TI como Estratégia de Gestão na Enfermagem Nuclear
Por Wellington Ávila
Na atual conjuntura, todas as áreas do conhecimento foram impactadas com a evolução tecnológica globalmente, sendo em destaque os recursos tecnológicos envolvendo a inteligência artificial. Segundo uma pesquisa global realizada pelo Google em parceria com a empresa de pesquisas Ipsos, 54% dos brasileiros afirmaram utilizar ferramentas tecnológicas de IA no ano de 2024, estando acima da média mundial que foi 48%. A pesquisa apontou também que 65% dos brasileiros revelaram que confiam no potencial da IA também sendo um índice superior à média global de 57%. No Brasil a pesquisa contou com mil brasileiros e no mundo foi realizada em 21 países, totalizando 21 mil pessoas.
No setor da saúde, com ênfase na enfermagem e suas especialidades. A enfermagem está presente em todo campo de atuação no que tange a aplicação do seu conhecimento na área da saúde. Na medicina nuclear não é diferente, há enfermeiros atuantes em práticas combinadas ao uso de materiais radioativos, como os insumos para diagnósticos e tratamentos.
No contexto da aplicabilidade das inovações oriundas da Tecnologia da Informação (TI), surge uma aliada às preocupações no que tange a exposição dos enfermeiros aos materiais de riscos radioativos. A TI possui como potencial estratégico proporcionar a otimização de processos que possa assegurar grande parte da segurança desses profissionais, monitorar situações específicas e promover cuidados com excelência para toda uma equipe de enfermagem atuante nos procedimentos que envolvem manuseio e contatos com materiais radioativos.
Diante de tantas preocupações é possível empregar nos ambientes considerados de riscos, sistemas informatizados capazes de realizar um controle mais preciso quanto a forma de gerenciamento realizada pela enfermagem nuclear, gerando um processo mais eficiente pertinente às suas particularidades, proporcionando assim um ambiente de trabalho mais seguro a partir de premissas comportamentais baseados em cruzamentos de dados em softwares específicos ao problema.
Há uma complexidade na busca de percentuais sobre a enfermagem nuclear no Brasil, isso devido os levantamentos de dados e informações existentes tratarem a enfermagem nesse contexto como um todo, não dividindo em áreas especializadas como a medicina nuclear, logo, os percentuais pertinentes à radiologia nuclear ficam mais difíceis de serem encontrados em âmbito nacional.
Em casos de conteúdos existentes sobre a enfermagem nuclear é possível encontrar pesquisas qualitativas sobre a temáticas relatando o “desgaste físico e mental” de profissionais da área, mas nada mais específico e aprofundado. Recomenda-se para uma forte abordagem do tema, a busca em bases científicas alternativas como “teses de doutorado”, “relatórios técnicos institucionais” e até mesmo realizar uma “visita técnica” aos órgãos que tratam da especialidade.
A especialidade da enfermagem, compreendida como Enfermagem Nuclear foi reconhecida pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) através da Decisão 0065/2021.
A enfermagem nuclear por sua vez procede com a manipulação de radiofármacos, cuja o seu monitoramento precisa ser rigoroso quanto à exposição inevitável à radiação e uma gestão precisa com as equipes de caráter multidisciplinar. No presente cenário, a gestão realizada requer um processo de controle absoluto de protocolos, rastreabilidade de materiais, garantia da biossegurança e documentação precisa de todos os procedimentos existentes e necessários.
Diante do cenário complexo supracitado é recomendado a utilização de tecnologias que viabilizem a automatização e organização desses procedimentos, visando a redução prevista na margem de erro pelo fator humano.
O emprego de softwares específicos na gestão hospitalar com ênfase na rastreabilidade de radioisótopos e sistemas de apoio à decisão clínica pode ser uma opção estratégica nas instituições que atuam com a medicina nuclear, pois essas ferramentas possuem o potencial de viabilizarem: análise de indicadores, automatização de processos de riscos nucleares, gestão da exposição à radiação e integração entre setores envolvidos e suas respectivas atividades na medicina nuclear.
