Relatório alerta para pressão e riscos enfrentados por profissionais de saúde

Com a sobrecarga crescente de profissionais de saúde no Brasil, o Synergos Brasil — organização internacional que fomenta o conhecimento entre lideranças para enfrentar desafios sociais — em parceria com a FGVsaúde, lançou a 2ª edição do relatório do projeto “Diálogo sobre Políticas para Resiliência e Bem-Estar dos Profissionais de Saúde”, que traz uma análise aprofundada dos desafios e soluções para fortalecer a resiliência e bem-estar dos trabalhadores de saúde, especialmente daqueles que atuam na linha de frente.

O lançamento, que aconteceu Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília, reuniu representantes de instituições, do Ministério da Saúde e de secretarias de diversos estados, do CONASS (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), além de lideranças da área para debater os impactos que atingem os profissionais.

O documento, que tem apoio da J&J Foundation, identifica as pressões enfrentadas por enfermeiros, médicos e equipes de apoio, envolvendo questões como assédio, falta de diversidade e os impactos das mudanças climáticas, destacando a importância de uma ação coordenada entre os setores público e privado, academia, sociedade civil e filantropia para promover um ambiente mais saudável e inclusivo.

“Queremos dialogar em torno desses problemas com diferentes instituições que compõem esse sistema para trazer soluções e elevar a qualidade da discussão, de forma que consiga exercer influência para que esses temas estejam efetivamente na agenda das organizações”, falou a diretora para a América Latina do Synergos, Silvia Morais.

A Profª. Ana Maria Malik, da FGV-Saúde, pontuou que, ao não cuidar da saúde dos trabalhadores da área, quem sofre é o paciente. “Trabalhar com a saúde mental dos trabalhadores em todos os níveis, do gestor ao segurança da porta, afeta diretamente a segurança dos pacientes”, afirmou.

O relatório, que contou com contribuições de 21 organizações representativas do setor, aborda seis pilares essenciais para a melhoria das condições de trabalho e da qualidade do atendimento à população. Um deles trata sobre a violência, como assédio e discriminação, que tem impacto direto na saúde e no ambiente de trabalho, gerando danos psicológicos profundos e prejuízos institucionais, como alta rotatividade e queda de desempenho. O conteúdo enfatiza a necessidade de uma política clara de combate ao assédio, com protocolos de denúncia seguros e campanhas de conscientização frequentes para promover uma cultura de respeito e apoio mútuo.

Outro ponto destacado refere-se aos impactos das mudanças climáticas no setor de saúde, ao impor novos desafios aos trabalhadores, que enfrentam demandas associadas a eventos climáticos extremos, surtos de doenças e desastres naturais. As recomendações ressaltam a necessidade de adaptar o sistema de saúde a essas mudanças, com políticas preventivas e protocolos de resposta rápida, além de uma preparação constante dos profissionais para atuar nesses cenários emergenciais. “A sustentabilidade e adaptação ao clima não são apenas questões ambientais; são essenciais para a resiliência do sistema e a segurança de seus profissionais”, alerta o documento.

Diversidade, equidade e inclusão são mais alguns aspectos abordados no relatório. A carência de políticas de diversidade nas instituições de saúde limita a integração das equipes e afeta a representatividade junto aos pacientes. O relatório alerta que equipes mais diversificadas e capacitadas para lidar com a pluralidade cultural favorecem um ambiente mais justo e coeso, impactando positivamente a saúde dos profissionais e a percepção dos pacientes. “A criação de políticas autênticas de diversidade, equidade e inclusão deve ir além do discurso e ser uma prioridade das lideranças”, recomendam os autores.

“É preciso construir mecanismo que possam representar a valorização dos trabalhadores e enfrentar questões que são estruturantes da sociedade. Estamos falando de saúde como bem social”, disse a coordenadora-geral de Gestão e Valorização do Trabalho na Saúde, do Ministério da Saúde, Érica Bowes.

Gestão de pessoas e escuta de qualidade

Na discussão acerca das temáticas trazidas no relatório, os debatedores frisaram que a gestão eficaz de pessoas, com suporte emocional e valorização, emerge como um dos principais fatores para a resiliência e retenção dos trabalhadores, especialmente os que lidam diretamente com o atendimento a pacientes, na linha de frente.

“Precisamos ter um olhar, principalmente aos gerentes de unidade de saúde. Muitos deles precisam ser capacitados, com curso de humanização e de relações interpessoais. Pois o profissional, quando está na linha de frente, ele quer proporcionar o melhor cuidado, mas ele também quer ser bem acolhido e, para isso, é necessário comunicação e ter uma equipe que possa ouvi-lo”, salientou a diretora do CONACS (Confederação Nacional dos Agentes Comunitário de Saúde), Zilar Portela.

“Cuidar da linha de frente é cuidar da imagem da própria democracia e de como a sociedade é cuidada e tratada. Que a gente priorize o olhar para os profissionais da linha de frente quando pensar em políticas de gestão de trabalho”, frisou a professora de administração pública da FGV-SP, Gabriela Lotta.

Participaram ainda das discussões Ariana Frances, da Ouvidora-Geral da União; Priscila Surita, superintendente de ESG do Hospital Israelita Albert Einstein; Haroldo Pontes, assessor técnico do CONASS (Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde) e Marcelo Kimati, médico psiquiatra e assessor da presidência da Fundacentro.

A 2ª edição do relatório do projeto “Diálogo sobre Políticas para Resiliência e Bem-Estar dos Profissionais de Saúde” está disponível aqui e as discussões podem ser conferidas no canal do Youtube do Synergos.

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