Sustentabilidade na saúde começa na organização do ciclo de receita

Por Bruno Lee

A sustentabilidade financeira da saúde não será alcançada comprimindo margens. Ela depende da nossa capacidade de reconstruir lógica, incentivos e previsibilidade no sistema. E, analisando o movimento real do setor, eu chego a uma conclusão que precisa ser encarada com menos tabu e mais pragmatismo: não existe saída sustentável sem inovação aplicada ao ciclo de receita.

Não estamos diante de um problema conjuntural de curto prazo. Estamos diante de um paradoxo estrutural que se arrasta há anos. Segundo o IESS, no período de 12 meses encerrados em março de 2025, a VCMH (Variação do Custo Médico-Hospitalar) registrou 14,5% de crescimento — novamente muito acima da inflação geral do período. Para efeito de comparação, o relatório anterior, referente aos 12 meses encerrados em dezembro de 2024, já havia apontado alta de 12,9%. (Fontes: IESS – VCMH mar/2025 e VCMH jul/2025). Essa divergência prolongada desmonta qualquer tentativa de equilíbrio: não existe modelo sustentável quando a inflação da saúde se move em velocidade estruturalmente superior à economia real.

E esse descompasso não fica preso em macroeconomia. Ele se materializa no dia a dia, no atrito operacional e na erosão invisível de valor. Estudos e análises técnicas amplamente aceitas no mercado, incluindo referências do IESS, mostram que entre 10% e 30% das contas hospitalares sofrem glosa — grande parte evitável. Isso não é detalhe operacional. É vazamento contínuo de sustentabilidade financeira que se repete, mês após mês, em escala sistêmica.

Quando olhamos o que a tecnologia já permite hoje, a urgência fica ainda mais evidente. Pesquisa global da Deloitte (2025) mostra que mais de 70% dos C-levels de sistemas de saúde no mundo vão priorizar eficiência e produtividade como agenda estratégica imediata este ano, e cerca de 90% esperam aceleração de tecnologias digitais no setor. Isso reforça um ponto que, para mim, precisa ser reposicionado no debate brasileiro: IA, automação inteligente e dados estruturados não são “modernização”. São instrumentos para reequilibrar o sistema e reconstruir racionalidade econômica.

É exatamente nessa interseção — finanças da saúde, previsibilidade e dados — que reside o ponto de virada da sustentabilidade. Quando cada etapa, da recepção ao pós-faturamento, passa a ser monitorada em tempo real e sustentada por dados confiáveis, o hospital não apenas reduz glosas e retrabalho: ele ganha previsibilidade de receita, fortalece sua sustentabilidade financeira e libera energia para focar no cuidado ao paciente. Transformar o ciclo de receita em um fluxo preventivo, integrado e inteligente não é mais uma vantagem competitiva opcional; é um movimento essencial para instituições que querem sobreviver a margens cada vez mais pressionadas, garantir liquidez e investir onde realmente importa: em qualidade assistencial e inovação.

A sustentabilidade da saúde suplementar exige que tenhamos coragem de deslocar a conversa. Não é só sobre eficiência clínica. É sobre eficiência transacional. É sobre tratar o ciclo de receita como motor estratégico — e não como centro de fricção, ruído e perda.

E é nesse sentido que acredito que entramos em um ciclo decisivo. O setor tem, pela primeira vez, tecnologia suficiente para reconstruir confiança e ajustar incentivos de forma inteligente, escalável e transparente. Agora, o que falta é maturidade coletiva para colocar isso como prioridade imediata — e não como agenda periférica.

Se queremos sustentabilidade real, não podemos mais tratar inovação como fronteira experimental. Precisamos tratá-la como fundamento econômico. E essa transformação precisa começar agora.


*Bruno Lee é diretor de operações da Osigu no Brasil.

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