Tecnologias na gestão da saúde pública apoiam humanização
Por Felipe Clemente
Nos últimos anos, o debate sobre o uso de tecnologias na área da saúde passou por transformações importantes, que mostram como o setor tornou-se mais aberto às novidades tecnológicas. Um dos principais exemplos é a telessaúde: em dezembro de 2022, foi aprovado o texto base do projeto de lei que autoriza a sua prática no Brasil, após anos de discussão sobre o tema. Outro dado que confirma a aproximação entre saúde e tecnologia diz respeito às healthtechs. Segundo um estudo da Liga Ventures com a PWC, o número de healthtechs no Brasil aumentou 16,1% entre 2019 e 2022. Mas o que isso tudo significa para o sistema público de saúde, o acesso ao atendimento médico por parte de brasileiros que moram longe dos grandes centros urbanos e a capacidade de atendimento pós-Covid-19?
O trabalho de gestão da saúde pública no Brasil é referência internacional graças a princípios como a universalidade e a alta capilaridade do SUS. Porém, considerando, também, que vivemos em um país de dimensões continentais, muitos desafios de gestão ainda são enfrentados. Falta de leitos, verbas escassas e longas filas de espera são alguns desafios da gestão de saúde pública que ficaram ainda mais evidentes no contexto da pandemia da Covid-19. Outros agravantes, como a triagem ineficaz – que sobrecarrega os serviços de emergência com quadros leves -, e a má distribuição de médicos no território brasileiro contribuem para aumentar as filas de espera nas instituições médicas. Diante desses desafios, a regulamentação da telessaúde, citada no começo do texto, é uma mudança positiva em relação à democratização do acesso à saúde pela população que vive fora dos grandes centros urbanos no Brasil.
No entanto, agora há também o desafio de lidar com as demandas reprimidas durante o período da pandemia e o aumento das filas exige um aprimoramento refinado do sistema, que precisa otimizar sua capacidade de atendimento. A ausência de processos digitalizados dificulta bastante o cenário, tendo em vista que os trabalhos manuais exigem um tempo extra de dedicação dos colaboradores. Isso gera atrasos e falhas operacionais que poderiam ser evitadas com o uso de sistemas inteligentes para agendamentos, por exemplo.
Além de otimizarem processos internos, o suporte tecnológico proporciona maior segurança de dados e os softwares especializados contribuem também para a qualidade da assistência prestada aos pacientes, proporcionando atendimentos mais personalizados. Isso porque, ao viabilizarem a organização e estruturação dos fluxos de trabalho nas instituições de saúde, as ferramentas inteligentes promovem uma rotina corporativa mais ágil e eficaz. Os colaboradores ficam livres do risco de falhas operacionais e da sobrecarga de trabalhos que antes eram manuais e repetitivos.
A automatização de tarefas culmina, portanto, no olhar mais humanizado para os pacientes. Afinal, como as equipes terão mais tempo livre, poderão redirecionar seus esforços para a personalização dos atendimentos. Isso resulta em uma assistência mais acolhedora e empática, o que é essencial para favorecer a experiência do paciente na instituição de saúde e garantir o engajamento nos tratamentos indicados. Em linhas gerais, podemos dizer que a assistência tecnológica faz a parte mais operacional dos processos hospitalares para que os colaboradores possam priorizar o fator humano na assistência prestada diretamente aos pacientes. Nesse processo, todos os envolvidos saem ganhando – desde o gestor, passando pelos colaboradores e culminando no bem-estar dos pacientes em larga escala.
*Felipe Clemente é CEO da Pixeon.