Transição de uma carreira em multinacionais para healthtech
Por Felipe Clemente
Quem tem irmão mais velho vai se reconhecer nessa situação. Lembra do menino agitado que atrapalha a brincadeira da irmã? Esse era eu quando adolescente, tentando consertar as bonecas da minha irmã, trocando as cabeças, pernas e braços para montar uma “nova” boneca, funcional e pronta para outras aventuras. Ela não gostava muito, mas foi aí que comecei a me interessar por criar e consertar problemas diários. De bonecas a mobiletes, meu passatempo era montar e desmontar coisas, para poder entender cada passo, etapa e processo dentro daquela situação. Com isso, aos 18 anos, escolher uma faculdade foi fácil e mirei em Engenharia Mecânica, com o objetivo de seguir construindo e criando coisas pelo caminho. Porém, nem tudo sai como planejamos e minha trajetória se voltou para o cuidado com as pessoas.
Neto da fundadora do Instituto Jô Clemente (antiga APAE de São Paulo), sempre tive a visão de que o respeito e a saúde são coisas imprescindíveis para qualquer ser vivo e, portanto, devemos ter uma atenção especial de todos os lados. A organização, que completou 60 anos neste ano, foi minha casa desde sempre e lá aprendi a consertar coisas para ajudar pessoas. Foi lá que meu propósito foi tomando forma. Uma das minhas maiores inspirações atualmente é, além da minha avó, o meu avô, Antônio Clemente, um dos maiores radiologistas do Brasil, e responsável por trazer ao território nacional o primeiro equipamento de Tomografia visto por aqui. Ambos foram grandes pessoas que quebraram barreiras e conseguiram fazer história na saúde.
Na contrapartida dos meus avôs, meus primeiros empregos foram no setor da automobilística e logo tive a oportunidade de realizar um MBA no exterior, onde tive a chance de começar a me voltar à área de gerência e administração, tornando-me presidente do clube de administração da faculdade. Com essas experiências, integrei um programa de estágio na GM e em seguida, comecei na Johnson & Johnson, onde passei a ter mais contato com a parte de gestão da empresa. Depois de outras vivências, fui para a divisão de saúde da Sodexo, com a missão de implementar tecnologia nos processos da empresa e focar na melhor experiência do paciente.
Com isso, me aproximei do propósito e da história dos meus avôs, pois tive grandes oportunidades de trabalhar a tecnologia aliada à saúde, para impactar pessoas, algo muito próximo do meu objetivo pessoal e profissional. Porém, com a pandemia e seus desafios, o foco da empresa mudou para execução e redução de custos, deixando pouco espaço para criação e inovação. Depois dessa experiência, senti então a necessidade de fazer parte de algo novo, encantador e pragmático. Por isso optei por buscar uma oportunidade em uma healthtech nacional, onde o produto principal é a inovação.
As healthtechs focam em tecnologia para saúde, um fator que me interessa, imensamente, por diversos motivos e, entre eles, estão as melhores metodologias para otimizar os processos, mas a curva de tecnologia está chegando num platô e as possibilidades de ganho são menores. Com isso, as inovações tecnológicas se tornaram ainda necessárias e importantes, principalmente, para a área de saúde. Antigamente, muitas pessoas morriam de aneurisma, AIDS, câncer, mas hoje todas essas doenças têm um tratamento e as pessoas podem ter uma ótima qualidade de vida, porém com um custo muito grande. Esse valor só tende a aumentar e poucas pessoas conseguirão pagar. As inovações estão muito relacionadas a como você utiliza a informação e o setor da saúde ainda percorre esta jornada tecnológica em busca de gestão de processos, como o agendamento e entrega de exames online. A Pixeon está, exatamente, neste meio da transformação digital, unindo o cuidado com as pessoas às inovações tecnológicas — o que está, totalmente, alinhado com o meu propósito pessoal.
Nas multinacionais o espaço de troca, criação de metodologias e inovações do zero é limitado e muitas vezes já vem pronto de uma matriz. Já em uma healthtech esses processos são realizados passo a passo entre os integrantes da empresa, com um objetivo e uma paixão em comum. A própria Pixeon tem grandes desafios pela frente, mas com o conhecimento do mercado e com a meta de ajudar pessoas, impactar a sociedade tornou-se algo mais próximo e possível. Meu sonho atual é que todas as pessoas consigam o atendimento que precisam. E para isso, mais uma vez, a inovação é, extremamente, necessária. Como diria Einstein, uma figura de grande inspiração para minha vida, “loucura é esperar resultados diferentes fazendo a mesma coisa”.
*Felipe Clemente é CEO da Pixeon.