Exame de sangue detecta Parkinson antes dos sintomas
Um novo exame de sangue, desenvolvido por cientistas da Universidade Hebraica de Jerusalém e do Imperial College London, promete transformar o diagnóstico da doença de Parkinson. O exame permite a detecção da doença antes do aparecimento dos primeiros sintomas.
O estudo, publicado na revista Nature Aging, revelou que a análise de duas moléculas de RNA — uma que se acumula nos pacientes e outra que diminui com a progressão da doença — permite identificar sinais da condição em estágio inicial com 86% de precisão. Essa descoberta possibilita a detecção do biomarcador da doença antes mesmo do aparecimento dos primeiros sintomas motores, como tremores e rigidez muscular.
Para quantificar essas moléculas, os cientistas utilizaram a mesma tecnologia do PCR, usada durante a pandemia para confirmar casos de covid, que permite amplificar pequenas sequências genéticas. O método é considerado simples, rápido e barato e pode ser usado em diferentes contextos de atendimento médico.
A pesquisa analisou amostras de sangue, fluido espinhal e tecidos cerebrais de pacientes diagnosticados com a doença. Em seguida, os resultados foram comparados com amostras de pessoas saudáveis e pacientes com Alzheimer. Verificou-se que aqueles indivíduos com doença de Parkinson apresentavam níveis elevados de um tipo de RNA chamado RGTTCRA-tRFs e níveis reduzidos de outro tipo, os MT-tRFs. Essa diferença estava presente também em pessoas com predisposição genética para a doença, mesmo antes de os sintomas surgirem. Isso indica que o exame poderia identificar a doença antes dos tremores, da rigidez e de outros sintomas motores aparecerem.
A doença de Parkinson é uma doença neurológica progressiva em que as células nervosas do cérebro são perdidas com o passar do tempo. Isso leva à redução da dopamina, substância química que desempenha um papel importante no controle dos movimentos.
“A doença de Parkinson é degenerativa do sistema nervoso central e ocorre pela perda de células nervosas produtoras de dopamina, afetando o controle dos movimentos do corpo. Atualmente, é possível diagnosticá-la com a presença de sintomas e questionários clínicos. Neste cenário, já houve perdas significativas de células cerebrais e isto pode limitar as chances de tratamentos precoces mais eficazes. Porém, com essa nova proposta de exame, isso pode mudar”, destaca Carlos Aschoff, médico geneticista do DB Molecular.
Pesquisas recentes indicam que a incidência da doença de Parkinson no mundo pode aumentar nos próximos anos, chegando a 267 casos em 100 mil pessoas até 2050. Isso significa que os casos praticamente dobrariam no período. Por isso a importância do estudo e um marco na luta contra a doença.
De acordo com a professora Hermona Soreq, da Universidade Hebraica de Jerusalém e supervisora do estudo, “A descoberta representa um grande avanço na nossa compreensão da doença de Parkinson e oferece um exame de sangue simples e minimamente invasivo como ferramenta para o diagnóstico precoce”.
A nova tecnologia está sendo patenteada nos Estados Unidos, e os cientistas esperam que em breve esteja disponível para uso clínico, possibilitando assim diagnósticos mais precisos, tratamentos mais eficazes e melhor qualidade de vida para milhões de pessoas no mundo todo.
“Atualmente, realizar o diagnóstico preciso de doença de Parkinson precocemente é difícil, e os tratamentos existentes ajudam no controle/alívio dos sintomas, porém sem impedir a progressão da doença. Identificar a doença de Parkinson antes dos primeiros sintomas pode abrir caminho para novos tratamentos capazes de retardar seu avanço”, complementa Aschoff.