Diabetes avança na América Latina e coloca Brasil no centro da crise de saúde

O diabetes é uma das maiores crises de saúde pública do século XXI e a América Latina, especialmente o Brasil, está no centro dessa epidemia. De acordo com os dados mais recentes do Atlas de Diabetes 2025, o número de adultos vivendo com a condição deve crescer de forma acelerada nas próximas décadas. Em toda a América Central e do Sul, a projeção é de um aumento de 45% nos casos até 2050, saltando de 35,4 milhões de pessoas em 2024 para mais de 51,5 milhões. O Brasil é, de longe, o país mais afetado da região, com números que seguem uma trajetória preocupante, impulsionados pelo envelhecimento populacional, aumento do sedentarismo, crescimento da obesidade e desigualdade no acesso à saúde.

Hoje, estima-se que mais de 16 milhões de brasileiros convivam com o diabetes, em sua maioria do tipo 2, forma da doença associada a fatores genéticos principalmente, combinados com aumento de peso, má alimentação e inatividade física. O mais alarmante, no entanto, é que uma grande parte dessas pessoas desconhece o diagnóstico. O Atlas estima que 43% dos casos da enfermidade no mundo não tenham sido diagnosticados, a imensa maioria deles do tipo 2. Isso significa que milhões de pessoas seguem suas rotinas normalmente, sem saber que estão sob risco elevado de desenvolver complicações graves e até fatais.

Para a endocrinologista Tarissa Petry, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o atraso no diagnóstico segue sendo um dos maiores desafios no combate a diabetes. “O diagnóstico precoce é fundamental. Quanto mais cedo identificamos o diabetes, maiores são as chances de controlar a doença e evitar complicações como infarto, AVC, perda da visão e amputações”, explica a especialista. Segundo ela, a ampliação do acesso a exames simples e de baixo custo, como a dosagem de glicemia e a hemoglobina glicada ou o teste oral de tolerância à glicose, poderia ter um impacto significativo, sobretudo nas populações mais vulneráveis.

O impacto econômico também já é sentido. No Brasil, os gastos diretos com o tratamento superam os R$ 42 bilhões por ano, número que tende a aumentar com o crescimento da população com diabetes. Além do custo com medicamentos, insulina e insumos para monitoramento, o sistema de saúde arca com os efeitos de complicações evitáveis, como doenças cardiovasculares, insuficiência renal e amputações. A mortalidade associada ao diabetes também é elevada: mais de 3,4 milhões de pessoas morreram por causas ligadas à doença no mundo apenas em 2024.

Diabetes gestacional

Outro ponto crítico revelado pelos dados mais recentes é a hiperglicemia na gestação, que já afeta cerca de uma em cada cinco gestações. “A condição, que inclui tanto o diabetes pré-clinica quanto o gestacional, traz riscos sérios para mãe e bebê”. Segundo a endocrinologista, a gravidez é uma oportunidade essencial para identificar alterações metabólicas que muitas vezes estavam presentes antes mesmo da gestação. “O rastreio correto e o acompanhamento adequado podem mudar o rumo da vida dessas mulheres. Com o diagnóstico certo e o cuidado multidisciplinar, é possível evitar complicações e reduzir os riscos para a mãe e o bebê”, afirma a endocrinologista.

Como fica o futuro?

As projeções para o futuro reforçam a urgência de medidas mais eficazes. O mundo deve ultrapassar 850 milhões de pessoas com diabetes até 2050, e o Brasil continuará entre os dez países com maior número de casos. O crescimento acelerado de casos diagnosticados está diretamente ligado ao estilo de vida urbano, caracterizado por dietas ricas em alimentos ultraprocessados, bebidas açucaradas e baixos níveis de atividade física, além de fatores como poluição e estresse crônico. A obesidade infantil também preocupa, já que o diabetes tipo 2 passou a surgir cada vez mais cedo, inclusive entre adolescentes e jovens adultos.

Diante desse cenário, especialistas reforçam que combater a doença exige políticas públicas de prevenção, rastreamento sistemático, programas de educação em saúde e garantia de acesso ao tratamento. O Brasil tem alguns avanços importantes, como a oferta gratuita de insulinas e medicamentos via SUS, mas ainda carece de programas nacionais mais robustos de triagem e acompanhamento. “Não podemos mais tratar o diabetes como uma condição individual. É um problema de saúde pública que exige investimento em prevenção, acesso a medicamentos, equipes multidisciplinares e programas de educação em saúde”, conclui Tarissa Petry.

Reduzir seu impacto nas próximas décadas depende de ação imediata e coordenada entre governos, profissionais de saúde, sociedade civil e a população em geral. A urgência é ainda maior na América Latina, onde o crescimento da doença avança em ritmo acelerado, colocando em risco não apenas vidas, mas também a sustentabilidade dos sistemas de saúde.

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.

Importante: A Medicina S/A usa cookies para personalizar conteúdo e anúncios, para melhorar sua experiência em nosso site. Ao continuar, você aceitará o uso. Veja nossa Política de Privacidade.