Impacto socioeconômico da enxaqueca no Brasil soma mais de R$ 800 bilhões
Uma pesquisa realizada pelo Instituto WifOR, especializado em estudos econômicos, avaliou a carga socioeconômica de doenças crônicas de alta prevalência na América Latina. Solicitado pela FIFARMA (Federação Latino-Americana da Indústria Farmacêutica), o estudo aponta que a enxaqueca causa perdas econômicas que representam 304,9 bilhões de dólares nos oito países envolvidos no estudo, que são: Brasil, México, Argentina, Colômbia, Chile, Peru, Equador e Costa Rica. Com prejuízo estimado em 142.9 bilhões de dólares – equivalente a mais de 800 bilhões de reais – o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking por valor total, tendo o dobro do valor perdido em relação ao México, que ocupa o segundo lugar e teve perdas calculados em 71 bilhões de dólares.
Já pela distribuição do impacto per capita, a Argentina ocupa o primeiro lugar com 1.091 dólares em perdas econômicas por pessoa, seguida pela Costa Rica, com 943 dólares, e Chile, com 942 dólares em perdas por pessoa.
A enxaqueca é a segunda causa de incapacidade no mundo entre pessoas de 15 a 49 anos. Entre as mulheres, é a principal causa de incapacidade. Aqueles que vivem com esta condição de saúde perdem, em média, 19,5 dias de trabalho por ano devido ao problema.
No Brasil, estima-se que 31,4 milhões de pessoas sofrem de enxaqueca, sendo 63% mulheres. Desse universo, menos da metade (40%) têm o diagnóstico e estão em tratamento.
De acordo com o estudo que apurou o impacto socioeconômico da enxaqueca, para compensar as perdas econômicas dos últimos cinco anos, cada brasileiro com mais de 15 anos teria que acrescentar, em média, cerca de 4,3 dias de trabalho a mais, em sua vida produtiva. Além das perdas, a pesquisa aponta para o declínio da qualidade de vida das pessoas que sofrem de enxaqueca, afetando também as atividades essenciais não remuneradas, como os cuidados com casa, filhos e lazer.
Ainda segundo o levantamento, a enxaqueca, o diabetes e as doenças cardiovasculares apresentaram as maiores perdas econômicas entre o conjunto de doenças avaliadas na América Latina. Na Argentina, por exemplo, o impacto da enxaqueca neste intervalo foi de cerca de 1,38% do PIB. Na maioria dos países da região, a enxaqueca foi responsável por perdas econômicas de cerca de 1,2% do PIB.
Impacto desproporcional entre os mais pobres
Vários estudos publicados indicam que o risco de sofrer de enxaqueca é maior entre a população pertencente às classes econômicas mais baixas. Portanto, são observados fatores de risco comuns nessas populações, como uma dieta inadequada, um índice de massa corporal elevado, inatividade física, tabagismo e um baixo nível educacional.
Outro aspecto destacado pelo relatório é a carga de doenças no setor informal de trabalho. O estudo indica que a informalidade é muito significativa no mercado de trabalho latino-americano. A taxa de trabalhadores autônomos e/ou não registrados na região varia de 29% no Chile, a mais de 60% em países como Colômbia, Peru e Equador. De acordo com o documento, as perdas de produtividade afetam mais intensamente os trabalhadores informais, que têm mais probabilidade de perder seus empregos e sofrer grandes perdas financeiras devido à falta de remuneração e acesso a fundos de apoio durante o período de ausência. Além disso, a informalidade dificulta o acesso aos programas de apoio ao desemprego.
Desafios e esperança para o futuro
O Dia Internacional de Ação contra a Enxaqueca é celebrado em 12 de setembro, uma importante iniciativa para conscientizar sobre a enxaqueca, seu impacto nas vidas das pessoas e celebrar a contribuição da ciência médica.
Após 35 anos desde a introdução da Classificação Internacional de Transtornos de Cefaleia (ICHD), estamos vivendo a era da segunda grande revolução nas terapias para a enxaqueca. Os avanços abrem uma perspectiva esperançosa para os pacientes, permitindo-lhes encontrar medidas efetivas para o tratamento agudo e preventivo, e podem reduzir a carga relacionada à enxaqueca.
No entanto, o caminho do paciente para o diagnóstico e tratamento adequado continua sendo um desafio, com barreiras clínicas, sociais, econômicas. Com dificuldades de acesso, um paciente pode levar em média de 7 a 10 anos para encontrar a atenção especializada adequada para sua dor de cabeça ou enxaqueca. Alguns dados mostram que metade dos pacientes abandonam o atendimento após 6 meses, e mais de 80% o fazem após um ano.
Para os pesquisadores do Instituto WindfOR, a expectativa é que entender o impacto da doença na sociedade possa levar ao progresso na ação contra a enxaqueca, que deve deixar de ser percebida como um fator de custos, mas sim como um motor de desenvolvimento econômico, de inovação e de uma melhor saúde.
Diante desse cenário, a Pfizer tem se dedicado a inovações que tragam melhorias na vida dos pacientes que vivem com enxaqueca: “A Pfizer está investindo consideravelmente na pesquisa e desenvolvimento de novas terapias para a enxaqueca, colaborando com diferentes instituições e organizações, buscando a opinião dos pacientes e incorporando suas perspectivas e necessidades neste processo, para garantir que as novas terapias abordem as causas fundamentais da enxaqueca e melhorem as vidas dos pacientes”, destaca Adriana Ribeiro, diretora médica da Pfizer Brasil.
Objetivo do estudo
A pedido da FIFARMA, o Instituto alemão WifOR desenvolveu o estudo ‘Impacto socioeconômico das principais doenças em oito países latino-americanos’ com o objetivo de quantificar as perdas econômicas relacionadas às principais doenças de alto impacto na região. Os países incluídos na análise foram Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México e Peru e as doenças abordadas foram patologias cardiovasculares, neoplasias, cardiopatia isquêmica, infecções respiratórias, câncer de mama, diabetes tipo 2 e enxaqueca.
O relatório define o ônus socioeconômico como o grau em que uma doença deteriora a capacidade das pessoas de trabalhar, gerando perdas de produtividade e uma redução do capital humano.
Metodologia
A metodologia vai além do paradigma tradicional na avaliação econômica para abordar as perdas de produtividade. Ela traz uma combinação singular de efeitos na cadeia de valor (análise de entradas e saídas) e conhecimentos sobre economia da saúde. Mede os efeitos diretos, indiretos e de derrame (spillover effects) levando em conta as perdas de capital humano em atividades laborais remuneradas e não remuneradas. O ônus socioeconômico é medido em perdas para o país, e não de acordo com o que o indivíduo gera para si mesmo.