Tecnologia aplicada à saúde segue avançando em 2022
Por Rogério Pires
A saúde nunca ficou tão em evidência quanto nos últimos dois anos. O período pandêmico enfrentado, promoveu uma série de avanços em pesquisas e desenvolvimento em prol do setor, que passou por um enorme processo de digitalização, tanto em áreas voltadas para o atendimento do paciente quanto na indústria em si. Operações burocráticas e rotineiras, como registro do prontuário do paciente ou controle de custos de procedimentos médicos, passaram a ser feitas online em sistemas especializados.
E as previsões futuras seguem neste mesmo sentido: um estudo da IDC aponta que, até 2022, serão investidos US$1,931 milhões — o equivalente a R$10 bilhões — no setor de saúde apenas na América Latina, reforçando a evolução tecnológica que é realidade no segmento e deve seguir com ainda mais força.
Neste cenário de transformação digital, diversas tecnologias foram implementadas, e um dos grandes destaques foi a adoção dos teleatendimentos. O TeleSUS, por exemplo, foi lançado em abril de 2020 e em junho do mesmo ano já havia registrado 73,3 milhões de atendimentos, considerando quaisquer comunicações e serviços prestados pelo aplicativo, ligação telefônica ou chatbot para dúvidas.
Com base nas minhas pesquisas e experiência no segmento da saúde, listo abaixo quatro temáticas voltadas ao uso de tecnologia na saúde que devem ser pauta em 2022.
Cibersegurança e LGPD
Os dados estão presentes em todos os lugares e setores da economia, na saúde isso não é diferente. Fichas cadastrais e prontuários carregam uma série de informações pessoais importantes, sensíveis e até confidenciais que podem chamar a atenção de cibercriminosos.
Um relatório elaborado pela Check Point Software Technologies registrou o crescimento de 40% em ciberataques semanais em todo o mundo em 2021. No Brasil, a média é de 967 ataques por semana, 62% a mais que o registrado em 2020, sendo que entre os principais alvos estão empresas de saúde, seguradoras, varejo e telecom. Diante desse cenário, é imprescindível que as instituições de saúde voltem os olhos para investimentos em soluções de cibersegurança.
Outro ponto importante referente à segurança de dados é a regularização dos padrões e processos do setor à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que já está em vigor. Entre as principais diretrizes da legislação que impactam a saúde destaco: o consentimento da coleta dos dados, que no meio digital implica também na confidencialidade entre médico e paciente; e a proteção dos dados por terceiros, que fica ainda mais complexa uma vez que há uma série de agentes intermediários (hospital, clínica, laboratório, operadoras de saúde e mais).
Hoje já há no mercado sistemas que estão de acordo com as regulamentações da LGPD, assim como as demais diretrizes e parâmetros dos órgãos da Saúde. Há soluções, por exemplo, que garantem a anonimização de dados sensíveis, assim como utilizam de criptografia e níveis de acesso, a fim de garantir a proteção dos dados.
Inteligência Artificial
Com o alto volume de dados envolvidos e transacionados nos atendimentos médicos, o uso de ferramentas que utilizam Inteligência Artificial (IA) se torna muito uma ferramenta importante para a produtividade. A IA permite a análise de dados de forma rápida e segura, uma vez que sua atuação é baseada em eventos passados e repetidos.
Dessa forma, podemos observar a adoção de soluções de IA para processos de pré e pós-auditoria de dados ou controle de custos hospitalares ou ainda para chatbots voltados ao esclarecimento de dúvidas e o início do atendimento, por exemplo. Outro uso mais sensível é a aplicação de Inteligência Artificial para a previsão de eventos, que na saúde pode fazer a análise de prontuários e monitoramento de pacientes, indicando possíveis doenças não-diagnosticadas ou eventos futuros.
O uso de IA na saúde é tão relevante que, em junho deste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou um relatório com as diretrizes sobre a “ética no uso de inteligência artificial na saúde”. O material levou 18 meses para ser produzido e contou com a participação e debate de especialistas de diversas áreas, a fim de respeitar os limites dos direitos humanos.
Cloud computing
Outra forte tendência para o nosso setor é o uso de sistemas e soluções em nuvem. Segundo o relatório Healthcare Cloud Computing Market — Global Forecast to 2024, o mercado global de computação em nuvem para saúde chegará a US$51,9 bilhões até 2024.
A computação em nuvem permite a contratação de infraestrutura como serviço (IaaS), fazendo com que as empresas do setor consigam investir em sistemas avançados e que não requerem infraestrutura física nem especialização técnica para manuseio, uma vez que o suporte muitas vezes é realizado pelo próprio fornecedor.
Por fim, o cloud computing também é uma importante ferramenta para o armazenamento de informações de forma segura, contribuindo também para a proteção e regularização perante a LGPD.
Dados para melhorar a jornada do paciente
A disponibilidade e análise estruturada dos dados certamente também pode ser usada para melhorar a experiência do paciente em sua jornada. Uma vez que há uma série de intermediários no atendimento e a coleta de diferentes informações a cada etapa, a integração entre as instituições de saúde pode contribuir para um atendimento especial e mais humanizado. Além disso, a integração também colabora para uma operação mais ágil e produtiva, fazendo com que todos os profissionais, e principalmente o médico, tenha acesso a todos os dados do paciente e rapidamente consiga fazer diagnósticos.
Com base no que vivemos nos últimos dois anos, é inquestionável o quanto o setor de saúde se desenvolveu, a passos largos, com o apoio da tecnologia. Nesse sentido, em 2022 acompanharemos ainda mais evoluções, adaptações e inovações que contribuam para que todo o ecossistema — pacientes, profissionais, instituições e operadoras de saúde — tenha ganhos expressivos em produtividade e seja ainda mais beneficiado pela implementação desses recursos.
*Rogério Pires é diretor de Healthcare da TOTVS.