Uso racional de medicamentos: um compromisso pela saúde coletiva
Por Sun Rei Dim
A sociedade contemporânea, em grande parte, vive uma maior facilidade no acesso aos mais diferentes produtos e serviços. Dentre esses, a obtenção de medicamentos se destaca, trazendo consigo tanto vantagens quanto riscos.. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais da metade dos medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos inapropriadamente. Um dado alarmante e que torna emergencial a discussão sobre o Uso Racional de Medicamentos.
No Brasil, a luta pela conscientização da utilização responsável de fármacos ganhou uma data especial, no dia 05 de maio. A primeira campanha nacional sobre o tema aconteceu nesta data em 1999, mesmo ano, inclusive, da criação da Anvisa, iniciativa do Governo Federal à crescente necessidade de um ecossistema farmacêutico mais seguro e eficiente.
Efetivamente, qual o significado do uso racional de um medicamento? A OMS define como a utilização de medicamentos apropriados para suas necessidades clínicas, em doses que atendam suas necessidades individuais, por um período adequado de tempo e ao menor custo para os pacientes e suas comunidades. Com essa orientação, o acesso facilitado ainda levanta questões que precisam de atenção, principalmente sobre os riscos individuais e para a saúde pública trazidos pela automedicação.
Quando alguém recorre à automedicação, normalmente ignora posologias, associa tratamentos sem orientação médica ou utiliza medicamentos sem necessidade clínica real. Os riscos para a saúde do uso inadequado de fármacos incluem a possibilidade de piora de uma doença, uma vez que pode esconder os sintomas de uma situação grave de saúde, a combinação inadequada com outro medicamento, anulando ou potencializando o efeito, possibilidade de reação alérgica ou dependência e, ainda, a resistência aos medicamentos, para citar alguns.
Com 20 anos de atuação liderando times de farmacovigilância, acompanho de perto os impactos estruturais que o uso indevido de medicamentos pode causar. Tal uso inadvertido pode resultar em eventos adversos inesperados e desconhecidos, com potencial razoável de resultar em dano à saúde, minando a credibilidade de tratamentos que, quando administrados corretamente, ajudam a salvar vidas.
O esforço para oferecer tratamentos inovadores com máxima segurança e eficácia só se completa com a adesão consciente da população e o apoio de políticas públicas que eduquem e orientem sobre o uso racional. Profissionais de saúde, estado, indústria e sociedade: todos temos papéis essenciais nesse ecossistema.
O uso racional de medicamentos não é apenas um conceito técnico. É um pacto de responsabilidade. É a ponte entre a inovação científica e o bem-estar individual e coletivo, porque a saúde de todos começa com o compromisso e a consciência de cada um.
*Sun Rei Dim é Diretora de Farmacovigilância da MSD Brasil.