Pico de casos da Ômicron gerou desassistência em UTIs

O grande número de casos de covid-19 provocado pela variante Ômicron do coronavírus levou a um expressivo volume de óbitos fora de unidades de Terapia Intensiva, o que configura um quadro de desassistência, afirmam pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os cientistas divulgaram uma nota técnica que mostra que a variante provocou um pico de internações semelhante ao da primeira onda da covid-19 em quase todas as unidades da federação.

O texto explica que mesmo com a proteção das vacinas e a suposta menor letalidade da variante, o elevado número de casos que ela provoca por sua maior transmissibilidade leva uma demanda extrema aos serviços de saúde, ainda que o percentual de internações seja pequeno em relação ao total de casos. “Apesar de alguns estudos e vários especialistas apontarem que, do ponto de vista individual, a variante Ômicron é menos letal, do ponto de vista da saúde pública e do atendimento esse não parece ser o caso. O volume de casos provocado por essa variante é extremamente alto e, mesmo que o percentual de pessoas que necessitem de atendimento especializado seja pequeno frente ao volume extremamente alto de casos, as redes de atendimento acabam sendo ocupadas e, em última análise, a desassistência à saúde ocorre, elevando o número de óbitos”, diz a nota técnica.

Na nota, os pesquisadores ressaltam que a desassistência é a pior situação dentro de um contexto de epidemia, pois reflete o colapso do sistema de saúde e faz com que as pessoas não recebam os cuidados necessários para terem uma chance de se recuperar. “A desassistência também provoca óbitos indiretos por outras causas que não podem ser atendidas”, alertam os pesquisadores.

Os meses de março e abril de 2021, no pico de casos causado pela variante Gamma, foram os que tiveram o maior número absoluto de mortes fora de UTI. Apesar disso, quando se considera o percentual de óbitos fora de uma UTI em relação ao total de óbitos hospitalares, o mês de janeiro de 2022 fica atrás apenas dos meses de maio e abril de 2020, o que pode significar que uma proporção maior de pessoas chegou a ser hospitalizada mas não teve acesso a leitos de alta complexidade quando seu quadro se agravou. A Fiocruz pondera que esses dados devem ser analisados com cautela, pois ainda existe atraso no registro para os meses mais recentes e um represamento causado pelo apagão de dados que se deu com o ataque hacker aos sistemas do Ministério da Saúde e do Sistema Único de Saúde (SUS).

O aumento acelerado de casos causado pela Ômicron também se deu em um momento em que diversos estados haviam retomado atendimentos e cirurgias de rotina, o que pode ter contribuído para uma menor disponibilidade de leitos, lembra a fundação. Apesar desse quadro, a Fiocruz esclarece que nenhum estado atingiu os picos de ocupação de UTI registrados durante a onda da variante Gamma, no início de 2021. Além disso, nenhuma unidade da federação teve tantas vítimas quanto nos picos de 2021 e 2020.

“Considerando os piores períodos, a letalidade da covid-19 chegou a cerca de 4%. Na variante Ômicron, o pico da letalidade até agora é de 0,4%”, compara a nota técnica.

Vacinação

Os pesquisadores da Fiocruz descrevem que a onda de casos da variante Ômicron parece se comportar de forma diferente a das outras variantes, com um pico acelerado seguido de uma queda acentuada no número de casos, o que confere alguma imunidade à população que foi infectada.

“Em pessoas vacinadas e sem complicações prévias, a doença parece seguir um curso mais brando. No entanto, em pessoas não vacinadas e mesmo sem comorbidades ou fatores de risco, essa variante apresenta um risco para internação e óbitos. De forma indireta, a onda de Ômicron valida os efeitos esperados para a vacinação da população”, diz a Fiocruz, que reforça a importância da vacinação para a saúde coletiva.

“Existe uma epidemia de não vacinados que lotam os hospitais, sufocam os serviços de saúde e impossibilitam atendimento de outros problemas de saúde que continuam acontecendo. Isso parece ocorrer tanto no Brasil quanto em outros países analisados”, diz a nota.

A fundação também pede atenção às desigualdades regionais da cobertura vacinal e compara que estados como São Paulo, com 80% da população com esquema completo, se equiparam a países desenvolvidos, enquanto unidades da federação, principalmente da Região Norte, têm percentuais inferiores a 60% e até 50%.

“A desigualdade geográfica na vacinação é um problema urgente. Enquanto temos no Sul e Sudeste do país, patamares de vacinação acima de países ricos da Europa, principalmente no Norte do país, temos bolsões de não vacinados próximos a países pobres da África”. (Com informações da Agência Brasil / Vinícius Lisboa)

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