O cuidado seguro como estratégia de gestão em saúde
Por Claudia Balbuena Dal Forno
A segurança do paciente é um pilar essencial da assistência qualificada e um indicador de maturidade das instituições de saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde, um em cada 10 pacientes hospitalizados sofre eventos adversos evitáveis — até 80% deles poderiam ser prevenidos —, o que gera perdas globais estimadas em US$ 42 bilhões ao ano.
Reduzir esses danos vai além de uma meta clínica: é uma estratégia de gestão que influencia diretamente a sustentabilidade, a reputação e o desempenho das organizações. A segurança precisa estar incorporada à cultura institucional, refletida nas rotinas e nas atitudes dos profissionais envolvidos no cuidado. Isso exige que o controle dos riscos assistenciais esteja no centro da governança, sustentado por políticas consistentes, liderança engajada, uma cultura organizacional sólida e o uso de tecnologias que apoiem a tomada de decisão.
Instituições que adotam boas práticas baseadas em evidências já colhem resultados concretos. O Hospital de Clínicas de Porto Alegre, por exemplo, reduziu complicações pós-operatórias com o uso de checklists cirúrgicos orientados pelas diretrizes da OMS. Já o Brigham and Women’s Hospital, em Boston, registrou uma redução de 55% nos erros de medicação ao implantar prescrição eletrônica e sistemas de dupla checagem.
Além dos protocolos, a qualificação contínua das equipes é indispensável. No Hospital Israelita Albert Einstein, simulações clínicas realísticas aumentaram em até 60% a adesão a protocolos de segurança em UTIs — demonstrando como o treinamento prático, aliado à liderança engajada, promove mudanças sustentáveis no comportamento profissional.
Indicadores assistenciais também são ferramentas centrais. Como já afirmava William Edwards Deming, “o que não pode ser medido, não pode ser gerenciado”. Taxas de infecção, erros de medicação e notificações de eventos adversos devem compor painéis de controle que orientem decisões estratégicas.
Apesar dos avanços, ainda há desafios a superar, como resistência à mudança, cultura punitiva, alta rotatividade e falhas de comunicação entre áreas. Uma das formas mais eficazes de enfrentá-los é por meio da adoção de uma cultura justa, que equilibre responsabilização e aprendizado. O modelo do NHS, no Reino Unido, é referência nesse sentido: os erros são analisados como oportunidades de melhoria sistêmica e não como falhas individuais.
Na prática, reduzir eventos adversos salva vidas, melhora indicadores operacionais, reduz custos com retrabalho e litígios e fortalece a reputação institucional. Além de atender a exigências regulatórias, investir em segurança é assumir um compromisso com a qualidade — e com as pessoas.
Para os gestores, o desafio é transformar esse compromisso em um princípio de governança. Uma cultura que permeia profissionais, processos e decisões. Porque, em saúde, o cuidado seguro não é uma opção — é a única escolha aceitável.
*Claudia Balbuena Dal Forno é Médica da Promed – Soluções em Saúde.