O papel do Supply Chain na experiência do paciente

Por Gláucio Dias

Em um hospital, cada decisão tomada vai além dos processos internos — ela afeta diretamente a vida dos pacientes. A gestão eficiente do Supply Chain hospitalar, responsável por garantir a disponibilidade de materiais, medicamentos e equipamentos, é um dos pilares fundamentais para a qualidade do atendimento e a experiência do paciente. Ainda assim, essa área crucial permanece pouco visível e frequentemente subestimada, especialmente aos olhos do público.

Agora, imagine um paciente chegando para uma cirurgia de urgência e descobrindo que o procedimento precisará ser adiado por falta de materiais ou equipamentos cirúrgicos. Ou um hospital sem um medicamento essencial ou insumos básicos para a atenção de emergência.

Não são situações hipotéticas. Um estudo da Association of PeriOperative Registered Nurses (AORN) constatou que 23% das cirurgias nos EUA são impactadas por problemas de disponibilidade de materiais cirúrgicos. No Brasil, um relatório do Conselho Federal de Medicina (CFM) apontou que, em 2023, 8 em cada 100 cirurgias eletivas foram suspensas devido à falta de insumos básicos, como fios de sutura ou anestésicos.

Esses exemplos ilustram o que acontece quando o gerenciamento do Supply Chain falha. Apesar de silenciosa, essa área exerce uma influência gigantesca no cuidado de saúde, desempenhando um papel chave na segurança, eficiência e satisfação dos pacientes.

O Supply Chain como base do atendimento hospitalar

A cadeia de suprimentos hospitalar garante que todos os recursos necessários para atender os pacientes estejam disponíveis no momento certo, no local certo e com qualidade assegurada. Essa gestão envolve desde a aquisição de insumos e medicamentos até transporte, armazenamento e distribuição interna dentro dos hospitais.

Quando bem estruturado, o Supply Chain assegura que médicos e enfermeiros possam focar exclusivamente no cuidado ao paciente, sem interrupções ou atrasos causados por indisponibilidade de materiais.

Nos últimos anos, pacientes têm passado a exigir mais do sistema de saúde, priorizando qualidade, eficiência e dignidade no atendimento. É nesse cenário que a gestão eficiente da cadeia de suprimentos atua como um elo invisível, mas crucial. Afinal, a experiência do paciente não se resume apenas ao atendimento humano prestado por médicos e enfermeiros. Ela envolve o tempo de espera para receber tratamentos, a segurança de que os medicamentos são os corretos, a disponibilidade de equipamentos em situações críticas e até mesmo a confiança de que as instalações estão bem cuidadas.

Estudos recentes corroboram essa importância. Segundo a Press Ganey, uma das principais consultorias de satisfação do paciente, hospitais que reportam melhores índices de eficiência no Supply Chain também registram 12% mais satisfação entre os pacientes. Isso porque materiais em falta ou atrasos em tratamentos costumam gerar frustração e nervosismo, sentimentos que podem prejudicar a percepção do cuidado recebido.

Os desafios e custos de uma gestão ineficiente

O Supply Chain é um dos setores mais complexos e onerosos de um hospital. Ele representa, em média, 30% a 40% dos custos operacionais, ficando atrás apenas da folha de pagamento. No entanto, sua má gestão pode gerar desperdícios e prejuízos ainda maiores.

De acordo com a Healthcare Financial Management Association, até 15% dos produtos hospitalares comprados anualmente são desperdiçados devido à expiração de validade, má gestão de estoques ou armazenamento inadequado. Essas falhas não apenas geram perdas financeiras, mas também impactam diretamente a segurança do paciente, levando à falta de itens essenciais nos momentos mais críticos.

Além disso, hospitais com gestão ineficaz de suprimentos têm maior risco de erros na administração de medicamentos, já que a falta de organização pode levar ao uso inadequado de materiais ou à substituição de insumos por alternativas menos eficazes.

Dessa forma, o Supply Chain hospitalar não é apenas uma questão financeira, mas também um fator crítico de segurança para pacientes e profissionais da saúde.

Inovação e o futuro do Supply Chain hospitalar

Felizmente, a gestão da cadeia de suprimentos hospitalar está evoluindo. Ferramentas para digitalização de processos, redução de esforços manuais e aprimoramento da inteligência estão sendo gradualmente implementadas para prever demandas com precisão, monitorar estoques em tempo real e até mesmo rastrear medicamentos sensíveis, como vacinas, por meio de dispositivos conectados.

Além disso, práticas de sustentabilidade têm ganhado espaço. O desperdício de materiais hospitalares é uma preocupação não apenas financeira, mas também ambiental. Hospitais que adotam políticas de logística reversa, priorizam produtos reutilizáveis ou otimizam o uso de seus recursos contribuem tanto para a saúde financeira da instituição quanto para a construção de um planeta mais responsável.

Casos de sucesso ao redor do mundo evidenciam os benefícios dessas transformações. Um exemplo disso foi o hospital Kaiser Permanente, nos Estados Unidos, que adotou sistemas preditivos em sua cadeia de suprimentos, resultando em uma disponibilidade contínua de equipamentos críticos durante a pandemia de covid-19. Da mesma forma, hospitais brasileiros, como o Albert Einstein, em São Paulo, têm utilizado tecnologias como RFID (Identificação por Radiofrequência) para localização de equipamentos médicos e monitoramento da temperatura de geladeiras.

Conclusão: Supply Chain é saúde, segurança e eficiência

O Supply Chain hospitalar pode operar silenciosamente nos bastidores, mas seu impacto na qualidade do atendimento e na segurança do paciente é inegável.

Investir em gestão otimizada e modernização tecnológica não deve ser visto como um diferencial competitivo, mas como uma necessidade para qualquer hospital que busca eficiência, segurança e sustentabilidade.

Se queremos hospitais mais humanizados, preparados e eficientes, precisamos valorizar e priorizar a gestão da cadeia de suprimentos. Afinal, o Supply Chain não é apenas uma operação técnica; é uma ponte que conecta recursos a necessidades, garantindo que o cuidado ao paciente seja mais do que apenas um ideal – que seja, de fato, uma realidade.


*Gláucio Dias é cofundador da GTPLAN.

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