as consultas – a exemplo da oximetria, da medição do pulso, da frequência cardíaca e até da temperatura, que podem ser aferidos de forma remota e, com o auxílio de análises de dados baseados em evidências e históricos correlacionados, vão trazer o apoio à decisão clínica e sugestões de melhor coordenação do cuidado do paciente. Será questão de tempo para que as primeiras manifestações cheguem ao nosso conhecimento e impactem nossa relação com os profissionais da saúde.

Desde a 2ª guerra mundial, são 74 anos que a telemedicina vem se modernizando e se revelando necessária a cada década de nossa história, e hoje, mais do que nunca, tornou-se uma aliada indispensável para ajudar nessa guerra contra o novo Coronavírus, minimizando os impactos da importância do isolamento e melhorando a experiência e a qualidade dos atendimentos médicos no Brasil e no mundo.


*Gustavo Marui é Arquiteto de Soluções em saúde da Logicalis.

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