‘Supermeres’ podem trazer pistas para câncer, Alzheimer e Covid-19
Pesquisadores do Vanderbilt University Medical Center descobriram uma nanopartícula liberada das células, chamada de “supermere”, que contém enzimas, proteínas e RNA associados a vários cânceres, doenças cardiovasculares, doença de Alzheimer e até Covid-19.
A descoberta, relatada na Nature Cell Biology, é um avanço significativo na compreensão do papel que as vesículas e nanopartículas extracelulares desempenham no transporte de “mensagens” químicas importantes entre as células, tanto na saúde quanto na doença.
“Identificamos uma série de biomarcadores e alvos terapêuticos no câncer e potencialmente em vários outros estados de doença que são carga nesses supermeres”, disse o autor sênior do artigo, Robert Coffey, MD. “O que resta a fazer agora é descobrir como essas coisas são liberadas.”
Coffey, professor de pesquisa do câncer de Ingram e professor de medicina e biologia celular e do desenvolvimento, é conhecido internacionalmente por seus estudos sobre câncer colorretal. Sua equipe está atualmente explorando se a detecção e o direcionamento de nanopartículas específicas do câncer na corrente sanguínea podem levar a diagnósticos mais precoces e a um tratamento mais eficaz.
Em 2019, Dennis Jeppesen, ex-pesquisador do laboratório de Coffey e agora instrutor de pesquisa em Medicina, usou técnicas avançadas para isolar e analisar pequenas vesículas extracelulares fechadas por membrana chamadas “exossomos”.
Naquele ano, usando ultracentrifugação de alta velocidade, outro dos colegas de Coffey, Qin Zhang, professor assistente de pesquisa em Medicina, desenvolveu um método simples para isolar uma nanopartícula chamada “exômero” que não possui um revestimento superficial.
No estudo atual, Zhang pegou o “sobrenadante”, ou fluido que permanece depois que os exômeros foram girados em um “pellet”, e girou o fluido mais rápido e por mais tempo.
O resultado foi um pellet de nanopartículas isoladas do sobrenadante do spin do exômero — que os pesquisadores chamaram de supermeres. “Eles também são superinteressantes”, brincou Coffey, “porque contêm muitas cargas que se pensava estarem em exossomos”.
Por um lado, os supermeres carregam a maior parte do RNA extracelular liberado pelas células e que é encontrado na corrente sanguínea. Entre outras propriedades funcionais, os supermeres derivados do câncer podem “transferir” a resistência às drogas para as células tumorais, talvez através da carga de RNA que eles entregam, relataram os pesquisadores.
Supermeres são importantes carreadores de TGFBI, uma proteína que em tumores estabelecidos promove a progressão tumoral. TGFBI, portanto, pode ser um marcador útil em biópsias líquidas para pacientes com câncer colorretal, observaram os pesquisadores.
Eles também carregam ACE2, um receptor de superfície celular que desempenha um papel nas doenças cardiovasculares e é o alvo do vírus da Covid-19. Isso levanta a possibilidade de que o ACE2 transportado por supermeres possa servir como um “chamado” para ligar o vírus e prevenir a infecção.
Outra carga potencialmente importante é a APP, a proteína precursora da beta-amiloide implicada no desenvolvimento da doença de Alzheimer. Supermeres podem atravessar a barreira hematoencefálica, sugerindo que sua análise pode melhorar o diagnóstico precoce ou possivelmente até mesmo o tratamento direcionado da doença.
“A identificação dessa rica infinidade de moléculas bioativas, levanta questões interessantes sobre a função dos supermeres e aumenta o interesse no potencial dessas partículas como biomarcadores de doenças”, observaram pesquisadores da Universidade de Notre Dame em uma revisão publicada com o artigo.
*Rubens de Fraga Júnior é professor titular da disciplina de gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná. Médico especialista em geriatria e gerontologia pela SBGG.