Tendências para healthtechs em 2023: Metaverso, IoT e IA
Por Rafael Kenji Fonseca Hamada
O setor de inovação em todas as áreas acompanha o cenário macroeconômico mundial, com picos e quedas em investimentos e apostas do mercado. No setor da saúde, os novos casos de infecção da Covid-19 são motivos importantes para o investimento na área continuar crescendo. Em todo momento de necessidade, como em guerras e pandemias, soluções são criadas.
A penicilina, por exemplo, descoberta pelo oficial médico Alexander Fleming, em 1928, após a contaminação ocasional pelo fungo do gênero Penicillium em uma amostra de bactérias do gênero Staphylococcus, deu início a uma série de experimentações e criações durante e após as guerras. O pesquisador foi o precursor dos antibióticos.
A transfusão sanguínea e os bancos de sangue foram desenvolvidos e aperfeiçoados durante a Guerra Civil Espanhola; o soro fisiológico e a morfina são outros exemplos de itens desenvolvidos em situações de extrema necessidade entre guerras. Na pandemia de Covid-19, que ainda não chegou ao fim, apesar da diminuição dos casos, tecnologias voltadas à telemedicina, à inteligência artificial para análise de processos e biotecnologias, como as novas vacinas e os novos medicamentos, são as soluções mais desenvolvidas.
Em toda ocasião que exista a necessidade de resolução urgente de algum problema a inovação acontecerá, porque inovar é a capacidade de tirar do papel ideias escaláveis, replicáveis e disruptivas, com o objetivo de resolver uma dor latente do mercado.
Fora o contexto de pandemia, a saúde conta com outras grandes dores a serem medicadas. Além das doenças negligenciadas, motivo de queda da qualidade e expectativa de vida em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, já se sabe que mais da metade das mortes do mundo poderiam ser evitadas, pois estão relacionadas a doenças crônicas cardiovasculares, endócrinas e ao mau hábito de vida, como o tabagismo e a obesidade.
Portanto, soluções que ampliam o acesso à informação, com foco na prevenção, contribuem diretamente para a melhora da qualidade de vida da população, a diminuição de gastos desnecessários e o aumento da sobrevida. Com impacto direto na economia, essas iniciativas ainda favorecem a perspectiva de vida da força de trabalho produtiva: o adulto jovem.
Nesse sentido, a forma mais rápida e escalável de inovar em saúde é por meio das healthtechs, startups que atuam no setor da saúde. No exterior, essas empresas também são chamadas de medtechs e contam com relação direta com as pharmatechs e biotechs para desenvolvimento de bio e nanomoléculas, além de medicamentos e vacinas.
Pensando globalmente, as principais tendências para a inovação em saúde em 2023 estão voltadas ao metaverso e à inteligência artificial, com foco em melhorar o acesso à informação, à gestão de processos hospitalares e à análise de dados, além do relacionamento médico-paciente, por meio da telemedicina, dos wearables e da Internet das Coisas (IoT). Nada muito diferente do que foi visto em 2021 e 2022. Afinal, o problema urgente a ser resolvido no mundo ainda é a pandemia e suas consequências diretas e indiretas.
Por isso, a democratização do acesso à saúde tem papel muito importante na diminuição de desigualdades, mesmo que indiretamente. Uma população com mais acessos e mais informada cobra melhor seus governantes e está mais atenta às variações do mercado. Além disso, o direito à saúde de qualidade é dever do Estado, garantido pela Constituição Federal. O desafio, no entanto, deve ser o foco das esferas pública e privada e do terceiro setor que deve ser direcionado à medicina qualificada, considerando as desigualdades sociais, econômicas e regionais do Brasil.
No geral, a expectativa do mercado para 2023 é de retomada do crescimento de investimentos em ciência e inovação, mesmo que tímido devido à crise financeira global. Já no Brasil, a mudança do cenário político ainda gera especulações sobre o limite de gastos, o interesse externo no país e o risco ao investidor. Mas, de fato, toda a América Latina apresenta oportunidades para o crescimento da área.
*Rafael Kenji Hamada é médico e CEO da FHE Ventures.