Como a biologia molecular impacta o futuro da medicina de precisão
Por Paulo Gropp
A longevidade pode ser considerada uma das maiores buscas do ser humano desde os primórdios. Cada civilização, ao seu modo, tentou responder perguntas que intrigavam estudiosos, pensadores e especialistas sobre como seria possível viver por mais tempo e melhor. Ao longo dos séculos, o foco desses estudos concentrou-se nas doenças, suas incidências, sintomas e grandes descobertas em tratamentos – efetivos ou paliativos -, muitos deles ainda em uso até a atualidade.
Entretanto, com o advento da tecnologia e suas contribuições cada vez mais atreladas à ciência, encontramos um novo caminho para o tão desejado envelhecimento saudável: e se deixássemos de olhar apenas para as doenças e passássemos a olhar para os pacientes de forma individualizada? É nesse momento que a medicina de precisão ou personalizada passa a existir, e a prevenção torna-se a chave para que boa parte das enfermidades sejam evitadas, ou ainda, contornadas de forma precoce. Trata-se de uma nova abordagem clínica, essencial para chegarmos à causa primária desses problemas e traçar uma nova rota de cuidados, muito mais próxima dos pacientes e assertiva em termos de diagnósticos, tratamentos e curas.
Como alicerce a este cenário, as contribuições da biologia molecular permitem que novos testes e tecnologias cada vez mais precisas, sensíveis e específicas, protagonizem uma abordagem de prevenção antecipada, por meio de valores preditivos que indiquem as melhores decisões a serem tomadas. Um bom exemplo são os inovadores testes genéticos para o diagnóstico de câncer, que permitem identificar pré-disposições à formação de tumores ou direcionar tratamentos personalizados para quadros metastáticos da doença; uma solução à medicina de precisão que tem permitido individualizar os tratamentos e o manejo dos pacientes, de acordo com o tipo e estágio do câncer que ele enfrenta.
Também denominados como sequenciamento de nova geração (NGS), os testes genéticos são exames preditivos, que devido à sua alta acuracidade permitem que pessoas com histórico familiar de câncer ou que já tenham tido câncer anteriormente, detectem mutações genéticas que poderão levar ao surgimento de novos tumores. Soluções que direcionam para um acompanhamento maior do paciente, adoção de medidas profiláticas e tratamentos precoces, fatores determinantes para o sucesso no combate a essas doenças. Em outros casos, quando o câncer já se encontra em níveis avançados, os testes genéticos permitem identificar mutações tumorais, que tão logo detectadas, já podem ser contornadas a partir da combinação de medicamentos, inibidores das proteínas responsáveis pela progressão da doença.
Considerado por pesquisadores como um divisor de águas na genômica e na oncologia de precisão, com tecnologias como o NGS é possível tanto realizar a análise de vários genes, quanto estudar o painel genético de diversos pacientes simultaneamente. Um avanço que impacta diretamente na redução do tempo e na quantidade de amostras a serem processadas em sequência. Em termos de pesquisas, suas contribuições têm desdobramentos ainda maiores, uma vez que amplifica os caminhos para a busca de novas e completas respostas aos casos que ainda desafiam a medicina.
No Brasil, infelizmente, essa ainda não é uma realidade acessível para todos. Entretanto, à medida que se observam os benefícios proporcionados por essas tecnologias, como a redução de gastos em tratamentos, exames e consultas, além do ganho exponencial em saúde e qualidade de vida desses pacientes, ao serem poupados de tratamentos agressivos e debilitantes, espera-se que, em curto prazo, um novo olhar das autoridades seja direcionado a estas inovações.
Assim como outros avanços que temos presenciado nos últimos anos, o NGS é um recorte do trabalho incansável da ciência em prol da humanidade. Muito além de um desejo humano em transcender os períodos e gerações que lhe antecederam, encontrar caminhos que agreguem qualidade à experiência de vida sempre será um dos propósitos mais genuínos da nossa existência. Ciência, medicina e tecnologia seguirão unidas para que se cumpram as mais altas expectativas de sucesso nesta jornada.
*Paulo Gropp é vice-presidente da QIAGEN na América Latina.