2020: 50 mil brasileiros deixaram de receber diagnóstico de câncer
Apenas entre março e maio de 2020, estima-se que 50 mil brasileiros não receberam o diagnóstico de câncer, segundo estudo publicado pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale). As datas coincidem com o início da pandemia da Covid-19, que exigiu a reorganização dos serviços de saúde e a priorização de equipamentos, insumos médico-hospitalares e alocação dos profissionais de saúde para prestar assistência aos indivíduos infectados pelo novo coronavírus.
A detecção tardia do câncer pode levar, inclusive, a uma epidemia de tumores em estágio avançado, que são mais difíceis de tratar. “O diagnóstico precoce do câncer faz diferença para qualquer um dos tipos desta doença. Nestes dois últimos anos, muita gente não buscou atendimento médico. Infelizmente, o que estamos vendo agora são pessoas com a doença em estágio mais avançado, limitando, muitas vezes, as opções terapêuticas disponíveis”, explica a mastologista Alice Francisco, dirigente da ONG Maple Tree Brasil.
A verdade é que o mundo não estava – e ainda não está – preparado para uma crise sanitária de grandes proporções. Isto é confirmado pela edição mais recente do Índice Global de Segurança em Saúde, publicada em dezembro de 2021. O documento, um projeto da ONG Nuclear Threat Initiative e do Centro de Segurança em Saúde do Johns Hopkins Center, mostra que 70% dos países têm capacidade insuficiente em seus hospitais, clínicas e centros de saúde.
No Brasil, o sistema de saúde logo ficou sobrecarregado. “Houve interrupções expressivas nos serviços destinados ao diagnóstico, tratamento e reabilitação dos demais pacientes, incluindo aqueles com câncer”, cita o estudo da Abrale.
De acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade, o câncer é considerado a segunda principal causa de morte no país desde 2013. Dois anos depois, tornou-se a causa primária de óbito em 10% dos municípios brasileiros.