Congresso da SBCO trará avanços no tratamento do câncer de mama

O câncer de mama, a neoplasia mais incidente entre as mulheres brasileiras (excluindo o câncer de pele não melanoma), com 73 mil casos previstos para 2025, segundo o INCA, será um dos eixos centrais do Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica, organizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), nos dias 5 a 8 de novembro, no Rio de Janeiro.

Em um momento de avanços científicos rápidos e desafios persistentes de acesso, o conjunto de discussões dedicadas à doença se desdobrará em três módulos interligados (diagnóstico e prevenção, terapias-alvo e reconstrução mamária) com o objetivo de traduzir a inovação tecnológica em benefício clínico real para as pacientes.

“Pensamos o módulo como uma jornada que acompanha o caminho da mulher com câncer de mama, desde o diagnóstico até a reconstrução. É uma proposta de atualização integrada, que reflete a complexidade e a humanização do cuidado oncológico”, explica Viviane Rezende de Oliveira, cirurgiã oncológica e diretora de Relações Parlamentares da SBCO.

A primeira etapa, dedicada ao diagnóstico e à prevenção, abrirá a discussão com um panorama sobre o cenário atual do câncer de mama no Brasil e os principais entraves para o diagnóstico precoce. O módulo contará com apresentações de Renato Cagnacci Neto, Antônio Bailão Junior, Rene Aloisio da Costa Vieira, Sandra Marques Silva Gioia, Ellyete Canella e Tina Hieken, sob moderação de Viviane Rezende de Oliveira e Raquel de Fátima Quintino.

Viviane ressalta que o tema será conduzido a partir de evidências recentes e do impacto da política pública: “Vamos explorar os dados atuais e os desafios do diagnóstico e do tratamento, especialmente dentro do SUS, onde há obstáculos, mas também oportunidades para melhorar o cuidado”, observa.

Entre os pontos de destaque estão as condições e protocolos para a mamoplastia redutora de risco, uma cirurgia com potencial preventivo para mulheres com mutações genéticas hereditárias, que conferem alto risco de desenvolver o tumor. “A mastectomia redutora de risco tem papel fundamental não apenas na prevenção, mas também na sustentabilidade do sistema de saúde. Ao evitar novos casos, reduzimos custos e ampliamos qualidade de vida”, explica a cirurgiã.

O debate também abordará a recente política de navegação de pacientes, iniciativa do Ministério da Saúde que visa aprimorar o acesso e a continuidade do cuidado. “Embora o conceito não seja novo, sua aplicação no SUS é um divisor de águas. A navegação pode significar um diagnóstico mais ágil e uma condução terapêutica mais coordenada”, acrescenta Viviane.

Outro eixo será o papel dos profissionais de imagem no estadiamento e planejamento cirúrgico, que vem sendo profundamente transformado pela tecnologia. “O impacto dos médicos de imagem é enorme, porque a tecnologia vem revolucionando o planejamento terapêutico e ampliando as possibilidades de conservação da mama”, afirma. O módulo encerra com uma discussão sobre o papel da cirurgia redutora de risco e seus benefícios comprovados na sobrevida e na qualidade de vida das pacientes.

No segundo módulo, o foco estará nas terapias personalizadas e na oncologia de precisão, sob moderação de Juliano Rodrigues da Cunha, cirurgião oncológico e mastologista, diretor Nacional de Comunicação da SBCO. Ele explica que a proposta dos palestrantes Mariana Vargas Gil, Gustavo de Castro Gouveia, Allyne Queiroz Carneiro Cagnacci e Jacques Bines é discutir o uso racional de testes genéticos e terapias-alvo em um cenário em que a decisão clínica se torna cada vez mais individualizada. A sessão reúne ainda a participação de Eldom de Medeiros Soares e Bianca Martinez Lellis como debatedores.

“O módulo 2 tem uma linha temática muito rica, centrada na individualização terapêutica e nas novas fronteiras do tratamento. Vamos discutir imunoterapia, testes genéticos e terapias-alvo nos tumores de mama”, antecipa Juliano.

Entre os temas mais aguardados está a atualização sobre o Oncotype DX, teste genômico que ajuda a definir se a paciente realmente se beneficiará da quimioterapia. “É um dos exames mais utilizados no mundo para identificar o risco de recorrência e reduzir a exposição desnecessária à quimioterapia. Representa um relevante avanço da medicina personalizada aplicada à prática clínica”, explica Juliano Cunha.

