Como os medicamentos impactam o aumento dos custos na saúde?

Por Rafael Barbosa

Os indicadores econômicos funcionam como uma espécie de termômetro para acompanhar o desempenho dos setores no país, hoje é impensável administrar um setor da economia sem contar com indicadores que orientem os agentes econômicos. Contudo, o setor de saúde ainda em grande medida opera “no escuro”, sem indicadores ou com índices muito genéricos, como IPCA, que pouco ajudam na tomada de decisão do segmento.

Pensando nisso, a Bionexo criou um indicador que pudesse dar mais transparência às práticas de negociação entre fornecedores e instituições de saúde. Desde 2014, temos analisado informações de mais de 30 mil itens com mais relevância para os custos de um hospital, que ajudaram a criar, em 2020, o Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais (IPM-H), desenvolvido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

A cada 1,5 segundo são realizadas transações entre fornecedores e hospitais, e essas informações ficam todas registradas na plataforma. Através de tratamentos estatísticos e computacionais que garantem segurança e confidencialidade, o indicador avalia mensalmente a variação dos preços de medicamentos comprados pelo setor hospitalar e se tornou uma referência mandatória na gestão.

Por exemplo, a despeito de termos uma percepção e diversos mecanismos oficiais e midiáticos reportando o aumento do custo da saúde, nós podemos ver em nosso índice que a variação dos preços de medicamento para o setor nos últimos 12 meses foi de +0,57% vs. +4,14% medido pelo IPCA e +2,45% do IGP-M. Porém, quando olhamos no ano de 2024, o IPM-H indica uma elevação de +3,87% vs. +2,67% do IPCA e +2,45% do IGPM.

Apesar desta diferença dentro de 2024, resultado provavelmente da janela de reajuste oficiais de preços da CEMED que acontece em abril cujo efeito se diluirá ao longo do ano, a tendência de longo prazo tem sido uma inflação consistentemente mais baixa para essa classe de insumos, quando comparado aos índices oficiais conforme aponta o gráfico abaixo.

Segundo publicação da WTW de Abril de 2024, consultoria americana especializada em riscos e dados, o custo da assistência médica deveria aumentar em 16,62% no Brasil neste ano. Passados 06 meses, não sabemos o quanto isso efetivamente se concretizou, mas sabemos que a variação de preços de medicamente tem contribuição modesta para este cenário, dado que variou “somente” +3,87%, conforme gráfico abaixo.

Isso significa, portanto que os custos de saúde não vão bater os dois dígitos de aumento? Não necessariamente, pois custo não é só preço e saúde não é só medicamentos. Podemos, simplificadamente, considerar os elementos que compõe o custo de serviços de saúde como:

  • Custo de mão de obra = (frequência/quantidade) x preço médio da hora + Custo de insumos = (frequência /quantidade) x preço médio

A partir deste olhar, o índice já nos indica que um eventual aumento do custo da saúde, não é fortemente explicado pela variação do preço dos medicamentos ao longo do tempo, mas por outros motivos como:

  1. Aumento na frequência de uso de certas drogas, devido a novos protocolos e/ou nível de severidade médio de internações, este último que tende a ser um tanto homogêneo salvo em casos como a pandemia;
  2. Introdução de novas drogas em protocolos de cuidado, veja que a substituição de um medicamento mais barato por um mais caro não altera índice de inflação, que compara o preço de uma droga hoje contra ela mesmo no passado.
  3. Custo da mão de obra, como foi ano passado longamente discutido sobre o tema de piso da enfermagem, bem como mix de profissionais envolvidos nos cuidados com consequente impacto no preço médio da hora empregada.

Estes pontos acima não são exaustivos e precisariam de investigação mais profunda para se entender a contribuição de cada variante na conta geral da saúde nacional. Adicionalmente, quando se olha a realidade específica de um Hospital ou serviço podem haver variações significativas, por exemplo, medicamentos que compõe o grupo terapêutico “Sistema nervoso” tiveram variação de +9,55% no ano, enquanto o índice geral ficou nos já mencionados +3,87%. Consequentemente, serviços onde há uma proporção maior de uso destes medicamentos poderá estar sendo impactado mais que a média.

Naturalmente, não conseguimos resolver o problema de uma só vez, mas podemos afirmar que a variação de preço de medicamentos não ofendeu o setor no último ano. O porquê disso? Será que é uma condição global, variação de câmbio? Não sabemos no detalhe, mas quero crer que a digitalização dos processos de gestão de suprimentos que temos no Brasil é fundamental para se manter essa variável dentro do controle e sob uma gestão clara e transparente pelos agentes do setor.


*Rafael Barbosa é CEO da Bionexo.

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