Como a saúde pode contribuir para que a equidade de gênero seja praticada?
Como o mercado da saúde pode contribuir para que a equidade de gênero seja realmente praticada? Esse é um dos propósitos da Medtronic, maior empresa de dispositivos e soluções médicas do mundo, que completa 50 anos no Brasil. Para debater o tema, a Medtronic preparou uma série de eventos com a história de médicas que se destacaram em áreas dominadas pelos homens.
A líder do comitê de igualdade de gênero, diversidade e inclusão da Medtronic, Andrea Gomes, abriu o segundo dia do evento. “Convido todos a refletir sobre como cada um de nós pode contribuir para a construção de um mundo melhor, em que a igualdade de gênero seja real, não só aqui, mas nos ambientes mais desafiadores”, disse a líder na abertura do evento.
A executiva ainda reforçou que, em 2020, a Medtronic conquistou o número de 49% de mulheres em cargos de liderança no Brasil, que em todos os processos de seleção há uma mulher no time das finalistas. Andrea também citou o programa de mentoria em que 70% das vagas são dedicadas às mulheres, para que possam crescer e se desenvolver na empresa. E do projeto Men Advocating for Change – grupo de homens que advogam pela mudança estrutural e contínua no dia a dia da empresa.
As médicas convidadas, protagonistas do evento, deram uma injeção de coragem e determinação. Jovens e experientes, elas relembraram o momento exato em que entenderam que eram as únicas ou minoria em suas respectivas áreas.
A autora do livro “Gestar, Parir, Amar: Não é só começar (2019)”, profissional referência nos temas de equidade, diversidade e consultora da ONG Mulheres, Tayná Leite mediou a celebração. Iniciou a noite com uma pergunta provocativa.
“Certamente é uma experiência que nós todas, em algum momento vivemos, que é se dar conta de que somos mulheres. O que isso significa? É entender que nem tudo acontece da mesma forma para os homens. Às vezes só nos damos conta na trajetória profissional ou quando nos tornamos mãe e, descobrimos que, infelizmente, a sociedade não é um lugar justo e igualitário para as mulheres. Eu queria que cada uma contasse um pouquinho como foi esse momento para vocês?”, refletiu a autora.
Luciana Guimarães, cirurgiã-geral com especialização em vídeo e parede abdominal de Barra Mansa (RJ), deu início ao painel. “O meu objetivo não era ser como um homem. Era ser uma mulher capacitada. Eu queria ser capacitada e não ser aceita”, respondeu a médica.
Grávida de quatro meses, Luciana Feitosa vem de família de ortopedistas e também da área, lembra de ter ouvido bastante a frase “fulano opera como uma bailarina dançando”. Ela associou a delicadeza feminina às cirurgias ortopédicas e projetou isso como realização profissional. O objetivo foi levar a essência feminina para a área da ortopedia. Hoje, ela é membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, da Sociedade brasileira de Coluna, membro da Comissão de Campanhas e representante da Regional do Distrito Federal da Associação das Mulheres Ortopedistas do Brasil (AMOB).
A neurocirurgiã pediátrica do Hospital Santa Marcelina e Sabará, Gisele Coelho Resende, ouviu o seguinte comentário de um professor. “Quem vai fazer a comida para o seu marido?”. Foi uma tentativa de me limitar, lembra a médica “Acredito que a área da neurocirurgia ainda tenha que evoluir nesse sentido”, afirma.
A especialista realmente fez a diferença e será lembrada na história da neurocirurgia pediátrica. Ela desenvolveu o primeiro simulador ultrarrealista de cirurgia em bebês e recebeu o prêmio internacional pela Federação Mundial de Sociedades de Neurocirurgia (WFNS, na sigla em inglês). Também fez a única cirurgia de separação de gêmeas siamesas no Brasil, um procedimento altamente complexo, o qual teve 100% de êxito.
Quem também fez a plateia virtual se emocionar foi Daniela Ponce, médica nefrologista, ao lembrar dos desafios em ter que equilibrar a maternidade com a rotina insana da medicina. “Toda vez que a minha filha me via ela falava tchau, mamãe. Para ela eu estava sempre de saída”, lembra emocionada.
No entanto, ela reforça que não faria nada de diferente e que se orgulha muito da filha e como gerenciou tudo. “Ela entendeu que é a pessoa mais importante da minha vida, mas em vários momentos os pacientes precisavam mais da médica Dra. Daniela Ponce. Hoje ela tem 15 anos, é uma mulher forte e decidida, e me ensina todos os dias”, finaliza.
Questionada sobre o que falaria para as mulheres médicas que estão iniciando a jornada em áreas dominadas por homens, ela é incisiva. “O que você quer ser? Como você quer ser? Seja! Ser médica é apaixonante. Não tenha medo do trabalho difícil. Não permita que ninguém te desanime ou diga que você não é capaz”.
Para Luciana Ferrer, a palavra de ordem é “se posicionem”. A médica alerta para comentários depreciativos que são vistos como “brincadeira”, mas que não tem nada de engraçado e precisam ser cortados.
“Não se deixe abalar pelas crenças limitantes, principalmente as que reduzem a capacidade, que reforcem a impossibilidade de conciliar a vida pessoa com maternidade ou carreira” é o recado de Gisele Coelho, a mais jovem do evento.
Luciana Guimarães finaliza o evento com o recado “Faça tudo com paixão e sem medo”.
*Confira a próxima data e convidadas do Elas na Medicina.