A programação também trará um olhar aprofundado sobre as mudanças nas condutas cirúrgicas da axila, especialmente em pacientes que apresentam resposta completa após a neoadjuvância. A combinação entre terapias sistêmicas e técnicas menos invasivas marca uma transição para uma cirurgia mais conservadora, com redução de morbidade e ganho funcional. “Estamos vendo a cirurgia evoluir para intervenções cada vez mais seguras e individualizadas. A meta é aumentar a sobrevida livre de doença e minimizar o impacto físico”, comenta o cirurgião.

Outro tema de alta relevância será a imunoterapia nos tumores triplo-negativos iniciais de alto risco, uma das áreas mais promissoras da oncologia moderna. “A incorporação do pembrolizumabe em estágios precoces é um divisor de paradigma, porque reforça a importância do tratamento sistêmico precoce no controle da doença”, ressalta Juliano.

O debate sobre testes genéticos universais promete provocar reflexões éticas e econômicas. Com o avanço dos painéis que investigam múltiplos genes simultaneamente, vem a discussão sobre se todas as mulheres com câncer de mama deveriam ser testadas. “Essa é uma questão central. Até onde expandir o rastreamento genético e quais são as implicações para o sistema de saúde e para as famílias?”, questiona Juliano, destacando que o tema também aborda custos, acesso e a necessidade de equidade no cuidado.

O módulo se encerra com a aplicação prática das terapias-alvo, especialmente dos inibidores de PARP em pacientes com mutações germinativas (herdadas ao nascimento), traduzindo a pesquisa em conduta clínica. “É o reflexo da integração entre ciência e assistência. A oncogenética deixou de ser apenas uma ferramenta diagnóstica e se tornou parte do tratamento”, resume o cirurgião.

O terceiro módulo, também conduzido por Juliano Rodrigues da Cunha, concentra-se na reconstrução mamária e qualidade de vida, com participações de Renato Cagnacci Neto, Romeu Ferreira Daroda, Wesley Pereira Andrade, Gustavo de Castro Gouveia, Sandra Marques Silva Gioia e Daniel Leal. “O foco é discutir os avanços e desafios da reconstrução dentro do contexto oncológico, valorizando a função, a estética e o impacto psicossocial”, explica.

A programação inclui a atualização sobre o câncer inflamatório da mama, uma das formas mais agressivas da doença e sobre a reconstrução imediata em tumores localmente avançados, tema que ganha relevância à medida que as cirurgias tornam-se mais integradas ao planejamento multidisciplinar. “A reconstrução imediata, quando bem indicada, oferece não só um resultado estético melhor, mas também um ganho emocional e funcional significativo”, afirma o mastologista.

Entre os assuntos mais técnicos está o salvamento de próteses infectadas, discussão que exige precisão cirúrgica e manejo criterioso de complicações, e o impacto da reconstrução na qualidade de vida, abordando dimensões físicas e emocionais. “É preciso compreender que a reconstrução não é apenas um procedimento estético, mas sim parte do tratamento e da recuperação da paciente como um todo”, enfatiza Juliano.

O módulo encerra com uma análise comparativa entre as técnicas retropeitoral e pré-peitoral, abordando indicações, resultados funcionais e bem-estar das pacientes. “Na rotina clínica, estamos discutindo técnicas cada vez mais personalizadas, avaliando caso a caso qual é a melhor estratégia. É o encontro entre ciência, técnica e sensibilidade”, resume o cirurgião.

De acordo com Viviane Oliveira, ao reunir especialistas de diversas regiões e áreas da oncologia, o conjunto de discussões sobre câncer de mama reafirma o papel da cirurgia como eixo de integração entre diagnóstico, terapias sistêmicas e reabilitação. “O que buscamos é ampliar o olhar do cirurgião oncológico, inserindo-o em um contexto multidisciplinar e centrado na paciente”, conclui.

Juliano Cunha também observa que os três módulos de câncer de mama no Congresso, mais do que um conjunto de palestras, simbolizam uma virada na forma de pensar o cuidado oncológico, indo da fragmentação à integração e da simples técnica à experiência humana.


Serviço
XVII Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica – 1º Congresso Internacional de Cirurgia Oncológica
5 a 8 de novembro de 2025
Local: Windsor Barra Hotel – Rio de Janeiro (RJ)
Endereço: Av. Lúcio Costa, 2630 – Barra da Tijuca
Inscrições aqui.

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