Sustentabilidade na saúde: tecnologia para um ecossistema equilibrado
Por Igor Zanetti
Nós, brasileiros, temos o privilégio de ter um sistema público universal de saúde que, em várias áreas, serve de referência para o mundo. E isso não é um exagero. O SUS deve ser incansavelmente enaltecido pelo conceito de ampliação de acesso à saúde, disponibilidade de atendimento e serviços transformadores, e pelo esforço de uma equipe de profissionais sempre empenhada em melhorar a vida de mais de 200 milhões de pessoas. Os programas para oncologia, HIV e transplantes, além do Programa Nacional de Vacinação, estão entre os melhores do mundo. Mas eis que surge uma grande questão: será que o atual modelo de saúde está mais próximo da conquista da tão almejada sustentabilidade?
Após participar de muitos eventos sobre essa temática nos últimos tempos, não tenho dúvida de que caminhamos rumo a um ecossistema saudável e justo. Ainda vivenciamos desafios e esperamos um caminho tortuoso a percorrer, mas já existe o senso comum entre gestores, indústria e profissionais de saúde nos âmbitos público e privado, sobre a urgência da prática e adoção de uma medicina preventiva, preditiva, participativa e integralizada.
Se a tecnologia provoca uma revolução constante em diferentes aspectos nas nossas vidas, ela também vem revolucionando a medicina e contribui para o equilíbrio no setor. Um exemplo prático é o das consultas à distância que amplificaram o acesso da população aos profissionais de saúde, diminuem filas desnecessárias e reduzem os custos para o sistema e para a população.
Outro avanço considerável diz respeito à importância da coleta de dados e informações que é facilitada pela tecnologia, como estratégia de mudança. É assim que poderemos reconhecer o perfil do paciente, analisar a necessidade de cada um para mudar os parâmetros de atendimento e oferecer opções inteligentes em serviços de saúde. Tanto a inteligência artificial como a criação de algoritmos preditivos permitem um cruzamento poderoso de dados, resultando em mais saúde e menos desperdícios para toda a cadeia. O desafio, no entanto, está na implantação de toda essa comunicação de dados em larga escala e de forma integrada.
O objetivo é que os dados de cada um dos brasileiros estejam disponíveis e possam ser acessados em qualquer serviço de saúde do território nacional. Claro que há chão pela frente para isso, mas vamos conseguir. E, neste contexto de armazenagem e compartilhamento de dados, creio que a LGPD não deva ser encarada como uma sombra na busca pela interoperabilidade de dados. Acho que a legislação beneficia a todos ao associar segurança e transparência ao processo.
Para o equilíbrio pleno desse complexo ecossistema, a tecnologia é aliada por também trazer novas técnicas cirúrgicas, medicamentos modernos, dispositivos de ponta e terapias com maior custo-efetividade. Gostaria de chamar a atenção para as cirurgias minimamente invasivas, e para como elas reúnem benefícios à saúde do paciente, para o dinamismo das filas de espera, e redução de custos para os envolvidos.
Sem grandes incisões, essas intervenções possibilitam redução no tempo de internação, número reduzido de complicações e retornos hospitalares, quantidade menor de dias de afastamento do trabalho e custo-efetividade. Exemplos são vistos com cirurgias bariátricas ou metabólicas, ortopédicas para tratar pacientes com escoliose e câncer, entre outras. Outro procedimento minimamente invasivo que merece destaque pelos benefícios citados acima é o da trombectomia mecânica para o tratamento de pacientes vítimas de AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Enfim, do lado tecnológico, existem cada vez mais soluções factíveis para aperfeiçoarmos o sistema de saúde do país. Vivemos um momento rico de experiências positivas. Reconhecer, conhecer e avançar são atitudes que farão a diferença.
*Igor Zanetti é diretor de Acesso e assuntos corporativos da Medtronic Brasil.