VBHC: inovações para um sistema sustentável focado no paciente
Por Stephen Stefani e Cláudio Santiago
Qual o papel das empresas de saúde no Brasil de hoje? Em um cenário de constantes desafios, com uma população que envelhece e um sistema de saúde que enfrenta pressões crescentes, a resposta a essa pergunta é mais urgente do que nunca. As empresas de saúde têm a oportunidade de desempenhar um papel central na transformação desse cenário. O caminho? A adoção de modelos inovadores que não apenas priorizem os resultados para os pacientes, mas que também otimizem os custos e evitem a sobrecarga do sistema de saúde.
E como é o Brasil de hoje? De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população idosa deve representar 25,5% dos brasileiros até 2060. Esse cenário de envelhecimento populacional impõe novas demandas e desafios ao sistema de saúde, uma vez que o aumento da longevidade está diretamente ligado à maior necessidade de cuidados médicos especializados. Ao mesmo tempo, estamos vivendo um momento de avanços médicos sem precedentes. Na oncologia, por exemplo, vemos inovações que transformam o tratamento da doença, como terapias celulares, anticorpos biespecíficos, imuno-oncologia e estratégias de targeting tumoral. No entanto, enquanto a medicina evolui, o crescimento econômico do país não acompanha essa revolução tecnológica. Com uma projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 3%, o Brasil não enriquece na mesma velocidade em que as soluções médicas se tornam mais sofisticadas.
Diante desse cenário de crescente demanda por cuidados de saúde e recursos limitados, surge a necessidade de modelos que não apenas promovam a inovação médica, mas que também garantam sustentabilidade ao sistema. Nesse contexto, a Saúde Baseada em Valor (Value-Based Healthcare, ou VBHC) se destaca como uma abordagem revolucionária. Esse modelo coloca o paciente no centro do sistema de saúde, mudando o foco dos processos para os desfechos clínicos. Ou seja, em vez de remunerar os prestadores de serviços por volume de atendimentos, o VBHC propõe que os pagamentos sejam atrelados aos resultados de saúde alcançados. Essa transformação promete não apenas aumentar a eficiência do sistema de saúde, mas também melhorar significativamente a qualidade de vida daqueles que são o centro de quem atua no setor, os pacientes.
Mas o que realmente significa “valor”? Embora esse conceito possa variar e ser complexo, no contexto da saúde ele se traduz em alcançar os melhores resultados possíveis para a população, garantindo uma experiência de cuidado de qualidade e utilizando os recursos de forma eficiente — o que é diferente de simplesmente buscar o menor custo.
É aqui que entra o papel fundamental das empresas e organizações de saúde. Além de trazer inovações, é necessário adotar uma visão holística na gestão de diferentes especialidades médicas, promovendo tratamentos mais eficazes, investindo em educação continuada e construindo pontes entre os diversos players envolvidos no ecossistema de saúde.
Há um receio constante de que o sistema de saúde possa colapsar, mas a verdade é que, se ele continuar nos moldes atuais, se tornará cada vez mais oneroso e insustentável. A indústria de saúde ocupa uma posição estratégica nesse cenário, já que, mais do que simplesmente fornecer medicamentos e tecnologias, temos a responsabilidade de atuar como catalisadora de discussões sobre uma gestão de saúde inovadora. Ao fomentar e liderar diálogos entre governos, prestadores de serviços, operadoras e pacientes, o setor pode propor soluções eficazes para questões urgentes, como o envelhecimento da população, o aumento das doenças crônicas e a limitação de recursos financeiros.
Precisamos redefinir conceitos, colocando o paciente no centro do cuidado e promovendo a colaboração entre equipes e sistemas de saúde. A partir dessa mudança, é possível pensar em um novo modelo de remuneração, que deve ser uma consequência natural da busca pela melhoria do cuidado, e não o ponto de partida. A indústria de saúde tem o poder de liderar esse movimento, impulsionando a criação de um futuro em que o paciente esteja verdadeiramente no centro das decisões e os recursos sejam utilizados de forma eficiente e estratégica.
Somente por meio dessa visão conjunta, será possível superar os desafios e entrarmos em uma era em que estejamos preparados – governo, indústria, organizações e todos os players do setor – para atender às demandas de uma população que envelhece, ao mesmo tempo em que se beneficia dos avanços tecnológicos. Com a inovação, o diálogo e o foco nos desfechos clínicos, podemos construir um caminho mais sustentável e saudável para todos.
*Stephen Stefani é médico oncologista e Cláudio Santiago é diretor de Acesso ao Mercado da AbbVie no Brasil.