Epidemias ambientais urbanas exigem políticas públicas coordenadas

Desde fevereiro de 2020, o Brasil enfrenta um surto recorrente de dengue, juntamente com a pandemia de Covid-19. O rápido crescimento urbano tem colocado pressão nos sistemas de saúde pública, e as infecções virais se tornaram um desafio global. Para compreender esse cenário complexo, um novo estudo desenvolvido na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) analisou os desafios enfrentados pelo Brasil devido às infecções simultâneas de dengue e Covid-19.

O estudo, intitulado “Infecções Concomitantes por Dengue e Covid-19: Políticas Públicas e Análise Espaço-Temporal para Aprimorar a Gestão da Saúde Pública no Brasil,” destaca a importância da compreensão dessas doenças no contexto urbano. A pesquisa, liderada pelo professor Fábio Teodoro de Souza, do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU) da PUCPR, se baseou em dados coletados no município de Campo Mourão, no interior do Paraná, entre 2019 e 2020.

Os pesquisadores analisaram as políticas públicas para manejo das doenças e os dados de evolução da dengue e infecções por Covid-19 ao longo do tempo nos bairros da cidade. Para isso, utilizaram documentos públicos e entrevistas com agentes de saúde na Secretaria Municipal de Saúde e Planejamento, bem como informações fornecidas pela secretaria municipal.

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“Observamos alguma dificuldade na coordenação entre as ações de combate à dengue e à Covid-19, em razão das restrições impostas pela pandemia. Para a dengue, as políticas estavam focadas na identificação de casos, mobilização comunitária e aplicação de inseticidas em locais críticos. Já para a Covid-19, as medidas incluíam a distribuição de materiais educativos e a desinfecção de áreas públicas”, explica o professor. “Os resultados forneceram informações essenciais para o planejamento e a execução de políticas públicas eficazes”, completa.

A proposta é que as informações analisadas possam contribuir para compor um conjunto de boas práticas para o combate às epidemias ambientais urbanas que provavelmente se repetirão no futuro, não apenas nas cidades do Brasil, mas também em outros locais do mundo.

Possibilidade preditiva

Souza explica que dados são relevantes para que os responsáveis pela gestão urbana das cidades tenham elementos científicos para compreender os padrões espaço-temporais da dengue e da Covid-19 e poder predizer com dias de antecedência os locais com maior probabilidade de suas ocorrências. Essas informações permitem o planejamento e execução de políticas públicas eficazes por meio de ações de sustentabilidade ambiental, especialmente no que diz respeito à Educação Ambiental da população.

No caso de Campo Mourão (PR), as localidades próximas ao centro do município foram consideradas muito críticas para ambas as doenças. Diante disso, foi possível identificar que, em muitos aspectos, os esforços empreendidos de forma isolada poderiam ser articulados ou integrados para minimizar custos e aumentar a eficiência nos gastos do orçamento público. “É essencial integrar esforços e políticas públicas para reduzir custos e aumentar a eficiência”, destaca Souza.

Sustentabilidade ambiental: um caminho

Souza destaca a necessidade de implementar programas de educação para a sustentabilidade ambiental, especialmente em áreas urbanas. “O rápido processo de urbanização global torna as áreas urbanas, onde há maior densidade populacional, mais vulneráveis às infecções virais emergentes”, explica.

Uma descoberta crítica foi a falta de conscientização da população sobre questões de sustentabilidade ambiental, especialmente em relação à educação ambiental. A pesquisa destaca ainda que, desde 1990, a legislação municipal de Campo Mourão previa a promoção da educação ambiental nas escolas, mas a falta de regulamentação e financiamento adequados resultou na ausência do ensino nas escolas, levando a sérias consequências para a saúde pública.

“Percebemos a necessidade de promover a educação ambiental desde os níveis iniciais de ensino até o ensino superior, a fim de construir uma cultura de sustentabilidade”, acrescenta Souza.

A pesquisa pode ser acessada na íntegra aqui.

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