Como a tecnologia pode revolucionar o atendimento em saúde
Por Fernando Kunzel e Willian May
A evolução da ciência é notável, principalmente na área da saúde. Desde o desenvolvimento de novos medicamentos, passando pela ampliação do atendimento, até o avanço tecnológico de exames e detecção de doenças evidentes: todos esses frutos vêm de intensos e benéficos progressos da tecnologia. Um exemplo recente de como tudo isso se aplica no dia a dia é a inclusão de mais doenças no rol de diagnóstico da triagem neonatal — popularmente conhecido no Brasil como teste do pezinho. A ampliação faz subir de seis para 50 o número de doenças que podem ser identificadas pelo exame. Essa, que é uma importante ferramenta de diagnóstico, pode ser uma grande aliada na detecção de doenças raras, que atinge mais de 13 milhões de pessoas no país, segundo estima a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fica evidente, então, que os avanços tecnológicos na área da saúde colaboram para prevenir ou diagnosticar precocemente certas condições, até mesmo para salvar vidas. Mas, no que tange os atendimentos em saúde, tais transformações encontraram terreno fértil para se popularizarem na pandemia. A tecnologia, que já vinha adentrando o espaço de clínicas e hospitais, teve um boom — capitaneado, é claro, por processos de transformação digital que já se desenhavam no setor.
Um exemplo disso foi a realização de atendimento médico virtual, utilizado por milhares de pacientes que puderam contar com apoio especializado em um momento delicado. Tudo isso nos mostra que abrir as portas dos espaços de saúde para a tecnologia beneficia médicos, pacientes, instituições e a sociedade como um todo. A Conexa Saúde, especialista em telemedicina (que, vale dizer, acaba de receber um investimento de R$200 milhões liderado pela Goldman Sachs Asset Management) foi uma das empresas que representaram o crescimento do segmento durante a pandemia. Já a Kompa Saúde, que recebeu investimento da Astella em 2021, une usuários e médicos através de um aplicativo móvel para consultas através de videochamadas.
Embora sejam, sim, visíveis os avanços na área de atendimento em saúde, ainda há um longo caminho a ser percorrido no que tange mudanças práticas de otimização da atividade, como a diminuição de filas e a redução da burocracia. Quando em excesso, a mesma torna os processos lentos e prejudica a produtividade. Entretanto, será que a tecnologia é capaz de apoiar essa evolução prática também? Ao que tudo indica, sim — e será o caminho natural, conforme a evolução tecnológica seguir seu curso.
A telemedicina, por exemplo, já possibilita a emissão de pareceres médicos. Os exames podem ser realizados em clínicas, consultórios ou hospitais de qualquer localidade, e depois são encaminhados aos médicos especialistas via internet. Para acelerar o processo e reduzir a espera dos pacientes, a Inteligência Artificial e o machine learning apoiam e trazem celeridade na triagem dos exames, priorizando as urgências na fila de análise.
A utilização de Inteligência Artificial pode ser ainda grande aliada nos sistemas de monitoramento. Para aqueles pacientes que possuem condições que precisam de atenção regularmente, como diabetes ou hipertensão, por exemplo, os dispositivos médicos vestíveis e/ou implantáveis vêm como aliados nessa estratégia, dando ao paciente protagonismo em seu próprio cuidado. Com observação constante, o paciente pode ter mais consciência de seu estado de saúde com antecedência, podendo, em vez de ir à emergência, agendar uma consulta eletiva.
O monitoramento também pode ser útil no quesito dos medicamentos. Uma solução, proposta pela Memed, é contar com a tecnologia para auxiliar os profissionais na prescrição de medicamento. Além disso, com o objetivo de minimizar desperdício de medicamentos, através do auxílio da Internet das Coisas, há artifícios, por exemplo, para o controle de temperatura e umidade nas farmácias hospitalares, bem como a checagem antes de serem administradas no paciente.
Além disso, a introdução da tecnologia no cotidiano dos consultórios e hospitais pode contribuir com tarefas básicas, como o agendamento de consultas e redução de custos de gestão interna. Por exemplo, realizar inúmeras ligações para confirmar consultas agendadas pode ser caro e gerar atrasos em outras demandas internas da empresa. Essa atividade pode ser substituída pela automação no envio de mensagens para lembrar os pacientes das suas consultas. A exemplo disso, a iClinic é uma das empresas que já oferecem este serviço para médicos, clínicas e consultórios.
Em estruturas complexas e multifuncionais, como os hospitais, a utilização de escalas de trabalho em plataformas digitais também se torna uma realidade. Organizar a equipe de profissionais da saúde de acordo com as necessidades da instituição pode ser um quebra-cabeça desafiador. Com a tecnologia, a distribuição das demandas de acordo com as peculiaridades de cada setor se torna um processo mais ágil e menos burocrático. A solução traz vantagens aos funcionários também, na hora de negociar folgas e turnos, bem como o revezamento nos plantões.
Tais investimentos podem ser vantajosos e acessíveis para as empresas da área da saúde, uma vez que otimizam a distribuição de atividades entre os funcionários e gestores, podendo destinar o foco dos mesmos para tarefas mais urgentes. Intensificar a automatização dos processos na área da saúde pode ser a virada de chave para uma era de atendimentos mais ágeis e personalizados, capazes de salvar ainda mais vidas.
*Fernando Kunzel é economista e sócio-fundador na L6 Capital Partners e Willian May é engenheiro de produção e sócio na L6 Capital, boutique de investimentos e consultoria.