O papel da tecnologia para ajudar a reduzir as desigualdades na saúde
Por Rafael Figueroa
O cenário da saúde brasileira reflete muitas vezes a desigualdade entre regiões e unidades hospitalares. Para dar uma ideia dessa disparidade: se hoje um paciente chega com um ataque cardíaco em um hospital de ponta de São Paulo, ele tem 97% de chance de sobreviver. Mas se ele estiver em uma cidade pequena, a alguns quilômetros de distância no mesmo Estado, esse índice cai para 75%.
Mas, afinal, como minimizar a diferença de qualidade de atendimento entre um grande hospital em São Paulo e uma pequena clínica situada em uma área remota?
O caminho para nivelar melhor estes índices é complexo. Basta lembrar que mais da metade dos médicos do Brasil (53,2%) está concentrada na região Sudeste, e a maior parte, na região metropolitana.
Uma das principais ferramentas para reduzir este abismo é a tecnologia, utilizada de duas formas principais: conectando médicos de diferentes especialidades dos grandes centros a médicos e pacientes de áreas remotas; e utilizando inteligência artificial e machine learning para dar suporte e agilidade a diagnósticos.
Em Tarumã, cidade de 15 mil habitantes, distante 457 quilômetros de São Paulo, o número de mortes por doenças cardiológicas reduziu 45% após um ano de implementação de uma plataforma de telemedicina nas unidades básicas de saúde.
E, após 18 meses, o gasto da prefeitura com doenças cardíacas reduziu em 30%. O resultado foi reconhecido como uma prática inspiradora para ser aplicada em outros municípios no Programa Parcerias Municipais do Governo do Estado de São Paulo.
O custo para implantação deste tipo de tecnologia é muito baixo. Se a unidade de saúde já dispõe de equipamentos médicos e internet, é praticamente nulo, já que o pagamento após a instalação desta plataforma é por demanda.
Com uso de um software avançado, há possibilidade de conexão com 90% dos equipamentos médicos do mercado. Assim que instalado, os próprios aparelhos passam a transmitir dados coletados nos exames de forma automatizada a uma central com milhares de médicos renomados disponíveis a qualquer hora do dia.
Os algoritmos de machine learning e a inteligência artificial detectam alterações nos exames com precisão de 90% e fazem uma triagem, colocando-os como prioridade.
Isso permite que em casos graves, como infarto do miocárdio, o laudo do exame seja emitido em até cinco minutos. Se o paciente necessitar de uma intervenção rápida para ser estabilizado, o cardiologista na outra ponta entra em contato imediato com o profissional de saúde que está realizando o exame por videoconferência.
O case de Tarumã é só um exemplo de como a inteligência artificial pode ajudar a reduzir desigualdades na área da saúde. É assim que a tecnologia transforma qualquer pequena clínica em um grande centro de saúde.
Ao mesmo tempo que há ganho significativo na qualidade do atendimento, há possibilidades de redução de custos. E assim é possível diminuir desigualdades e levar acesso à saúde de qualidade a todos. Dessa forma, se reduz a distância não só de Tarumã e São Paulo, mas entre a doença e a cura.
*Rafael Figueroa é CEO e cofundador da Portal Telemedicina.