- Análise de indicadores de qualidade: Possui como finalidade realizar o monitoramento e analise de indicadores pertinentes à exposição ocupacional à radiação ionizante, proporcionando à gestão da enfermagem dados atualizados, íntegros e confiáveis favoráveis ao processo de tomada de decisões, promovendo práticas seguras no ambiente de trabalho, cumprindo as normas regulatórias em conformidade com o estabelecido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e outros órgãos envolvidos.
O sistema viabiliza proceder com registro e monitoramento dos casos com potenciais de dose acumulada de radiação pelos enfermeiros, gerando através desta funcionalidade a emissão de relatórios detalhados com dados oriundos da exposição por tempo, setor e tipo de atividade desenvolvida. Os sistemas aplicados de forma específica nesses ambientes, podem também proceder com a emissão de alertas automáticos pertinentes aos níveis que se aproximam dos limites toleráveis, integrando as informações com sistemas de dosimetria individualizada e controles de Equipamentos de Proteção Individual (EPI). - Automatização dos processos de controle de riscos nucleares: Viabiliza o registro de dosimetrias, emissão de alertas, geração de relatórios, controle de EPIs, dentre outros, visando agir diretamente na redução de erros, melhoria do gerenciamento de dados, garantindo a conformidade com as normas da CNEN e o pleno fortalecimento aos processos de tomada de decisões.
- Gestão da exposição à radiação: O objetivo é o monitoramento, registro e controle dos níveis de radiação que os enfermeiros podem receber, proporcionando a garantia que seja realizada as etapas pertinentes a segurança ocupacional, cumprimento das normas regulatórias e a prevenção de riscos à saúde através de dados precisos e ações preventivas e corretivas automatizadas.
- Integração entre os setores envolvidos: Assegura o gerenciamento eficaz da segurança radiológica por meio do compartilhamento de dados e informações, atuando como facilitador no processo de monitoramento contínuo das exposições à radiação. Viabiliza de forma lógica a adoção de medidas preventivas e corretivas, promovendo respostas imediatas em caso de situações de risco com o foco na proteção dos enfermeiros.
Vale destacar que embora a implementação de TI na enfermagem nuclear requer atenção aos desafios e complexidades da área, os profissionais enfermeiros que irão operar os sistemas informatizados, precisam possuir qualificação para a utilização dos sistemas, além da instituição de saúde precisar envidar esforços quanto ao investimento em infraestrutura, segurança das informações digitais e em especial a proteção de dados sensíveis dos enfermeiros envolvidos, todos os procedimentos estando em conformidade com a LGPD 13.709/2018.
A Tecnologia da Informação se tornou um dos principais recursos indispensável no que tange as boas práticas de gestão eficaz e segura na enfermagem nuclear. Isso devido proporcionar o controle preciso de processos, facilitar a comunicação entre equipes e fornecer de maneira estratégica suporte à tomada de decisões, aos softwares e sistemas de TI que potencializam a maneira dos profissionais de enfermagem atuarem, elevando a qualidade da assistência do serviço e promovendo melhores resultados clínicos. O investimento contínuo em tecnologia, capacitação e infraestrutura deve ser visto como parte estratégica no desenvolvimento da prática da enfermagem dentro da medicina nuclear.
Portanto é possível a percepção de que a Tecnologia da informação desempenha um papel cada vez mais importante nos processos que envolvem a saúde e seus profissionais enfermeiro, inclusive os atuantes na medicina nuclear que requer maior atenção pertinente a proteção radioativa. Há uma preocupação constante da gestão da enfermagem no que tange a exposição à radiação ionizante, requerendo estratégias que possam minimizar os riscos.
*Wellington Ávila é Consultor em Governança Corporativa de Tecnologia da Informação e Cybersecurity, Diretor de Pesquisas do Instituto de Defesa Cibernética – IDCiber, Professor Universitário e Membro da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde – SBIS.