Vacinação contra HPV: uma dose de esperança
A prevenção é um dos pilares fundamentais no combate a doenças, principalmente quando se trata de infecções causadas por vírus, incluindo o Papilomavírus humano (HPV). Dentre as medidas de prevenção, destacamos a imunização, que desempenha um papel essencial na redução de doenças infectocontagiosas em todo o mundo.
No Brasil, a vacinação contra o HPV é a principal estratégia para o enfrentamento dessa infecção viral que acomete cerca de 10 milhões de brasileiros, podendo levar ao desenvolvimento do câncer do colo de útero, quarta maior causa de mortalidade da população feminina no país, e que pode também ocasionar outros tipos de câncer relacionados ao vírus, como os de vagina, vulva, ânus, pênis e orofaringe. Entretanto, um levantamento produzido pela Fundação do Câncer mostrou que a cobertura da vacinação contra o HPV está abaixo da meta preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS): 90%. O levantamento apontou que estamos bem aquém. Na população feminina, a cobertura é de 76% para a primeira dose e 57% para a segunda. Com relação aos meninos, o cenário é ainda pior, 52% para a primeira dose e 36% para a segunda dose.
Com a disseminação de estudos científicos e o aprimoramento das estratégias de imunização recomendadas pela OMS, observamos uma mudança no esquema vacinal contra o HPV em diversos países ao redor do mundo. A partir de 2022, a OMS recomendou o esquema vacinal em dose única e não mais em duas doses. Com isso, 37 países adotaram a dose única, que tem se mostrado eficaz na prevenção das infecções causadas pelos principais tipos de HPV. Uma pesquisa feita no Quênia, pela Universidade de Washington, com mulheres de 15 a 20 anos que receberam apenas uma dose da vacina, mostrou que o imunizante é 98% eficaz na prevenção de infecções por HPV. Países como Austrália e Dinamarca migraram para dose única porque já conseguiram controlar ou reduzir a circulação do vírus, as lesões precursoras e o câncer.
Diante desses cenários internacionais, há uma grande expectativa em relação ao Brasil, que acaba de implementar a recomendação da OMS de dose única. Com essa nova abordagem, o país espera aumentar a cobertura vacinal para 90% até os 15 anos, resgatar os adolescentes ainda não vacinados abaixo de 20 anos por meio da busca ativa e incorporar outro grupo prioritário (portadores de papilomatose respiratória recorrente). Ainda não é possível prever exatamente em quanto tempo o Brasil conseguirá atingir essa meta, entretanto, com esse passo dado rumo ao aumento da cobertura da vacinação contra o HPV, com a recente incorporação da testagem molecular para detecção de HPV no Sistema Único de Saúde e com a criação do Grupo de Trabalho para Controle e Eliminação do Câncer do Colo do Útero no âmbito do Ministério da Saúde, há uma expectativa de que o país alcançará a erradicação da doença até 2070.
*Flávia Miranda Corrêa é consultora médica da Fundação do Câncer.