Instituições se unem para combater superbactérias
Após a implementação do programa de Antimicrobial Stewardship, o Hospital Angelina Caron (HAC) – referência em atendimentos de alta complexidade, localizado na Região Metropolitana de Curitiba – começa a perceber os primeiros resultados positivos. Com números ainda preliminares, o programa teve início na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, onde a prescrição de antibióticos é maior, e deve seguir para outros setores da instituição nos próximos meses. Desenvolvida com apoio da BD, empresa de tecnologia médica, a iniciativa visa promover o uso racional de antibióticos e reduzir infecções, sepse e multirresistência microbiana em ambiente hospitalar.
“Em menos de duas semanas após a implementação, já realizamos 50 intervenções em prescrições de antibióticos na UTI, ou seja, 50 pacientes tiveram o uso de medicamentos otimizado, nas dosagens e durações. O Programa de Stewardship em Antimicrobianos é uma iniciativa alinhada ao planejamento estratégico do hospital, para oferecer continuamente melhorias em saúde aos pacientes e praticar uma medicina segura, alinhada às práticas internacionais de qualidade assistencial”, explica o médico infectologista Ricardo Kosop, coordenador do projeto no HAC.
Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que até 2050, bactérias multirresistentes poderão matar anualmente 10 milhões de pessoas no mundo, número maior que a mortalidade por câncer e doenças cardiovasculares. Ainda de acordo com a OMS, as bactérias resistentes fazem 700 mil vítimas anualmente no mundo.
No Brasil há poucos dados sobre o assunto e cada hospital é responsável por desenvolver seu programa de prevenção e controle de infecções. Contudo, essa é uma tarefa desafiadora, pois demanda o envolvimento de todos os profissionais, incluindo lideranças.
“A resistência microbiana é uma das maiores ameaças no mundo hoje. Até 2050, poderemos voltar a ter infecções intratáveis e, um antibiótico mal-usado faz uma pressão seletiva não apenas na bactéria, vírus ou fungo que causa determinada enfermidade, mas também nos demais microrganismos presentes no indivíduo e na comunidade”, alerta Kosop.
A equipe responsável pelo projeto no Hospital Angelina Caron conta com um médico infectologista, especialista em infecções e drogas usadas, uma farmacêutica clínica, que atua em contato direto com o infectologista fazendo a triagem no hospital e com um laboratório de microbiologia, responsável pelas análises de culturas e diagnósticos.
A implantação completa do programa dura em torno de 12 meses e conta com apoio da BD, que possui tecnologia de ponta para identificação de bactérias dentro de instituições de saúde.
“Por meio desse programa inédito, queremos ajudar as instituições a identificarem e traçarem um perfil das bactérias presentes em cada hospital. A partir daí, é possível oferecer tratamento personalizado para cada pacientes, evitando que doses desnecessárias de medicamentos sejam utilizadas”, Luis Fernando, diretor de Negócios IDS, da BD.
Casos de superbactérias triplicaram na pandemia
No primeiro ano da pandemia, segundo o Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o número de amostras de bactérias resistentes a antibióticos chegou a 2 mil registros. Em 2021, nos dez primeiros meses do ano, o índice ultrapassava 3,7 mil amostras confirmadas. Em 2019, antes da pandemia, foi registrado pouco mais de mil isolados.
A crise sanitária reforçou a preocupação dos especialistas, pois, a disseminação bactérias entre as pessoas que foram hospitalizadas por longos períodos elevou o risco de infecção hospitalar pelo uso exacerbado de antibióticos. Na ocasião, a Anvisa publicou diretrizes para prevenção e controle da disseminação de bactérias resistentes em serviços de saúde no contexto para pandemia.