USP inaugura Centro de Terapia Celular

A Universidade São Paulo (USP) inaugurou o Centro de Pesquisa e Inovação – Centro de Terapia Celular (Cepix-CTC), nas instalações da Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto. O evento reuniu autoridades acadêmicas, representantes de agências de fomento e pesquisadores que protagonizaram o desenvolvimento da terapia celular no Brasil ao longo das últimas duas décadas.

O novo Centro de Pesquisa e Difusão Especial (Cepix) é parte da estratégia da USP para institucionalizar os Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids), criados com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) no início dos anos 2000. A iniciativa busca garantir a continuidade de pesquisas de excelência e ampliar o impacto social da ciência desenvolvida na Universidade.

Em seu discurso, o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, destacou a importância de uma política científica de longo prazo. “Hoje é a realização de um sonho que começou com os professores Marco Antonio Zago e Roberto Passeto Falcão há mais de 20 anos. Os Cepix representam a continuidade e o reconhecimento do papel desses centros na formação de recursos humanos, na pesquisa e na inovação. Eles estão agora institucionalizados, com personalidade jurídica, vinculados à administração central da Universidade e às unidades acadêmicas”, disse.

Carlotti também ressaltou o potencial transformador dos Cepix no cenário da saúde pública: “O Brasil ainda é fortemente dependente de tecnologias importadas tanto em equipamentos quanto em imunobiológicos. Desenvolver internamente terapias celulares e imunobiológicas é uma questão de soberania nacional. O SUS [Sistema Único de Saúde] não consegue arcar com os custos praticados no mercado internacional. O Cepix é uma oportunidade de reverter esse quadro com tecnologia acessível e produzida aqui”.

Em cerimônia na Reitoria, 11 novos Centros de Pesquisa e Difusão Especiais são instalados na USP
Segundo o reitor, a Universidade já se articula para buscar financiamentos internacionais e ampliar o alcance dos centros: “Temos parcerias com institutos europeus e queremos voar mais alto, com projetos ousados, interdisciplinares e voltados para os desafios do Brasil. É isso que esperamos dos Cepix. Nosso papel é servir a sociedade com ciência de impacto”. E concluiu: “Só tem sentido uma universidade se ela for um motor de desenvolvimento social. E o Cepix é exatamente isso”.

Juliete Maria Cardoso Palmeira, Esper Kallas, Carlos Gilberto Carlotti Junior, Gil Cunha De Santis, Rodrigo Calado e Jorge Elias Junior

Cooperação e futuro promissor

O diretor-presidente da Fundação Hemocentro e pró-reitor de Pós-Graduação da USP, Rodrigo Calado, relembrou a trajetória do Centro de Terapia Celular (CTC), embrião do Cepix. “Começamos essa jornada no início dos anos 2000, com os professores Zago e Passeto. Depois vieram Dimas Covas, Eduardo Rego e tantos outros que construíram essa história com excelência científica e compromisso com o paciente.”

Calado lembrou que o CTC combinou pesquisa de ponta com a prática clínica em hemoterapia para criar tratamentos inovadores com células do sangue. O resultado foi a consolidação de uma rede interdisciplinar e multi-institucional: “Reunimos cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da Faculdade de Zootecnica e Engenharia de Alimentos (FZEA), do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e da Faculdade de Medicina (FM) da capital, além da expertise tecnológica do Instituto Butantan. Isso permitiu dominar todas as etapas da produção de células CAR-T no Brasil, da modificação genética ao atendimento do paciente”.

O projeto teve reconhecimento internacional e viabilizou um ensaio clínico de fase 2 aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com financiamento do Ministério da Saúde. “Trata-se de uma tecnologia nacional para tratar leucemias, linfomas e mieloma múltiplo, sem depender de empresas estrangeiras. Agora avançamos para doenças autoimunes, como lúpus, e estamos desenvolvendo células NK modificadas, com apoio da Finep [Financiadora de Estudos e Projeto, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação] e que permitirão tratamentos prontos para uso imediato”, afirmou o pró-reitor.

Segundo Calado, “o investimento em biotecnologia é essencial para oferecer tratamento inovador aos pacientes do SUS. A criação do Cepix assegura que esse legado se perpetue, formando novas gerações de cientistas e beneficiando diretamente a saúde pública brasileira”.

