Câncer de mama: os desafios que continuam após o tratamento

Por Natália Nunes

O câncer de mama é uma das neoplasias mais comuns entre as mulheres em idade reprodutiva, representando um desafio significativo para a saúde pública no Brasil e no mundo. O tratamento frequentemente inclui terapias endócrinas, sobretudo para pacientes com tumores receptores de estrogênio positivo (ER+), que ajudam a reduzir o risco de recidiva. Essas terapias, embora essenciais para o controle da doença, podem trazer efeitos colaterais que impactam a qualidade de vida. Por isso, a fase de sobrevivência traz questões físicas, emocionais, sociais e econômicas que merecem tanta atenção quanto o tratamento em si. Em especial em pacientes jovens.

Estudos mostram que muitas mulheres enfrentam dificuldades para retomar suas atividades profissionais – em parte por limitações físicas, mas também pelo impacto emocional do adoecimento. Além disso, a toxicidade financeira – como é chamado o peso econômico do tratamento, que inclui custos diretos e indiretos, como transporte, afastamentos e perda de renda – pode afetar a qualidade de vida e até mesmo a continuidade do cuidado.

A vida pessoal também passa por transformações. Questões relacionadas com a sexualidade, a imagem corporal e o bem-estar emocional são comuns, especialmente entre as pacientes que realizam terapias endócrinas. Essas medicações, fundamentais para reduzir o risco de recidiva, podem trazer efeitos colaterais que interferem na autoestima, no desejo sexual e na percepção da própria feminilidade, aspectos constantemente subestimados nas consultas.

Um estudo recém-publicado, conduzido por um grupo de médicos brasileiros, do qual faço parte, avaliou mulheres jovens em tratamento endócrino e mostrou que sintomas como alterações na imagem corporal, desconforto sexual e impacto emocional são frequentes e persistentes mesmo após o término do tratamento. A pesquisa utilizou um desenho de coorte prospectiva, acompanhando mulheres pré-menopáusicas com câncer de mama receptor de estrogênio positivo (ER⁺), divididas em dois grupos: terapia endócrina isolada e terapia endócrina com supressão ovariana. A qualidade de vida e os sintomas relacionados ao tratamento foram avaliados por meio de questionários validados (EORTC QLQ-BR2 3), permitindo comparar os efeitos entre os grupos ao longo do tempo.

Cada pessoa apresenta diferentes expectativas, condições clínicas e tolerância aos efeitos adversos das terapias. Por isso, a comunicação entre equipe médica e paciente é fundamental para equilibrar os benefícios oncológicos com a preservação da qualidade de vida.

Essas informações têm implicações práticas diretas. Os profissionais de saúde devem estar preparados para oferecer suporte psicológico, programas de atividades físicas, acompanhamento nutricional e estratégias de manejo de sintomas, contribuindo para uma abordagem holística que vai além do tratamento oncológico tradicional.

O câncer de mama em mulheres jovens é um tema que exige atenção contínua da comunidade médica, dos gestores de saúde e da sociedade. Ao compartilhar os resultados desse estudo, esperamos contribuir para a disseminação de informações que permitam decisões mais conscientes e um cuidado mais abrangente, sempre colocando a qualidade de vida das pacientes no centro do tratamento.

Falar sobre tudo isso é essencial. Sobreviventes precisam de um cuidado contínuo e integral, que envolva suporte psicológico, reabilitação física, acompanhamento nutricional e orientação financeira. Mais do que tratar o tumor, é necessário cuidar da mulher em todas as suas dimensões.

O mês de conscientização do câncer de mama é um convite para ampliarmos o olhar: vencer o câncer é um marco, mas garantir que cada mulher possa reconstruir sua vida com dignidade, saúde e bem-estar é o verdadeiro objetivo da oncologia moderna.


*Natália Nunes é oncologista especialista em câncer de mama da Oncologia Américas e do Hospital Samaritano Barra, da Rede Américas.

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