Futuro da Pílula Anticoncepcional é longo, ainda mais depois das suas últimas evoluções

Por Ricardo Bruno

A primeira aprovação de uma pílula contraceptiva já foi, por si só, um marco na história. Criada nos anos 60, década revolucionária para as mulheres e marcada por vários movimentos, como o clássico “a queima dos sutiãs”, a pílula fez parte desse movimento feminista de liberdade porque, apesar de já existirem outros métodos contraceptivos, com a pílula elas dependiam apenas delas. Isso trouxe autonomia para a mulher decidir o momento certo da sua gravidez, o que foi fundamental, também, na liberdade das mulheres e permanece até hoje em dia, como um movimento super importante do liberalismo, da feminilidade e do feminismo. Aqui no Brasil a pílula chegou por volta de 1962, cerca de dois anos depois de seu lançamento, e até hoje é o método mais utilizado pelas brasileiras.

Porém, as primeiras versões continham uma dose alta de estrogênio, inicialmente Mestranol, e com o passar do tempo, surgiu o Etinilestradiol, estrogênio semisintético, em doses altas e, com isso, os casos de tromboembolismo cresceram. Por isso a dose foi diminuída para 50mcg, o que foi considerada dose baixa (Atualmente, praticamente todas as pílulas possuem de 30 microgramas para baixo). Até este momento todas as versões eram combinadas, ou seja, com estrogênio e progestogênio.

No início dos anos 2000, várias inovações foram apresentadas ao mercado de contracepção, como: pílulas com estrogênio natural, que, em termos de modificação de eficácia, não teve alteração, mas que têm um risco um pouco menor de Trombose. Além dos LARCs (contracepção de longa ação), estamos falando dos DIUs com hormônio e os implantes.

Nesse mesmo período, aconteceu o lançamento da primeira pílula de progestogênio efetiva, fora da amamentação, com desogestrel, e antes disso já haviam sido lançadas as mini pílulas, que são eficazes apenas na amamentação e, também, são produzidas somente com progestagênio.

Mas a grande revolução da pílula só aconteceu em 2021, com a descoberta da drospirenona de 4 miligramas, porque, diferentemente do desogestrel, ela tem outros benefícios extra contraceptivos, como um excelente controle de ciclo (com sangramento programado) e, por ser antiandrogênica, é um grande facilitador para a parte estética, pensando principalmente em acne. Essa formulação, também é antimineralocorticoide, ou seja, isso não traz edema e retenção de líquido, fazendo com que as mulheres não ganhem peso e não se sintam inchadas com o uso.

Por mais que existam diversos outros métodos, até com mais eficácia, a tomada diária dá uma confiança muito grande nas pacientes e, por essa confiança e por essa sensação de controle e eficácia, acredito que a pílula tem um grande futuro não só no Brasil, como no mundo inteiro. Até porque, muitas mulheres não querem ou confiam em um método que, que seja colocado e retirado apenas meses ou anos após. Além disso, hoje em dia, o método também é utilizado para controlar sintomas de doenças como endometriose e ovários policísticos… Ou seja, ele ainda continuará sendo usado por muitos anos!


*Ricardo Bruno, Mestre e Doutor em Medicina (pela Universidade Federal do Rio de Janeiro), Chefe do Serviço de Reprodução Humana do Instituto de Ginecologia da UFRJ e Diretor Médico da Exeltis Brasil.

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