Entidades médicas reagem ao pronunciamento de Jair Bolsonaro

Diversas entidades médicas, científicas e de enfermagem reagiram negativamente ao pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, na noite de ontem (24), em rede nacional. O tom usado por Bolsonaro para falar do enfrentamento ao Covid-19 deixou entidades e lideranças políticas perplexas e preocupadas com o andamento da política que poderá ser adotada no País.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, contestou hoje a posição do presidente brasileiro que insistiu em minimizar o coronavírus e chegou a classifica-lo como uma “gripezinha” e “histeria”.

Muitos governadores também criticaram o pronunciamento e já falam na possibilidade de impeachment. Todos temem a saída ou demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem sido bem avaliado em sua atuação no combate ao Covid-19. De acordo com o Ministério da Saúde, até o momento 57 pessoas morreram vítimas da doença e mais de 2,4 mil foram infectadas.

Confira abaixo a nota de cinco entidades médicas sobre o pronunciamento de Jair Bolsonaro.


Associação Paulista de Medicina (APM)

Se a intenção foi acalmar, a reação da sociedade mostra que ele não alcançou seus objetivos. Você não traz esperança minimizando o problema, mas reforçando as soluções. Existe um perigo próximo, evidente, real e gravíssimo. Enfrentá-lo é prioritário. Todos nos preocupamos com o impacto do isolamento social na economia, particularmente o impacto da recessão sobre a saúde. Também isso não deve ser minimizado. Mas que não se deixe a preocupação com o futuro inviabilizar o presente.

José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM


Associação de Medicina Intensiva Brasileira – AMIB

A pandemia de COVID-19 é uma realidade mundial com mais de 400 mil casos no mundo e quase 19 mil óbitos. No momento, o Brasil está em fase de franca ascensão no número de casos em todos os seus estados. A Associação de Medicina Intensiva Brasileira, que representa os profissionais intensivistas que estão na beira de leito na assistência dos casos graves de coronavírus, vem a público manifestar sua preocupação com relação à dificuldade de atendimento a esses pacientes.

Em nosso país, os leitos de UTI são insuficientes para a demanda de uma pandemia e, ainda mais preocupante, apresentam-se distribuídos de forma irregular, deixando grande parte da população nacional sem a menor chance de ter acesso à assistência devida. A única alternativa para EVITAR O COLAPSO DO SISTEMA HOSPITALAR, possibilitando a assistência para quem dela necessitar, é o ISOLAMENTO SOCIAL e esta é a nossa recomendação para este momento. Leia a nota completa, clicando aqui.

Diretoria Executiva e Conselho Consultivo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira – AMIB


Associação Brasileira de Climatério – SOBRAC

A Associação Brasileira de Climatério – SOBRAC vem a público reiterar a importância de que as determinações de afastamento social temporário emanadas pelas autoridades de saúde sejam observadas fielmente.

Evidentemente sempre há preocupação com eventuais impactos socioeconômicos que tais medidas possam gerar. Contudo, até o momento, o afastamento social está entre as medidas mais eficientes no combate à propagação do COVID-19, de acordo, inclusive, com autoridades de saúde internacionais.

A SOBRAC se preocupa em especial, pois se dedica ao estudo de população que pode se enquadrar com maior frequência nos grupos de maior risco para a doença e, portanto, reitera a importância de observar todas as determinações de saúde de nossas autoridades.

Nas próximas semanas, talvez seja possível ter a real dimensão que tomará a pandemia no País. Somente então se poderá decidir por manter o afastamento social mais ou menos rigoroso.”

Luciano de Melo Pompei, presidente da Sobrac


SOGESP – Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo

Neste momento de incertezas e inseguranças que tomam conta das sociedades brasileira e mundial, a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo – SOGESP vê com extrema preocupação o pronunciamento do senhor presidente Jair Bolsonaro, na noite de ontem, 24 de março.

Claro que sempre existe preocupação com eventuais impactos socioeconômicos do isolamento social, mas vidas humanas têm de ser prioridade sempre.

O isolamento é uma das medidas mais eficientes para combater a propagação de COVID-19 até o presente momento. Desta forma, a SOGESP reitera a importância de se seguir as determinações das autoridades de saúde, no sentido de se evitar ao máximo os contatos sociais.

Diretoria SOGESP


Sociedade Brasileira de Hipertensão

A Sociedade Brasileira de Hipertensão entende que o momento é crítico, e prudência e resguardo são as medidas mais acertadas para tentar conter a disseminação da COVID-19. Em todo o mundo, os países que demoraram em tomar essas medidas têm sofrido maior número de casos e fatalidades.

Entendemos que o ineditismo da situação leva a uma grande insegurança das pessoas e trás um forte impacto na vida pessoal e profissional, mas sem essas medidas o impacto poderá ser muito maior. Este também é um momento de aprendizado e resiliência.

Reforçamos nossa compreensão de que o distanciamento social é muito importante, pois protegerá a todos, independentemente da idade e condições de co-morbidade apresentadas. As medidas individuais de proteção e higiene são fundamentais na tentativa de diminuir o contágio.

As ações do Ministério da Saúde têm sido muito apropriadas e cautelosas, e a conscientização da população deve passar pela clareza das informações e dados. Nesse momento “Ficar em casa” é a recomendação mais prudente, pois considerando as dimensões continentais do nosso país, é muito difícil contemplar a todos, ao mesmo tempo, com todas as avaliações possíveis, no que diz respeito à chegada das informações e contabilização dos casos.

Temos que ter a consciência de que apesar de todos os esforços científicos, ainda desconhecemos o vírus, e a única forma de diminuir o impacto na saúde, é o distanciamento das pessoas. Não devemos minimizar essa doença, não a conhecemos como gostaríamos e não temos tratamento comprovado para combatê-la, por isso, as medidas tomadas até agora devem ser mantidas, e no tempo certo, após reavaliação do impacto, essas mesmas medidas também poderão ser reavaliadas.

Frida Liane Plavnik, Presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão

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