Exames de diagnóstico genético: benefícios e tecnologias
Os exames de diagnóstico genético analisam o DNA em busca de variações associadas a doenças hereditárias, desempenhando um papel fundamental na elucidação da causa de sinais e sintomas apresentados pelo paciente. Portanto, esses testes têm a capacidade de confirmar suspeitas quando os sintomas já estão presentes. Além disso, em famílias com histórico de condições hereditárias conhecidas, os exames de diagnóstico genético podem auxiliar na adoção de medidas para reduzir o risco de desenvolver a condição e orientar o planejamento familiar.
Os exames genéticos estão ganhando crescente utilização no diagnóstico de doenças raras e cânceres hereditários, encontrando aplicação em diversas áreas da medicina, incluindo Neurologia, Cardiologia, Dermatologia, Endocrinologia, Gastroenterologia, Ginecologia, Genética Médica e Oncologia. A seleção do exame genético apropriado depende da doença genética em questão, levando em consideração o gene associado e o tipo específico de alteração genética responsável pelos sinais e sintomas apresentados.
Nos últimos anos, temos testemunhado uma série de inovações e avanços tecnológicos no campo do diagnóstico genético, resultando em diagnósticos mais ágeis, acessíveis e precisos para os pacientes. A seguir, destaco algumas das principais tecnologias utilizadas no diagnóstico genético:
Sequenciamento de Sanger
O sequenciamento Sanger é mais indicado para análise de certas regiões complexas do DNA, por permitir identificar variantes genéticas em sequências mais longas de DNA, sem a necessidade de uma etapa computacional de reconstrução dos trechos sequenciados.
O diagnóstico da Hiperplasia Adrenal Congênita (CAH) é um bom exemplo do uso deste tipo de sequenciamento. Essa doença é resultante da deficiência da enzima 21-hidroxilase e leva à produção excessiva de hormônios andrógenos (masculinos), podendo causar o desenvolvimento de genitália ambígua em pessoas do sexo feminino, além de puberdade precoce em ambos os sexos.
Sequenciamento de Nova Geração (NGS)
Já o Sequenciamento de Nova Geração é uma tecnologia de sequenciamento de DNA automatizado, paralelo e de alto rendimento. O NGS é capaz de sequenciar milhares de genes simultaneamente em larga escala e identificar alterações relacionadas a quadros clínicos.
O sequenciamento do Exoma é um tipo de exame que utiliza NGS e que analisa simultaneamente quase todos os éxons do genoma humano. Ele pode ser indicado quando mais de um gene pode estar associado a uma doença.. O Exoma pode ser usado para diagnóstico de Deficiência Intelectual de causa genética, por exemplo.
Sequenciamento de Nanopore
A tecnologia Nanopore é a terceira geração da técnica de sequenciamento de DNA que aumenta em milhões de vezes a capacidade de análise do genoma humano e reduz o custo e o tempo de análise. O Nanopore analisa fragmentos longos (long-reads) de DNA através de nanoporos, o que permite a identificação de certas variantes estruturais e variantes em sequências repetitivas do genoma com mais precisão.
Esse tipo de metodologia foi utilizada em pesquisas revolucionárias, como no sequenciamento do genoma do coronavírus SARS-CoV-2 em apenas 24 horas, pelo grupo de pesquisa da biomédica brasileira Jaqueline Goes de Jesus.
Sequenciamento de Nova Geração + Nanopore
Recentemente foi lançado um painel pelo laboratório Mendelics que diagnostica 390 doenças renais hereditárias com o uso de duas tecnologias, o sequenciamento por Nanopore e o Sequenciamento de Nova Geração (NGS). O exame fornece um diagnóstico mais preciso de doenças renais: enquanto a tecnologia Nanopore identifica variantes em regiões repetitivas no gene MUC1 para o diagnóstico da doença cística medular renal tipo 1 (Medullary Cystic Kidney Disease Type 1- MCKD1), o NGS investiga outros 547 genes de forma detalhada.
São combinados, assim, os resultados de pesquisa e inovação à medicina, ao trazer a tecnologia Nanopore para o diagnóstico de doenças genéticas. No Painel Completo de Doenças Renais, o diagnóstico de MCKD1 é realizado por Nanopore. MCKD1 é uma doença tubulointersticial progressiva, que resulta em falência renal, na necessidade de diálise e até transplante renal e está associada a variantes patogênicas no gene MUC1.
O gene MUC1 possui segmentos repetidos no DNA, onde se encontram a maior parte das variantes patogênicas, dificultando a identificação de alterações através de métodos de sequenciamento comumente usados. O Nanopore é uma metodologia indicada para verificar alterações neste gene e que confere alta taxa diagnóstica para a doença.
Todos esses exames requerem um pedido médico e acompanhamento para interpretar os resultados e determinar as melhores medidas a serem adotadas pelo paciente. A cada ano, a ciência avança em tratamentos que melhoram a qualidade de vida e a longevidade dos pacientes, tornando o diagnóstico uma peça fundamental para que os médicos possam desenvolver planos de ação personalizados e eficazes para cada indivíduo.
*David Schlesinger é geneticista e CEO da Mendelics.