Se minha avó não consegue usar, não é inovação de verdade

Por Rafael Teixeira

Vivemos na era da tecnologia acelerada, em que todos os dias surgem soluções digitais para tornar processos mais rápidos, inteligentes e eficientes. Na prática, porém, boa parte dessas inovações nasce com um público muito específico em mente: os mais jovens, digitais, autônomos e ágeis. O problema? Quando falamos de saúde, essa lógica simplesmente não funciona ou, no mínimo, não deveria funcionar.

A realidade demográfica do Brasil já aponta um caminho claro: precisamos olhar, urgentemente, para a terceira idade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, 10,9% dos brasileiros tinham 65 anos ou mais, o que representa um crescimento de 57,4% em relação a 2010. E essa curva não para de subir. As projeções indicam que, até 2070, 37,8% da população brasileira será composta por idosos. Isso significa que, em poucas décadas, um a cada três brasileiros estará na terceira idade.

É um dado que deveria ser central em qualquer planejamento de inovação na saúde, mas infelizmente, ainda não é.

A tecnologia não pode excluir quem mais precisa dela

Se olharmos com atenção, muitas das ferramentas digitais criadas para a área da saúde parecem ignorar completamente as necessidades, limitações e preferência dos idosos. Plataformas de agendamento online, aplicativos confusos, atendimentos robotizados e interfaces pouco intuitivas tornam a experiência dessas pessoas mais difícil quando, na verdade, deveriam simplificá-la.

Na Clínica da Cidade, por exemplo, mesmo com todas as ferramentas digitais disponíveis, 50% dos agendamentos ainda são feitos por telefone. Isso não é resistência ao novo. É uma escolha que reflete algo muito simples: nem toda tecnologia é, de fato, acessível para todos. E, se ela não serve para todos – especialmente para quem mais depende de cuidados – podemos realmente chamá-la de inovação?

Por isso, acredito que a resposta não está em descartar a tecnologia, mas em colocá-la a serviço de todos, sem substituir a humanização, sem criar barreiras invisíveis e sem esquecer de quem não nasceu na era digital. Precisamos pensar em soluções que combinam simplicidade, empatia e funcionalidade. Tecnologias inclusivas são aquelas que qualquer pessoa consegue utilizar – inclusive (e principalmente) aquela que precisa aumentar a fonte do celular, que prefere ouvir uma voz humana ao invés de uma gravação e que se sente mais segura confirmando um exame com um atendente do outro lado da linha.

Inovar na saúde, hoje, é criar aplicativos com navegação simples, botões grandes, linguagem direta e suporte humano acessível. É ter canais híbridos: digital para quem quer e pode, telefônico e presencial para quem precisa. É entender que automação não é sinônimo de desumanização.

Se a maior parte dos nossos pacientes de hoje já faz parte da terceira idade – e a tendência é que esse número cresça exponencialmente -, não podemos mais desenvolver soluções pensando apenas nos nativos digitais. Isso vale para clínicas, hospitais, laboratórios, planos de saúde e qualquer outro serviço que atenda pessoas. E, sim, idosos são (e continuarão sendo) uma fatia cada vez mais relevante desse público.

No fim das contas, a régua da inovação deveria ser simples: se a minha avó não consegue usar, então não é inovação de verdade. O desafio é grande, mas a oportunidade é ainda maior. Fazer tecnologia que inclua, que acolha e que realmente cuide – esse é o caminho para o futuro da saúde.


*Rafael Teixeira é CEO da Clínica da Cidade.

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