A comunicação como princípio ativo da prática médica
Por Erika Baruco
 Ao longo de mais de 25 anos atuando com comunicação no setor de saúde, tenho observado uma tensão recorrente que acompanha médicos e profissionais da saúde: a necessidade de construir uma presença profissional que vá além da competência clínica, que não dilua a essência da prática médica. Em um cenário em que a medicina muitas vezes se torna uma “commodity”, o que distingue um profissional não é apenas sua técnica, mas a forma como se comunica, se conecta e se posiciona diante de pacientes, pares e sociedade.
Ao longo de mais de 25 anos atuando com comunicação no setor de saúde, tenho observado uma tensão recorrente que acompanha médicos e profissionais da saúde: a necessidade de construir uma presença profissional que vá além da competência clínica, que não dilua a essência da prática médica. Em um cenário em que a medicina muitas vezes se torna uma “commodity”, o que distingue um profissional não é apenas sua técnica, mas a forma como se comunica, se conecta e se posiciona diante de pacientes, pares e sociedade.
A comunicação, claramente, não substitui o diagnóstico nem a habilidade cirúrgica. Ela não cura nem trata, mas corretamente estruturada ela certamente torna-se um instrumento de ancoragem que favorece ao profissional ser reconhecido por sua autoridade, construindo confiança e estabelecendo relações consistentes, mesmo em meio a um mundo digital volátil e a uma sociedade saturada de informações.
O desafio, porém, é grande. Médicos lidam diariamente com agendas extenuantes, pressões regulatórias, complexidade clínica e expectativas sociais. A ideia de “ter que estar presente” em redes, eventos e fóruns pode parecer mais um peso do que uma oportunidade. É nesse ponto que a comunicação estruturada — ética, coerente e ancorada em normas do setor — se torna fundamental. Diferentemente de autopromoção vazia, ela exerce a função de integrar conhecimento, cuidado e visibilidade estratégica.
Manter a coerência exige clareza sobre limites e objetivos, em que o conteúdo compartilhado deve respeitar códigos de conduta médica, confidencialidade, legislações e normas institucionais. O tom da presença digital precisa refletir exatamente a postura do consultório: sério, confiável, humano. Isso exige planejamento, disciplina e, muitas vezes, apoio profissional de comunicação que entenda o setor e saiba navegar entre oportunidades de visibilidade e riscos reputacionais.
A ausência de estrutura leva a inconsistências e exposição desnecessária. Profissionais que improvisam, baseando-se apenas na intuição ou na lógica das redes, rapidamente percebem que atenção e engajamento não são sinônimos de autoridade. A comunicação sem estratégia pode até gerar visibilidade, mas nem sempre de qualidade e dificilmente com credibilidade duradoura.
Por outro lado, médicos que se apropriam da comunicação de forma consciente veem resultados concretos: fortalecem relações com pacientes, ampliam oportunidades de colaboração, contribuem para debates públicos e preservam sua imagem profissional em cenários complexos. A comunicação se torna, então, extensão da prática médica: ética, eficiente e humanizada, mas sempre subordinada à ciência e à prática clínica.
No fim, estar presente não representa estar em todos os canais, mas em lugares estratégicos onde a voz profissional importa. Também não representa ser e nem competir com influenciadores, mas de se posicionar com clareza, relevância e integridade, que são elementos naturais para a consolidação da imagem profissional.
Mas é fato que o diferencial do médico moderno não é não será “apenas” a excelência técnica, mas a capacidade de transformar a comunicação em pilar de carreira, ferramenta de impacto e estrutura de segurança em um mundo cada vez mais conectado.
A prática clínica continua sendo o centro, mas a comunicação é o instrumento que permite operar com segurança e consistência pelo território digital e relacional, construindo reputação, confiança e presença profissional segura.
*Erika Baruco é Jornalista, pós-graduada em Neurocomunicação, Certificação em Gestão da Experiência do Cliente na Saúde Digital e Diretora da Baruco Comunicação Estratégica.
 
								