Cinco meses de Covid-19 no Brasil, o que evoluiu?
Ao longo de sua evolução, a humanidade tem aprendido com as diversas experiências impostas, sejam boas ou ruins. Quando, em dezembro de 2019, um quadro de pneumonia de origem ainda desconhecida foi identificado na China, pouco se sabia. Atribuiu-se a este novo “inimigo invisível” o nome de Sars-Cov2, ou simplesmente Covid-19. Acreditávamos que no Brasil não seríamos afetados, já que nosso clima seria pouco favorável ao vírus. Contudo, no final de fevereiro fomos contrariados com o primeiro caso confirmado em São Paulo. A partir dessa data podemos contabilizar, até o momento, mais de 2 milhões de casos e 80 mil mortes no país.
Medidas para contenção da propagação do vírus visaram o “achatamento da curva”, gerando tempo para que as estruturas de saúde pudessem se adequar. Leitos hospitalares foram criados em curtíssimo espaço de tempo. Inicialmente problemas estruturais e de materiais como ventiladores mecânicos ficaram evidentes, passando a alcançar valores maiores que os do ouro. Com a evolução da crise entendemos que recursos humanos especializados em saúde assumiram posição de destaque.
Observamos profissionais de saúde passarem pela fase do medo e pânico, e, hoje se apresentam num momento de superação do desgaste físico e mental. Entendemos efetivamente a importância das relações interpessoais. Passamos a valorizar sorrisos, agora, escondidos por máscaras de proteção. Paralelo a isso, entendemos que enquanto vacinas não forem acessíveis a todos, o isolamento social se faz a ação mais importante.
Vimos muitos trabalhos científicos surgirem prometendo trazer respostas a tantas perguntas, no entanto, culminaram em mais dúvidas. Compreendemos que é difícil se escrever sobre algo que não conhecemos e que o melhor caminho a tomar é dar as mãos e aprender juntos. Nunca tantos estudos sobre um mesmo tema foram escritos em um espaço de tempo tão curto. Uma avalanche de informações que, se não utilizadas com cuidado e discernimento, podem trazer mais sombras do que luz.
É fato: a ciência está fazendo em 5 meses o que se faria, se assim podemos dizer, em 50 anos e isso traz uma série de dúvidas, desafios e às vezes inconsistência nas respostas.
Em uma pequena linha do tempo podemos dizer que a principal conquista, nesse curto período, que toda a sociedade, assim também como a medicina, está colhendo é a valorização das pessoas, do profissional de saúde e do serviço por ele desempenhado.
Outra conquista surpreendente é a implementação de ferramentas de tecnologia. Inovações como a telemedicina, avanços em coleta de dados e epidemiologia, realidade virtual para procedimentos médicos, entre outros. A prevenção e promoção de saúde também devem ser destacados. Viu-se também a importância que se faz em investir em pesquisa e ciência, se queremos uma medicina capaz de uma pronta resposta a problemas tão sérios quanto os impostos pela pandemia. Recebemos o empurrão que faltava para colocar em prática ações como o home office. Este, por exemplo, tem se mostrado tão eficaz que as grandes empresas já estudam a manutenção permanente desta prática visando redução da necessidade de espaços físicos e consequente redução de custo fixo. Nunca se deu tanto valor a hábitos tão simples quanto lavar as mãos, distanciamento social e uso de máscaras. Quem imaginava que ficaríamos incomodados ao ver uma pessoa ao nosso lado sem máscara?
Atualmente fala-se muito do “novo normal”. Novo modo de se viver e de fazer a gestão, seja da Instituição ou da vida pessoal, durante o turbilhão da pandemia. É surpreendente também a capacidade de adaptabilidade do ser humano em apenas cinco meses. O que tirar desse aprendizado em tão pouco tempo? Sem sombra de dúvida, uma lição simples: valorizar a coletividade e as relações interpessoais. A valorização do ser em detrimento do ter. Vimos que não há dinheiro no mundo que compre a nossa liberdade, nosso direito de ir e vir ou mesmo o prazer de um simples abraço.
Agora seguimos por mais seis meses, um ano aguardando ansiosamente as vacinas em fases avançadas de estudo que prometem trazer a calmaria aos nossos corações tão sobressaltados.
*Bruno Nunes Ribeiro é médico e superintendente do Hospital Márcio Cunha (Ipatinga/MG).