A reconexão com a vida no ambiente hospitalar
Por Murillo Pedrosa
Organizações como os Doutores da Alegria já entenderam, há décadas, o poder transformador da arte no ambiente hospitalar. Através da palhaçaria, eles levam sorrisos, alívio e um respiro de leveza para pacientes e familiares. Mas o que isso representa na prática? Ações como essa entregam mais do que entretenimento. É a possibilidade de, por alguns minutos, esquecer a dor, a incerteza e o medo. É a chance de se reconectar com a alegria, mesmo em meio a situações delicadas, como estar internado ou acompanhando um ente querido.
A arte, em suas diversas formas, tem o poder de curar. Seja através da música, do teatro, da pintura ou da dança, ela oferece um escape criativo e emocional. Para pacientes, pode ser uma forma de expressar sentimentos que palavras não conseguem capturar. Para familiares, pode ser um momento de descontração e alívio em meio à tensão. E, para ambos, é uma lembrança de que a vida não se resume à doença. E esse pensamento é fundamental, pois ser diagnosticado com algo grave, por exemplo, é um momento que pode obrigar pacientes e acompanhantes a longos períodos de internação. Períodos em que a dimensão humana, muitas vezes, corre o risco de ficar esquecida ao longo dos corredores nos hospitais, o cuidado com o dia a dia, com a mente, com a alma e com a continuidade da vida, enquanto essas pessoas internadas aguardam pelo próximo procedimento, a próxima consulta, mais uma dose de medicação…
Nesses intervalos, o tédio, a ansiedade e o medo nascem. Para os familiares, a situação não é diferente. Muitas vezes, eles se veem divididos entre a preocupação com o ente querido e a necessidade de manter suas próprias rotinas. É aqui que entra uma pergunta crucial: como podemos preencher esses dias com significado, com atividades que tragam não apenas distração, mas também crescimento, conexão, mais humanização e propósito?
O ambiente hospitalar pode ser um vetor para isso, um espaço de aprendizado e desenvolvimento pessoal. Imagine um paciente que durante seu tratamento tem a oportunidade de participar de algum tipo de atividade educativa. Elas não apenas preencheriam o tempo, mas também ofereceriam um senso de propósito e continuidade da vida mesmo em meio a uma rotina difícil. Um exemplo prático? O xadrez pode ser um deles, uma vez que sendo uma atividade que estimula o raciocínio lógico e a concentração, além de ser uma excelente forma de interação social, poderia ter um espaço físico ou digital para sua prática em um hospital. E alguma aula de história, transportando para outros tempos e lugares, oferecendo uma fuga mental do ambiente hospitalar? Por que não um curso técnico em internações mais longas? Uma oportunidade, inclusive, para empresas que tenham programas de investimentos sociais e políticas voltadas para desenvolvimento humano e ações de qualidade de vida, e que possam contribuir para pensarmos na saúde de forma mais holística. Afinal, a medicina cura o corpo, mas são pequenas ações, como uma risada, um bate-papo, uma conversa, a troca de conhecimento, a interação com as pessoas que curam a alma.
*Murillo Pedrosa é Managing Director da FCB Health Brasil.