IA traz resultados promissores no diagnóstico por análise de voz
A inteligência artificial (IA) está ganhando um novo e promissor aliado no campo da saúde: a voz humana. Pesquisadores e empresas de tecnologia ao redor do mundo têm investido em algoritmos capazes de identificar padrões vocais associados a uma série de doenças, muitas vezes antes mesmo que os sintomas mais visíveis apareçam. A ideia é simples: o que dizemos e, principalmente, como dizemos pode conter sinais sutis de alterações neurológicas, cognitivas ou respiratórias.
Entre os exemplos mais avançados está a detecção de doenças degenerativas como o Mal de Parkinson e o Alzheimer, condições que afetam os movimentos e também altera o controle vocal. Outra aplicação em expansão é a triagem de transtornos mentais, como depressão e ansiedade. Sistemas treinados com milhares de amostras de voz conseguem detectar emoções reprimidas, tom monótono e pausas longas — indicadores que podem ajudar na avaliação clínica.
Durante a pandemia de Covid-19, startups como a israelense Vocalis Health desenvolveram modelos capazes de detectar infecções respiratórias apenas com o som da tosse ou da fala. A precisão, segundo os desenvolvedores, ultrapassava 80%. O sistema analisava fatores como aspereza, frequência e variações do ar na fala, aspectos difíceis de perceber a olho (ou ouvido) nu.
No Brasil, existem projetos-piloto em andamento que incluem o uso de IA para monitoramento remoto de pacientes com doenças degenerativas e para a avaliação cognitiva em idosos, especialmente em áreas remotas com pouco acesso a exames laboratoriais.
Embora os resultados iniciais sejam promissores, ainda há desafios técnicos e éticos. É preciso garantir a privacidade dos dados vocais, treinar os algoritmos com bancos de voz diversos (com variações regionais, de idade, gênero e idioma) e evitar falsos positivos que possam causar diagnósticos incorretos.
Apesar dos obstáculos, o futuro aponta para um modelo de saúde mais preventivo e acessível. É possível imaginar, em poucos anos, que aplicativos no celular ou atendimentos por telemedicina incluam uma triagem vocal automática. Basta falar, e seu corpo pode estar entregando o que está errado.
O que antes parecia ficção científica está cada vez mais próximo da rotina médica. E talvez, no futuro, uma simples conversa possa salvar vidas. Mas é sempre prudente reforçar que por mais que a IA possa ajudar, nada substitui o diagnóstico e a avaliação médica.
*Norberto Alves Ferreira é Gerente de Soluções em IA e IOT do CPQD.