Da teoria à prática: como a saúde pode liderar a agenda climática
Por Giovana Kill
Quando falamos em sustentabilidade na saúde, é comum que o debate se concentre em eficiência hospitalar, descarte de resíduos e inovação tecnológica. Mas há um eixo que atravessa todos esses temas, o clima. A saúde é um dos setores que mais sofre os impactos da crise climática, e também um dos que mais pode contribuir para mitigá-los. No Sírio-Libanês, entendemos que cuidar do planeta é parte do nosso propósito de promover vida plena e digna.
Nos últimos anos, transformamos esse propósito em uma agenda concreta. Fomos o primeiro hospital brasileiro a aderir ao GHG Protocol, em 2011, e desde então seguimos uma jornada contínua de medição, reporte e redução de emissões. O resultado foi uma diminuição de 40% das emissões de CO₂ em quatro anos, um feito raro para o setor hospitalar, que enfrenta desafios operacionais complexos e ininterruptos.
A transição para uma matriz energética limpa foi um dos marcos dessa trajetória. Hoje, 100% da energia elétrica consumida pelo Sírio-Libanês provém de fontes renováveis, como eólica e solar. Essa mudança foi acompanhada de uma revisão de processos internos e da adoção de tecnologias de eficiência energética como automação predial, iluminação LED e otimização de equipamentos de alta demanda. Em situações emergenciais, as emissões são compensadas integralmente por meio da aquisição de créditos de carbono auditados, com preferência por projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas.
Também avançamos na gestão circular de resíduos. Cerca de 18% do total produzido é reciclado e outros 17% passam por compostagem, aproveitando o potencial orgânico das operações de alimentação e lavanderia. Reduzimos o envio a aterros sanitários, priorizando destinações que capturam e reaproveitam gás metano, e ampliamos a logística reversa de insumos como embalagens de álcool em gel, sabonetes, seringas, bolsas de soro e gelox, sempre dentro dos mais rigorosos padrões de segurança hospitalar.
A sustentabilidade se estende ainda à cadeia de valor, responsável por mais de 70% das emissões indiretas. Por isso, adotamos critérios de sustentabilidade e pegada de carbono na seleção e acompanhamento de fornecedores, incentivando práticas responsáveis em toda a rede. Quando encontramos parceiros que ainda não estão alinhados à agenda ESG, buscamos promover o diálogo e a capacitação, apoiando sua transição para modelos mais sustentáveis.
Essas iniciativas só são possíveis com uma governança sólida. A sustentabilidade integra a estratégia institucional e o modelo de gestão do Sírio-Libanês, alinhado a frameworks internacionais como GRI, SASB e relato integrado. Também somos o único hospital do Brasil a receber duas vezes o selo Pró-Ética, concedido pela Controladoria-Geral da União (CGU) – um reconhecimento de que ética e transparência são pilares inseparáveis da agenda ESG.
Às vésperas da COP 30, que colocará o Brasil no centro do debate global sobre clima, reforçamos a convicção de que a saúde não deve ser apenas um setor impactado pela crise climática, mas um agente ativo na sua solução. O Sírio-Libanês tem demonstrado que é possível conciliar excelência assistencial, segurança do paciente e responsabilidade ambiental. Reduzir emissões, investir em energia limpa e promover a economia circular são decisões que salvam vidas – ainda que de forma indireta.
Cuidar do planeta é, também, cuidar da saúde de todos nós. E esse é um compromisso que ultrapassa fronteiras, governos e gerações.
*Giovana Kill é Superintendente de Sustentabilidade do Hospital Sírio-Libanês.
