Ferramentas de IA podem identificar sinais de demência
A demência é um dos principais desafios de saúde pública global, que impacta significativamente a qualidade de vida dos indivíduos afetados e de suas famílias. A detecção precoce da demência pode melhorar substancialmente os desfechos dos pacientes, permitindo intervenções mais eficazes e planejamento adequado do cuidado. De que forma podemos aprimorar nossa capacidade de identificar e lidar com a demência antes que ela se torne severa?
Nos últimos anos, têm ocorrido avanços relevantes na compreensão da demência e na identificação de seus primeiros sinais. Estudos recentes destacam a importância da vigilância clínica e do uso de ferramentas de triagem para identificar precocemente os sintomas da demência. Por exemplo, técnicas de neuroimagem e biomarcadores têm se mostrado promissoras na detecção precoce, oferecendo a possibilidade de intervenções antes que a doença progrida de maneira expressiva.
Recentes avanços tecnológicos têm facilitado a detecção precoce da demência, por exemplo, por meio de ferramentas de rastreamento cognitivo baseadas em inteligência artificial (IA), que estão surgindo como métodos promissores para identificar sinais iniciais de comprometimento cognitivo. “Um estudo realizado com 160 pacientes com doença de Alzheimer e 24 controles saudáveis, por meio de métodos de análise de séries temporais, indicaram que a IA pode identificar doenças de forma automática e em diferentes estágios de desenvolvimento, permitindo a indicação de tratamentos e cuidados mais específicos para cada caso”, explica a Professora Thais Bento, gerontóloga, docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG) e parceira científica do SUPERA – Ginástica para o Cérebro.
Segundo ela, em determinadas condições, algoritmos de IA são capazes de detectar sintomas que passariam despercebidos para os humanos, conforme demonstrado em diversas pesquisas recentes. Esses avanços tecnológicos têm o potencial de transformar o diagnóstico médico, proporcionando intervenções mais precoces e precisas.
Ela esclarece ainda que os diagnósticos precoces permitem a implementação de intervenções farmacológicas e não farmacológicas que podem retardar a progressão da doença. “As intervenções precoces podem incluir programas de estimulação cognitiva, terapias ocupacionais e suporte psicossocial, que visam retardar a progressão dos sintomas e melhorar a qualidade de vida. Além disso, essa detecção de forma precoce permite que os pacientes e suas famílias se preparem melhor para o futuro, planejando cuidados de longo prazo e tomando decisões importantes sobre o manejo da condição.”
Apesar dos benefícios, a detecção precoce da demência também apresenta desafios. “Há preocupações éticas relacionadas ao diagnóstico precoce, como o impacto psicológico de saber sobre uma condição para a qual ainda não há cura definitiva. Portanto, a comunicação do diagnóstico deve ser feita com sensibilidade, proporcionando suporte psicológico adequado para o paciente e sua família”, explica.
Thais afirma que pesquisas recentes ressaltam a importância de campanhas de conscientização pública para reduzir o estigma associado à demência e encorajar a busca por diagnóstico e tratamento precoces. “A educação sobre os sinais iniciais da demência e a disponibilização de recursos de apoio são passos fundamentais para facilitar a detecção precoce e melhorar os resultados para os pacientes. Com a implementação de intervenções adequadas e o uso de tecnologias avançadas, é possível retardar a progressão da doença e mitigar seus impactos negativos. No entanto, é fundamental abordar os desafios éticos e proporcionar suporte contínuo aos pacientes e suas famílias para maximizar os benefícios dessas intervenções”, conclui.