Os riscos das notícias falsas sobre saúde

Por Raphael Trotta

Mentiras, invenções, boatos ou falácias. Essas são palavras características atreladas ao já conhecido termo fake news, ou, em bom português, notícias falsas, que são difundidas principalmente pelas redes sociais. Nos últimos anos, é possível perceber o crescimento da disseminação de conteúdos enganosos, inclusive sobre questões de saúde. Isso é preocupante porque pode comprometer diretamente a vida das pessoas.

A propagação de notícias falsas na saúde ganhou ainda mais amplitude com a pandemia da Covid-19, seja ela por indicações de procedimentos milagrosos para eliminar a doença, pela promoção de medicamentos sem eficácia comprovada, ou por recomendações de comportamentos que são mais prejudiciais do que benéficos.

A comunidade de mobilização on-line Avaaz selecionou 9 afirmações sobre o novo coronavírus e as apresentou aos entrevistados, sendo que duas estavam corretas e sete continham conteúdos falsos. A pesquisa revela que 94% dos brasileiros entrevistados tiveram acesso a pelo menos uma notícia falsa sobre o novo coronavírus.

O levantamento mostra um outro dado preocupante: sete em cada 10 brasileiros acreditaram em pelo menos um conteúdo falso sobre a pandemia.

O WhatsApp aparece como a principal rede social na distribuição de fake news. Especificamente nessa rede, 59% das pessoas viram, no mínimo, uma declaração enganosa sobre a doença.

É notório que em situações de medo e incerteza, as pessoas, fragilizadas pelo contexto, tendem a acreditar em conteúdo que ofereça conforto, segurança, sentimento de alívio e de esperança. Todavia, os efeitos de tais notícias – sem comprovação científica – podem levar a escolhas e decisões nocivas à saúde, com danos graves ou, até mesmo, irreversíveis.

Em anos passados, por exemplo, foram disseminadas informações de que vacinas contra sarampo, febre amarela, poliomielite e gripe continham composições químicas prejudiciais, causando danos à saúde de quem era vacinado. Em função disso, os órgãos públicos responsáveis pela área de saúde relataram considerável diminuição no número de pessoas imunizadas, situação perigosa em épocas de surtos e epidemias.

O combate às fake news na saúde é um grande desafio que a sociedade tem pela frente. Lutar contra essa “pandemia de mentiras” passa a ser um dever de cada pessoa. Começa por cuidados simples, como checar o endereço de uma página na internet, antes de compartilhar uma notícia. Outros dados a serem conferidos são a reputação do veículo, a citação de dados científicos e a data de publicação.

Há ainda a opção de averiguar se a notícia é idônea, pelo canal do Ministério da Saúde, criado em 2018. Nele, pode-se enviar mensagens com o conteúdo recebido ao número disponibilizado pelo órgão, que irá verificar se a informação é verdadeira ou não. Simples procedimentos como esses já contribuem para reduzir significativamente a disseminação de fake news.

Outra estratégia para garantir a confiabilidade da notícia é acessar os meios digitais de médicos especializados. Sites, blogs ou redes sociais dos profissionais contêm dados cientificamente validados pela comunidade médica e são fontes sérias e fidedignas. Em caso de dúvidas, a pessoa pode, ainda, entrar em contato com o profissional e esclarecer incertezas, com a garantia de que a informação vem de origem crível.

Como a saúde tem sido, sem dúvida, uma das áreas que mais sofrem com fake news, principalmente neste período de pandemia, torna-se fundamental conferir a veracidade da informação antes de compartilhar. Do contrário, a pessoa estará ajudando a causar dúvidas e conflitos e gerando ansiedade e medo nas pessoas. Todos temos direito a escolhas e opiniões, mas é imprescindível que isto se faça com base em fontes confiáveis.


*Raphael Trotta é médico oftalmologista e CEO do iMedicina.

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