SOBRAC e Febrasgo lançam novo consenso sobre terapia hormonal
Foi publicado o Consenso Brasileiro de Terapêutica Hormonal do Climatério 2024, que atualiza as diretrizes relacionadas à administração da terapia hormonal (TH) da menopausa, reforçando a alta eficácia e segurança do tratamento. Realizado pela Associação Brasileira de Climatério (SOBRAC) em parceria com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o documento foi apresentado durante o XIII Congresso Brasileiro de Climatério e Menopausa, que acontece entre 02 a 04 de maio, em São Paulo.
“Esse novo consenso é o que há de mais recente e confiável sobre a reposição hormonal da menopausa, reforçando os inúmeros benefícios desse tratamento, que superam significativamente os possíveis riscos. A terapia hormonal é recomendada para quase todas as mulheres que sofrem com os sintomas da menopausa, com poucas contraindicações”, diz o ginecologista Igor Padovesi, especialista em menopausa e membro da North American Menopause Society (NAMS), da International Menopause Society (IMS) e da Associação Brasileira de Climatério (SOBRAC).
De acordo com o especialista, o consenso foi elaborado a partir de publicações de excelente qualidade e altíssimo nível de evidências científicas, tornando suas conclusões inquestionáveis. Esse novo consenso da SOBRAC soma-se a diversas outras publicações de instituições internacionais, como a North American Menopause Society e a International Menopause Society, que apontam a terapia hormonal como a melhor opção não só para o alívio dos sintomas da menopausa, como também para prevenção de doenças e aumento da longevidade.
O documento reitera a eficácia da TH para as quatro indicações já consagradas: o tratamento dos famosos fogachos, da síndrome genitourinária da menopausa (antigamente chamada de atrofia urogenital), a prevenção e tratamento da perda de massa óssea relacionada à menopausa, e a menopausa precoce (antes dos 45 anos). Mas, além disso, o consenso aponta diversos outros benefícios já reconhecidos do tratamento hormonal. “A TH comprovadamente confere proteção cardiovascular para as mulheres, reduz a mortalidade por diversas causas, reduz o risco de diabetes, melhora o sono, os sintomas depressivos, a função sexual, reduz o risco de câncer de colorretal e até de Alzheimer. Tudo isso está expressamente escrito no consenso”, afirma o ginecologista. “O tratamento adequado também diminui o acúmulo de gordura corporal, principalmente na região do abdômen, e estabiliza os danos causados pela falta de estrogênio na pele, que confere uma aparência envelhecida e enrugada”, acrescenta.
O consenso também traz diretrizes sobre a maneira ideal de administração desses hormônios para potencializar a eficácia e reduzir riscos. “Atualmente, preconiza-se que a terapia hormonal seja realizada com hormônios por via ‘não oral’, por exemplo, através da pele. Grande parte dos riscos conhecidos da terapia hormonal se dão pela administração incorreta ou pelo uso de hormônios sintéticos e por via oral, esquemas terapêuticos utilizados no passado”, diz Igor, que explica que a TH hormonal possui alguns riscos, mas que são muito pequenos e podem ser controlados seguindo as recomendações corretas apontadas também no documento. “O câncer uterino é um possível risco da TH, ocorrendo devido ao desenvolvimento descontrolado do endométrio causado pelo estrogênio. Mas, para controlar esse processo, administramos também progesterona. Outra possibilidade é o câncer de mama, mas esse risco é muito pequeno: menos de uma para cada mil mulheres. Então, a grande maioria das mulheres pode realizar a terapia hormonal sem preocupações.”
A publicação também trata das contraindicações da terapia hormonal da menopausa, como a doença hepática descompensada, certas doenças cardiovasculares e venosas, câncer de mama e de endométrio e sangramento vaginal de causa desconhecida. Mas mesmo essas situações podem não ser consideradas contraindicações absolutas. “Muitas vezes, a TH pode sim ser indicada, após cuidadosa avaliação dos riscos e benefícios. É preciso lembrar que também existem riscos de não usar a terapia hormonal, como o aumento de risco cardiovascular, de osteoporose e fraturas, além dos sintomas que podem impactar muito na qualidade de vida”, destaca o especialista. “A recomendação é individualizar o tratamento, pois os sintomas podem variar bastante e existem diferentes tipos de hormônios, doses e vias de administração. A avaliação por um profissional experiente é fundamental”, completa.
Igor Padovesi ressalta que a leitura do Consenso Brasileiro de Terapêutica Hormonal do Climatério 2024 deveria ser obrigatória para todos os ginecologistas e endocrinologistas. “Ainda hoje existem médicos que se opõem à terapia hormonal com base no que aprenderam vários anos atrás, deixando inúmeras pacientes desassistidas, com a qualidade de vida completamente prejudicada e ainda sob maior risco de doenças cardiovasculares, que é a causa número um de morte em mulheres”, detalha. Igor também acrescenta que a terapia hormonal é especialmente importante devido ao aumento da longevidade. “Hoje, a expectativa de vida da mulher é de cerca de 80 anos. Ou seja, pensando que os primeiros sintomas começam a surgir por volta dos 40 anos e a menopausa costuma chegar perto dos 50, podemos dizer que a mulher passa quase metade da sua vida na menopausa. E a mulher de 50 anos de hoje é completamente diferente das gerações anteriores: é uma mulher ativa, que está no auge da carreira, que quer preservar sua sexualidade, se cuidar e retardar os efeitos do envelhecimento. Então é fundamental que pacientes e médicos estejam cientes da eficácia e segurança da terapia hormonal da menopausa”, finaliza.