Estudo indica alta prevalência de sífilis em Porto Alegre

Em um intervalo de dois anos – entre agosto de 2021 e outubro de 2023 –, o estudo SIM, liderado pelo Hospital Moinhos de Vento em parceria com o Ministério da Saúde via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), identificou que a taxa de pessoas com sífilis ativa em Porto Alegre foi de 3,74%. Isso corresponde a 1.870 casos a cada 100 mil habitantes por ano – muito superior às taxas de notificação oficiais. Os resultados do projeto foram divulgados pelo Hospital nesta segunda-feira (11).

O SIM – Saúde, Informação e Monitoramento de IST – é um ensaio clínico randomizado que visa avaliar duas estratégias diferentes para aumentar a adesão ao tratamento e ao monitoramento da sífilis. Uma delas usa a técnica de gamificação por meio de um jogo. A segunda se dá via ligações telefônicas. Os participantes recebem lembretes para realizarem as doses de penicilina, fazer exames de acompanhamento e informar parceiros. As duas intervenções são comparadas ao tratamento convencional na unidade de saúde. Foram convidados a participar do estudo pessoas com teste confirmatório para sífilis reagente.

Para encontrar essas pessoas, as equipes realizaram testagem da população de Porto Alegre. Os testes eram aplicados em uma unidade móvel, alocada em áreas de grande circulação – como o Centro Histórico e o Parque da Redenção, com acesso espontâneo dos participantes. Além de responder um questionário, eram submetidos a testes de sífilis, de HIV e das hepatites B e C. Se o resultado fosse positivo para sífilis reagente (ou seja, aponta que já houve contato com a sífilis ou que o vírus está ativo), as pessoas realizavam a coleta de sangue para confirmação do diagnóstico e a primeira dose de penicilina já no local.

Durante o período do estudo – entre agosto de 2021 e outubro de 2023 – foram realizados 10.878 testes de sífilis, HIV e hepatites B e C. Entre os testados, 55,7% eram mulheres. O percentual de testes rápidos reagentes para sífilis foi de 14,3%. Das 10.878 pessoas, 1.559 tiveram resultados reagentes positivos. A partir daí, esses indivíduos foram procurados pela equipe de pesquisa para que fizessem o exame de sangue, a fim de confirmar o resultado. No total, 1.053 pessoas passaram pela segunda etapa, resultando em 543 exames positivos. Como alguns resultados foram discordantes, as amostras foram submetidas ao teste TPHA, mais sensível e específico, que apontou 407 casos de sífilis ativa em Porto Alegre.

“Encontramos taxas muito altas de sífilis na população de Porto Alegre. Quando se compara com o Boletim Epidemiológico nº 86, da Secretaria Municipal da Saúde, com índices de 135,5 casos a cada 100 mil habitantes em 2021, e de 52,7 em 2022, o estudo SIM encontrou 1.870 casos por 100 mil habitantes. É um número bastante significativo, que mostra o quanto ainda não diagnosticamos a sífilis. O que vemos nos boletins é só uma ponta do iceberg”, destaca a investigadora principal do SIM, a médica epidemiologista do Hospital Moinhos de Vento Eliana Wendland.

Além disso, os dados mostram que a doença é um agravo de determinação social. “Em geral, são homens, autodenominados pretos ou pardos, das classes sociais mais baixas (C ou D-E), com menos de 45 anos, separados, divorciados ou viúvos. O uso de preservativo foi extremamente baixo entre os positivos – somente 9% disseram usar”, destaca Eliana. Como o diagnóstico de sífilis é cumulativo ao longo dos anos, as taxas de infecção entre pessoas com mais de 60 anos é alta, representando 19,3% dos testes rápidos reagentes.

“São pessoas mais vulnerabilizadas, mais pobres, pretas e pardas, com menor escolaridade, menor renda, e que acabam tendo um estigma muito grande. O uso de preservativo é baixíssimo e aí entendemos porque as pessoas continuam tendo sífilis: não conseguimos quebrar a cadeia de transmissão porque as pessoas não previnem a doença”, explica Eliana. Entre os participantes do estudo, apenas 51% completaram o tratamento.

Para curar a sífilis, o tratamento é simples – e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Consiste em uma dose de penicilina benzetacil, que pode ser aplicada em qualquer unidade básica de saúde.

Eliana Wendland

HIV e hepatites B e C

As outras doenças que foram investigadas no estudo SIM tiveram percentuais menores nos testes rápidos reagentes: HIV, de 2,8%; hepatite C, de 2,6%; e hepatite B, de 0,3%.

Dos 10.878 participantes do estudo, 293 (2,78%) tiveram teste rápido reagente positivo para HIV. A partir daí, foram submetidos a um segundo teste, para analisar a carga viral do vírus. No total, 131 (1,21%) das pessoas estão com carga viral de HIV ativa – ou seja, não estão fazendo nenhum tipo de tratamento.

Para hepatite C, dos 10.878 participantes do estudo, 290 (2,678%) tiveram teste rápido reagente positivo para hepatite C. Para saber a carga viral, é necessário fazer um exame adicional. No total, 81 (0,74%) das pessoas estão com carga viral de hepatite C ativa.

No caso da hepatite B, somente 36 (0,34%) pessoas tiveram o teste rápido reagente positivo. A análise da carga viral foi feita em 31 indivíduos, e foi detectada a carga viral ativa em 28 (0,26%) dessas pessoas.

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