Perspectiva: o desafio da transição demográfica para a saúde
Por Lídia Abdalla
O Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022 confirmou o que estudiosos do tema já identificavam há anos: os brasileiros estão envelhecendo. Hoje, os maiores de 60 anos já representam 15,6% da população e, segundo projeção recente publicada pelo instituto, em 2070, 37,8% dos habitantes do país estarão nessa faixa etária, enquanto o percentual de pessoas entre 40 e 59 anos será de 25,6%.
Com menos nascimentos e o amadurecimento da população, o Brasil está em pleno processo de transição demográfica. Nos próximos anos, a estrutura etária do Brasil perderá o antigo formato de pirâmide, com a base composta pela população jovem, tende à inversão, como mostra a projeção do IBGE, que ainda é mais larga, se estreitando enquanto aumento a população de idosos. E isso acarretará desafios para vários setores da sociedade, sendo o setor de saúde um dos mais exigidos. Ainda que os maiores de 60 estejam cada vez mais saudáveis e autônomos, a maior sobrevida leva ao aumento natural da incidência de doenças associadas à terceira idade – como as crônicas e oncológicas – gerando questões que envolvem a sustentabilidade e a entrega de valor ao paciente.
Sabemos que 70% das decisões clínicas passam pelo laboratório clínico e, com a população vivendo mais, crescerá a necessidade por esses serviços. Ou seja, a demanda por serviços médicos será cada vez maior e a prevenção e o acompanhamento de pacientes com doenças crônicas é um dos caminhos para a sustentabilidade do sistema de saúde como um todo. A visão integral do indivíduo em toda a sua jornada de cuidado, aliada à promoção do autocuidado apoiado por equipes multidisciplinares, como preconiza o modelo da Atenção Primária à Saúde (APS).
O cuidado múltiplo e com visão preventiva, preditiva e personalizada, com enfermeiros, médicos, psicólogos, fisioterapeutas e outros profissionais, apresenta resultados positivos em relação ao desfecho clínico e à qualidade de vida, evitando internações e, até mesmo, que se busque um pronto-socorro desnecessariamente. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a APS, além de prevenir doenças e agravos, pode resolver cerca de 80% das demandas de saúde dos indivíduos, sem necessitar de cuidados mais complexos.
E é exatamente com esse modelo que opera a Amparo Saúde, empresa que integra o ecossistema de negócios do Grupo Sabin e que realiza a gestão de saúde populacional para empresas e operadoras de saúde, aplicando a APS dentro dos princípios de acessibilidade, coordenação do cuidado, integralidade na atenção e longitudinalidade. Queremos estar cada vez mais presentes na jornada de saúde ao longo de toda a vida, alinhando tecnologia, inovação e humanização.
Com 40 anos de história e uma visão atenta aos desafios do setor, o Grupo Sabin acredita na necessidade de mudanças no modelo de saúde no país e no mundo com a contribuição da atenção primária à saúde como resposta à demanda por melhor assistência ao envelhecimento da população. O objetivo é ampliar o acesso à medicina de qualidade para milhões de brasileiros, sendo as pesquisas e tecnologias aliadas do ecossistema de ciência e inovação brasileiro.
O caminho está em construção. Em um país com a dimensão do Brasil, com toda sua complexidade e heterogeneidade, as mudanças e os avanços muitas vezes ocorrem de forma gradual. É preciso progredir ainda mais no diálogo com as diferentes instâncias empresariais, setoriais e governamentais, visando fortalecer o setor e superar os desafios presentes e futuros que se apresentam para todos os elos dessa cadeia produtiva.
É papel das lideranças da saúde atuar para que, cada vez mais, os pacientes estejam no centro do cuidado, de forma mais humana e inclusiva, dentro de uma lógica econômico-financeira sustentável. Somente assim vamos prosseguir rumo a uma sociedade mais justa e menos desigual, transformando o setor de saúde no Brasil e estimulando soluções cada vez mais eficientes.
*Lídia Abdalla é presidente-executiva do Grupo Sabin.