O estigma social do erro na saúde

Por Ana Lúcia Amorim Boaventura

Os ensinamentos de Platão deveriam ser mais utilizados na Medicina para a busca de soluções em situações adversas. Para o filósofo, o diálogo é o caminho para se atingir o verdadeiro conhecimento da realidade. É através do diálogo que conhecemos outros pontos de vista e nos abrimos a opiniões contrárias que podem nos levar a novos caminhos.

Porém, o erro, por muitas vezes, afasta o diálogo empático e aproxima o julgamento repressor. Na gestão em saúde, assim como na vida, o erro deveria ser visto como uma oportunidade de aprendizagem individual e coletiva.

Na gestão de riscos em saúde, aprender somente com os próprios erros é um processo lento, danoso e de alto custo. Assim, ter liberdade de compartilhar os erros, dentro de um ambiente corporativo de escuta ativa, que estimula raciocínio para qualificar a informação, discutindo os fatores desencadeadores do erro, sem jogá-lo para debaixo do tapete, é postura proativa, em busca de constante melhoria na prestação de serviços médico-hospitalares.

Os erros deveriam ser analisados para que sejam detectadas as causas e realizado para combater às novas ocorrências. Seria uma espécie de pista para a superação de teorias e comportamentos equivocados.

Ocorre que, o erro, no cotidiano, já não de fácil aceitação. No meio médico-hospitalar esse reconhecimento é ainda mais difícil. O fato de que o médico ou qualquer outro serviço hospitalar possa causar danos aos pacientes é bastante negado. Tanto por aqueles que prestam os serviços, quanto pelos pacientes.

O médico e a instituição hospitalar são vistos como fontes confiáveis, detentoras de conhecimento, autoridades naquilo que se propõe a realizar. E de fato, são! Porém, a probabilidade de ocorrer erros não pode ser rechaçada. A incerteza e a falibilidade devem ser, diariamente, consideradas como fatores pertencentes ao atuar do ser humano, ainda que não desejados.

Perdemos quando o erro na saúde sofre estigma social. Nesse contexto, a falha recebe forte desaprovação, marginalização e, porque não dizer, judicialização, com base em preconceitos, longe da racionalidade. A dialética trabalha com as contradições, com os contrastes que levam à consciência (tese, antítese e síntese) e, segundo Platão, é uma ferramenta de educação e, atualmente, deveria ser mais utilizada na governança hospitalar em prol da aceitação e consequente, diminuição do erro.


*Ana Lúcia Amorim Boaventura é advogada, especialista em Direito Médico e da Saúde, professora da faculdade de Medicina da PUC-GOIÁS e membro da Câmara Técnica de Direito Médico do CRM-GO.

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