O impacto da Terapia Nutricional Especializada no SUS
Por Melina Castro
Diante dos desafios enfrentados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para equilibrar a alta demanda por leitos hospitalares, os custos crescentes com internações e a necessidade de oferecer atendimento de qualidade à população, a adoção de políticas públicas que unam eficiência clínica e sustentabilidade econômica torna-se uma solução urgente. Nesse contexto, a Terapia Nutricional Especializada, (TN) que inclui diferentes formas de oferecer suporte nutricional, como o uso de suplementos nutricionais orais, dieta via sonda naso enteral e nutrição intravenosa (parenteral), é essencial e estratégica para ampliar o acesso ao cuidado, reduzir custos e salvar vidas.
A desnutrição hospitalar continua sendo um problema silencioso, mas de grande impacto. Pacientes em risco nutricional apresentam maior tempo de internação, índices elevados de complicações, reinternações frequentes e maior índice de mortalidade.
Segundo dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE), a desnutrição pode atingir até 58% dos idosos e 80% dos pacientes oncológicos. Em caso de desnutrição durante o período de internação, esses pacientes apresentam maior risco de complicações, especialmente infecciosas, o que pode demandar cuidados adicionais, prolongar o tempo de recuperação e aumentar o risco de mortalidade.
Segundo a instituição, no Brasil, em 2021, pelo menos 40% dos pacientes internados estavam desnutridos. Esta é uma das condições clínicas mais comuns no ambiente hospitalar, frequentemente associada ao aumento da morbimortalidade, indicador usado para mostrar o impacto de uma doença ou condição, considerando número de pessoas que morrem ou complicam em decorrência dela.
A TN se associa a melhores desfechos clínicos como redução em 37% a chance de morte do paciente, além de poder diminuir o tempo de internação. A SBNPE aponta ainda que, caso seja adotada pelo SUS, a terapia pode reduzir em 13,1% as reinternações dentro de 30 dias.
Embora a incorporação da TN represente um custo inicial para o SUS, os benefícios econômicos e clínicos são evidentes: a redução do tempo de internação diminui a demanda por medicamentos, equipamentos e recursos hospitalares, aliviando a pressão sobre a infraestrutura e profissionais de saúde. Trata-se de um investimento com retorno comprovado no médio e longo prazo, que contribui diretamente para a sustentabilidade do sistema.
Em diversos países, a suplementação nutricional oral já é reconhecida como parte essencial do cuidado em saúde. No Reino Unido, a diretriz nacional CG32, do NICE, recomenda o suporte nutricional oral para pacientes hospitalizados ou em risco de desnutrição, integrando essa prática aos cuidados hospitalares e comunitários. Na Espanha, embora não exista um protocolo nacional específico para a terapia nutricional, estudos apontam que a suplementação nutricional oral contribui para reduzir reinternações e custos hospitalares.
No Brasil, a incorporação da Terapia Nutricional Oral (TNO) ao SUS depende de avaliação da Conitec, que considera custo-efetividade e evidência clínica — um debate que se torna cada vez mais necessário diante do acúmulo de estudos favoráveis.
Existem dados mostrando que a utilização de suplementação nutricional oral pode gerar economia de R$ 236,02 por dia em internações evitadas, além de R$ 1.393,41 por novas internações, R$ 3.871,17 por reinternações evitadas e mais de R$ 10 mil de despesas suprimidas por conta dos óbitos evitados.
Diante dessas evidências clínicas, econômicas e regulatórias atuais, a incorporação da Terapia Nutricional Oral deve ser vista como uma decisão estratégica para o Brasil. Trata-se de uma medida que fortalece a missão do SUS de garantir acesso universal e integral à saúde, melhora a qualidade de vida da população e assegura uma gestão mais eficiente dos recursos públicos.
A ampliação da TNno SUS depende agora de decisões políticas baseadas em evidências, e o setor público e privado precisam atuar juntos para garantir esse avanço. Apostar na nutrição especializada significa construir um SUS mais forte, sustentável e preparado para os desafios do futuro.
*Melina Castro é gerente Médica da Fresenius Kabi Brasil.