O diretor do Instituto Butantan, Esper Kallas, reforçou o compromisso com a ciência nacional: “O Butantan está sempre à procura de bons projetos e grandes talentos. Não vamos medir esforços para levar soluções à saúde pública, especialmente via SUS. O Cepix é um exemplo de como ciência, universidade e indústria podem caminhar juntas”.

Já o diretor da FMRP, Jorge Elias Júnior, destacou o papel da USP na formação científica e celebrou os avanços da terapia celular: “Sempre dizem que o céu é o limite, mas, aqui, acho que a célula é o limite”, brincou. “O Cepix é o reconhecimento de um grupo de excelência e a garantia de sua continuidade. Estamos num momento muito favorável à ciência na USP”, considerou. Elias também lembrou que a FMRP está prestes a concluir o prédio de um novo centro de pesquisa, com 25 mil metros quadrados, que ampliará ainda mais o potencial de inovação da Universidade.

Legado de inovação científica

O recém-inaugurado Cepix – Centro de Terapia Celular da USP – dá continuidade ao trabalho desenvolvido desde 2000 pelo Centro de Terapia Celular (CTC-USP), criado como um dos primeiros Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) financiados pela Fapesp. Sediado no Hemocentro de Ribeirão Preto, em parceria com a FMRP, o CTC foi estruturado com o objetivo de integrar ciência básica, estudos clínicos e inovação tecnológica aplicada à saúde.

Ao longo de mais de duas décadas, o CTC atuou em quatro áreas principais: células-tronco hematopoiéticas, células estromais mesenquimais, células pluripotentes induzidas e células imunocompetentes modificadas, como os linfócitos CAR-T. A infraestrutura inclui laboratórios com certificação da Anvisa e segue as Boas Práticas de Fabricação, necessárias para a produção de terapias avançadas.

O centro foi responsável por diversas iniciativas inéditas no País, entre elas o isolamento de células mesenquimais do cordão umbilical para uso clínico, a geração da primeira linhagem de células-tronco embrionárias humanas e a produção dos primeiros clones bovinos e ovinos. Também desenvolveu proteínas humanas recombinantes utilizadas no tratamento de hemofilia, com registro de patentes, e criou kits e protocolos de diagnóstico voltados à segurança da terapia celular.

Nos últimos anos, o foco se concentrou na terapia celular com células CAR-T, modificadas geneticamente para tratar cânceres hematológicos. O primeiro tratamento experimental foi realizado em 2019. O paciente, diagnosticado com linfoma em estágio avançado, apresentou remissão total da doença. Desde então, outros casos vêm sendo acompanhados e os resultados abriram caminho para o início do estudo clínico Carthedrall, aprovado pela Anvisa. O ensaio clínico pretende tratar 81 pacientes com leucemia e linfoma, com financiamento do Ministério da Saúde. Toda a tecnologia foi desenvolvida na USP.

Com o apoio da Fapesp, CNPq e Instituto Butantan, foi criado o Núcleo de Terapia Avançada (Nutera RP), voltado à produção dessas células em escala para atender a demanda do estudo clínico. A estrutura permite também o desenvolvimento de novas terapias para outras doenças, como o lúpus eritematoso sistêmico, que será tratado com células CAR-T em estudo financiado pelo CNPq. A pesquisa será conduzida no Hospital das Clínicas em Ribeirão Preto e no Hospital das Clínicas em São Paulo.

Outra frente de trabalho em expansão é o uso das células NK (natural killer), que, por não dependerem da coleta do próprio paciente, podem ser produzidas com maior agilidade e aplicadas em larga escala. Estudos com células CAR-NK — uma variação geneticamente modificada dessas células — estão sendo conduzidos pelo Hemocentro de Ribeirão Preto em colaboração com o CTC. Para o desenvolvimento dessa nova abordagem terapêutica voltada ao tratamento do câncer, o Hemocentro recebeu um aporte de quase R$ 50 milhões, por meio do edital Mais Inovação Brasil, com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), da Finep e do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

O CTC também mantém parcerias internacionais, como o projeto com o Institut Curie (França), voltado ao tratamento de linfomas cerebrais com terapia celular. Está prevista a realização de um ensaio clínico conjunto a partir de 2026. Além da pesquisa, o CTC coordena o Programa de Pós-Graduação em Oncologia Clínica, Células-Tronco e Terapia Celular da FMRP, criado em 2011, e mantém atividades de difusão científica com alunos da educação básica, por meio da Casa da Ciência, com destaque para os programas Adote um Cientista e Adote On-line. (Com informações do Jornal da USP. Foto: Vladimir Tasca – SCS/RP)

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