A importância dos programas de pré-natal coordenados
70% das brasileiras que começam uma gravidez desejam o parto normal. Porém, na saúde privada, apenas 12% concretizam seu desejo original, segundo a pesquisa “Nascer no Brasil”, da Fiocruz. A taxa de cesáreas recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) varia entre 10% a 15%. No Brasil, mais de 80% dos partos realizados na saúde privada são cesarianas.
Elas trazem mais riscos pós-parto, como infecções e sangramentos para a mãe e problemas respiratórios para o recém-nascido. Segundo estudo da Fiocruz, baseado em 17 milhões de nascimentos no Brasil, há um aumento de 25% na taxa de mortalidade infantil em grupos onde cesáreas têm baixa indicação médica. Porém, quando indicadas corretamente, elas podem salvar vidas.
É fundamental respeitar a autonomia da gestante na escolha do tipo de parto, seja vaginal ou cesariana. Porém, os critérios técnicos de segurança também devem ser seguidos. Por isso, a coordenação de cuidado é crucial, pois a decisão sobre a via de parto começa antes mesmo do nascimento.
Por exemplo, hoje, mais de 70% das mulheres que realizam o pré-natal no plano de saúde corporativo Alice têm partos normais. E, claro, quando indicado, são realizadas cesáreas. Além de reduzir desperdícios de recursos do ponto de vista de custo-efetividade na saúde, essa abordagem também traz benefícios tanto para a gestante quanto para o bebê. Então, por que essa ainda não é a prática predominante na saúde brasileira?
Porque requer informação, dedicação e coordenação, não apenas por parte da gestante que vive essa experiência, mas também por parte da equipe de saúde e do sistema em que ela está inserida. Detalho abaixo como os nossos profissionais de saúde transformaram a realidade dos partos – e como outras empresas podem fazer o mesmo:
1. Programas de pré-natal coordenados
A participação da gestante no pré-natal tem que ser fortalecida. Ela precisa ser acompanhada por uma equipe de saúde com obstetrizes, enfermeiros e médicos, seguindo sua gestação do início ao fim.
Os pré-natais devem ser modulares, adequados ao perfil de risco e à individualidade de cada pessoa, com acompanhamento entre consultas, exames e ultrassons adequados a cada trimestre da gestação.
O engajamento da gestante em sua própria rotina de cuidados é uma medida para ser acompanhada. Hoje, a aderência das gestantes ao pré-natal da Alice é de 98% para as consultas e 83% para exames.
2. Time próprio de obstetrícia
É importante contar com um time de obstetras e obstetrizes disponíveis 24/7, não só no pré-natal, mas também durante o período de internação e acompanhamento de parto dentro das maternidades.
O time que realiza o parto é organizado em turnos nas maternidades, com um modelo de remuneração alinhado com o desfecho esperado do parto normal.
Dessa forma, a autonomia e a decisão da gestante em relação ao parto pode ser validada e respeitada por uma equipe humanizada, qualquer que seja a sua via de parto, garantindo melhor coordenação de cuidado e desfechos clínicos.
3. Tecnologia como aliada
A comunicação entre o time de profissionais de saúde e a gestante tem que ser centralizada, garantindo que todo o histórico de saúde da mãe e do bebê estejam organizados e com fácil acesso em um prontuário eletrônico, tais como: o cronograma de pré-natal, resultados de exames, agendamentos de consultas e muitas outras.
4. Estratégias de saúde alinhadas às métricas de custo-efetividade
A gestão da saúde das gestantes reduz a taxa de nascimentos prematuros – na Alice, para menos de 6%, contra 11% do cenário nacional, segundo dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).
Além disso, essa gestão também permite uma visão ampla dos custos do cuidado, medindo e acompanhando como cada profissional aplica os melhores desfechos clínicos e de custo-efetividade dentro dessa jornada. Dessa forma, é possível ajustar todas as pontas do sistema para priorizar os recursos e desenvolver aquelas que precisam de melhorias dentro de cada maternidade, por exemplo.
A Jornada da Gestante é um exemplo em que a pessoa e todo o sistema de saúde saem melhores. As mulheres têm a sua vontade respeitada. Mães e filhos têm melhores resultados de saúde. Cesáreas são realizadas com maior pertinência técnica. O custo é menor para o sistema, o que deveria refletir em menores reajustes anuais dos planos de saúde para todos.
Entendo que esse é um exemplo para onde a saúde caminhará em todo o mundo: gestão integrada e proativa da saúde, apoiada por métricas clínicas, muita tecnologia e incentivos corretos. É inevitável. A saúde privada tem futuro, sim, e já começamos a vivenciá-lo.
*Guilherme Azevedo é cofundador da Alice.